Pesquisa investiga quais estratégias de defesa plantas feridas aplicam contra predadores

Pesquisa da Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT) explora esse tipo de comportamento em tomates.

É evidente para muitas pessoas que traumas são capazes de afetar o crescimento de qualquer um. Mesmo pensando em “traumas” em um sentido mais restrito – um machucado –, como a mordida de um cachorro ou o arranhão de um gato, que fazem com que mudemos nosso comportamento perto desses animais como forma de nos defendermos.

As ciências da mente trazem diferentes explicações para o fenômeno, muitas delas coerentes a partir de perspectivas diferentes, como quase todo o conhecimento construído sobre o ser humano. As ciências da ‘natureza’, entretanto, começam a demonstrar que a dualidade ‘defesa VS crescimento’ é bem real até mesmo no reino das plantas, esses seres vivos tão radicalmente diferentes de nós.

Uma pesquisa, desenvolvida no Instituto de Biociências (IB) da Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT), demonstrou – a partir de experimentos com tomates – que existe uma relação de “defesa VS crescimento” nas plantas.
Foto: Divulgação/ UFMT

Em termos práticos, quando uma planta é atacada por uma lagarta, por exemplo, seus hormônios reagem para que ela diminua seu ritmo de crescimento. “A gente já sabe há muito tempo que quando plantas são lesionadas elas ativam respostas de defesa. Mas só agora a gente tá vendo que essas respostas de defesa vem às custas de crescimento”, explica o professor Marcelo Lattarulo Campos, um dos pesquisadores envolvidos.


Para chegar nessas conclusões, os pesquisadores plantaram quatro grupos de tomates em um ambiente controlado (na medida do possível). Dois grupos eram de tomates normais e dois grupos eram de uma variação de tomate sem um hormônio chamado Jasmonato.

Um dos grupos não sofreu nenhum machucado: é o grupo “controle”, que tem o objetivo de demonstrar o crescimento esperado da planta. O outro grupo, depois de 25 dias de plantado, teve as folhas machucadas com uma pinça hemostática adaptada (aquelas usadas em cirurgias), e essa foi a única diferença entre eles.

Aproximadamente 20 dias depois dos machucados serem feitos, os dois grupos foram comparados e os dados revelaram que os pés de tomate machucados eram menores, tinham menos folhas e as folhas que eles tinham eram menores, demoravam mais para florescer e tinham menos flores.

De acordo com Marcelo Campos, ainda não é possível responder o porquê das plantas se comportarem dessa forma, mas seu grupo tem uma hipótese.

“Entendemos que parar de crescer é uma estratégia de defesa porque, por exemplo, vamos supor que uma planta esteja sendo atacada por algum tipo de peste. Se ela continuar crescendo em meio a esse ataque, ela vai acabar dando mais comida para o predador. Então, parar de crescer pode ser uma forma de evitar um eventual dano futuro”,

explicou.

Foto: Divulgação/ UFMT

Plantas reagem coletivamente para defesa 

Nesse ponto, é claro, a dúvida que resta é: adianta? O pé de tomate atacado pode parar de crescer, mas a lagarta não vai desistir de comer ele por isso. “As plantas são muito espertas, cara! Isso não faz parte dessa pesquisa, mas é um indício de como elas podem ter estratégias coletivas de defesa. Algumas plantas, quando atacadas, emitem gases que informam as plantas do lado sobre isso, aí essa planta também começa a reagir para se defender. É possível que as plantas parem de crescer para que a praga que pegou ela não tenha mais alimento ou energia para atacar as outras. É muito louco!”, completou o professor.

Mas a pesquisa ainda teve dois outros grupos de plantas. As plantas desses grupos são de uma variação em que há uma deficiência de produção do hormônio “jasmonato”, um grupo ficou de controle e o outro foi machucado no 25º dia.

“O jasmonato foi isolado pela primeira vez na Jasmim, por isso tem esse nome, e ele tem um papel muito importante nesse balanço entre defesa e crescimento. Não é o único. A gente ainda está engatinhando no entendimento dos mecanismos internos da planta que controlam isso, mas parecem ter mais hormônios envolvidos, como giberelinas e auxinas”, disse.

Nessas plantas o resultado foi bem diferente. Em observações feitas no 40º dia de vida, os grupos sem jasmonato cresceram mais que as plantas “normais”. As plantas sem jasmonato e que foram machucadas estavam maiores que as sem machucados.

“Por milhões de anos as plantas evoluíram ao lado de um enorme número de insetos herbívoros capazes de danificar o tecido verde. Nesse cenário, o distúrbio causado pelos machucados no balanço “crescimento VS defesa” possivelmente serve como uma estratégia ecológica para tornar as plantas mais resilientes e menos interessantes para um agressor em potencial”, concluiu.

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