Uma árvore chamada Brosimum rubescens, conhecida como Pau-Brasil-do-interior, forma florestas de uma só espécie, como se fosse um bosque europeu.
Uma árvore chamada Brosimum rubescens, conhecida como Pau-Brasil-do-interior, forma florestas de uma só espécie, como se fosse um bosque europeu. Os pesquisadores ainda não sabem explicar porque acontece este fenômeno, chamado monodominância, que é raríssimo nos trópicos. Os mistérios desta floresta e sua rara condição, que vêm sendo investigados por professores da Universidade do Estado do Mato Grosso (Unemat) há mais de 20 anos, receberam reforços de alunos e professores do Programa de Pós-Graduação em Ecologia e Conservação da própria universidade.
O time de pesquisadores contribuiu para mais avanços na tentativa de desvendar o fenômeno da floresta de uma só espécie. Os alunos de doutorado Igor Araújo, Angélica Müller, Lucas Mariano e Facundo Alvares, sob orientação do professor Paulo Morandi, verificaram pela primeira vez que estruturas das folhas, como tamanho e espessura, podem estar relacionadas à monodominância.
O trabalho, que resultou em um artigo científico ‘Leaf functionaltraits and monodominance in Southern Amazonia tropical forests‘ (Atributos funcionais da folha e monodominância em florestas tropicais do Sul da Amazônia), publicado pela revista científica Plant Ecology, foi baseado na análise das células e tecido vegetal realizada pela aluna Angélica Müller no laboratório de Anatomia Vegetal de Alta Floresta, sob a supervisão da professora Ivone Vieira da Silva.
Os autores revelam que a alta adaptabilidade das folhas ao clima pode ser uma condição importante para a persistência da espécie na condição de monodominância ao longo do tempo.
A pesquisa mostrou que o pau-brasil-do-interior apresentou diferentes estratégias para estabelecer e manter sua população nas florestas monodominantes, o que a torna um forte competidor por recursos, como água e luz, por meio da variação em seus atributos foliares.
Segundo os autores, o aumento da temperatura e a seca no Sul da Amazônia podem aumentar a mortalidade de indivíduos de B. rubescens na floresta monodominante, pois esses indivíduos apresentam características foliares que são menos tolerantes à seca e altas temperaturas e, portanto, podem ser afetados negativamente pelas mudanças climáticas futuras, que poderão alterar esta floresta.
O estudo foi sugerido pelo professor Paulo Morandi durante a disciplina de Ecologia de Florestas Tropicais no Programa de Ecologia e Conservação (PPGEC) da Unemat de Nova Xavantina, ministrada em conjunto com o professor Ben Hur Marimon.
Segundo Paulo Morandi, “entender a ecologia das florestas tropicais é um desafio constante, principalmente quando se trata de florestas monodominantes, e este estudo mostra que ainda temos muito trabalho pela frente.”