Sempre ‘sorridente’, o bicho-preguiça também pode ser considerado um dos animais ‘de boa’ da Amazônia
Ela é a verdadeira ‘Miss Simpatia’ da Amazônia. Aliás, não só da Amazônia, mas da América do Sul e Central, onde é encontrada. Sempre ‘sorridente’, por causa da boca em forma de semicírculo que atravessa o ‘rosto’ de lado ao outro, o bicho-preguiça também pode ser considerado um dos animais ‘de boa’ da Amazônia: se alimenta de folhas, gosta de dormir, é desengonçado e também sabe nadar.
O registro da ‘preguiça nadadora’ foi realizado pelo empresário Diogo Vasconcelos, proprietário de um restaurante flutuante, localizado no rio Tarumã-Açu em Manaus. Diogo, que mora em uma casa também flutuante ao lado do restaurante, conta que é comum os bichos visitarem o local. “As preguiças aparecem aqui com muita frequência, não só aqui em casa como no restaurante. Neste caso, não deixo os frequentadores assediarem elas, pois a preguiça está no seu habitat natural. Elas aparecem e aqui e depois vão embora com a mesma tranquilidade. Não acho legal que fiquem pegando os bichos”, diz.
Curiosidades
Por ser um animal pacífico, sua única defesa contra os predadores (onças, harpias, cobras) é a camuflagem. Mesmo com longas garras, o metabolismo é lento, o que a impede de ter agilidade para se defender. Assim, sua importância para o meio ambiente é o fato de que auxilia outras espécies, como besouros, que a utilizam como meio de transporte, além de ajudar a semear a floresta ao carregar as plantas de uma árvore para outra durante sua locomoção.
Em câmera lenta
Ainda que nadando as preguiças sejam ágeis, quando os humanos sentem alguma indisposição, logo comparam ao comportamento do bicho-preguiça, por seu jeito naturalmente ‘lento’. Mas, além dessa aparente característica, o que mais sabemos sobre esse simpático mamífero? Comumente visto em fotografias de turistas no Amazonas, o Portal Amazônia conversou com especialistas para descobrir de onde surgiu tanta fama e outras curiosidades sobre o animal.
Filhotes são dependentes das mães. Foto: Pedro Nassar/Cedida
Ameaças
De acordo com a bióloga do Instituto de Proteção Ambiental do Amazonas (Ipaam), Yara Gonçalves, é possível encontrar estes animais em florestas tropicais da América do Sul, América Central e Mata Atlântica. Segundo Yara, existem cinco espécies, divididas em duas famílias:
Bradypodidae (os que possuem três dedos em cada braço)
Bradypus variegatus – Preguiça Comum
Bradypus tridactylus – Preguiça-de-Bentinho
Bradypus torquatus – Preguiça-de-coleira
Megalonychidae (os que têm dois dedos)
Choloepus hoffmanni – Preguiça-de-dois-dedos
Choloepus didactylus – Preguiça-real
“Em Manaus nós temos duas espécies: Choloepus didactylus, conhecida como preguiça-real, que possui um comportamento mais agressivo e possui somente dois dedos. A outra espécie é a Bradypus tridactylus, que possui três dedos, conhecida como preguiça-de-bentinho e tem um comportamento mais dócil quando comparado à outra”, explicou.
As preguiças estão entre os animais mais resgatados pelo Ipaam: em 2015, foram 158, e em 2016, 85. Em janeiro de 2017, cinco preguiças foram resgatadas. “A maioria dos resgates é realizado com preguiças saudáveis, que estavam em deslocamento, por busca de um novo local para alimentação ou em busca de parceiros”, informou.
A explicação para o grande número de preguiças resgatadas é que, com a área urbana crescente, muitas vezes esses animais acabam ‘ilhados’ em árvores isoladas, pela perda de seu habitat natural. “Outro grande problema que acontece com esses animais é a eletrocussão nos fios de alta tensão da cidade. São animais que ficam na copa das árvores, e durante sua locomoção, podem, por acidente, se machucarem nos fios de corrente elétrica”, avisa Yara.
Preguiça não é atração turística
Por ser dócil, e ter sempre um ‘sorriso amigável’, a preguiça-de-bentinho, é vista em diversos locais pela Amazônia como atração turística. O biólogo do Instituto Mamirauá, Pedro Nassar, acredita que a prática deve ser evitada.
“Eu defendo um turismo que mantenha os animais em seus lugares. Hoje em dia, com grandes câmeras e binóculos, conseguimos achar e vê-los facilmente em seu habitat, não gosto de pegar os animais, tirar do seu habitat para mostrar. Pode até ter um papel na educação ambiental, mas acho um estresse para o animal sem justificativa”, defendeu.
Nassar diz que entende que por ser dócil, a preguiça-de-bentinho faz sucesso nas áreas de turismo, mas que manter o animal fora de seu local é prejudicial a sua sobrevivência. “De modo geral os animais não atacam por qualquer coisa, apenas quando se sentem ameaçados, tipo mães com cria. A preguiça real é maior e mais forte que a bentinho e é mais agressiva de acordo com a literatura. Naturalmente, se está em um habitat equilibrado ele não ataca. Ser humano e preguiça não competem e mal se encontram, então não deviam ser usadas para este fim”, destacou.