Reinício das escavações podem identificar os vestígios do dinossauro até então desconhecido. Foto: IFMA
O pacato vilarejo de Conceição, localizado no município de Coroatá, Maranhão, recebe uma expedição científica internacional em busca de novos fósseis, após a descoberta na região de uma nova espécie de dinossauro, o espinossauro. Os pesquisadores estarão em terras tupiniquins até o dia 14 de setembro.
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À frente dessa equipe está uma das maiores autoridades mundiais no estudo de dinossauros: o doutor Paul Sereno, da Universidade de Chicago, além de professores e estudantes do Instituto Federal do Maranhão (IFMA). Um pesquisador do Instituto teve papel fundamental nessa descoberta, o professor Rafael Lindoso, do Campus São Luís – Monte Castelo, que já havia atuado no projeto que catalogou, em 2019, outro gigante maranhense: o Itapeuasaurus cajapióensis.

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“Estou muito animado com esta expedição, porque agora vocês encontraram ossos aqui, o que é sempre divertido. Ossos de dinossauro novinhos em folha. Encontramos alguns que vocês também podem ver. O Maranhão tem muitos ossos de dinossauros, tem uma história para contar e está começando a ganhar destaque agora. Então, é um momento realmente emocionante para os cientistas e para o público também”, disse o doutor Paul Sereno.
Sereno explicou qual é o próximo passo da pesquisa. “O próximo passo é limpar os ossos e visualizá-los, capturá-los em três dimensões. E então juntar o esqueleto, estudá-lo e fazer um anúncio. Vocês vão ouvir sobre isso porque este é um dinossauro espinossauro muito interessante que estamos obtendo às margens do Rio Itapecuru. Acreditamos que será um dos dinossauros mais famosos do Brasil”, disse.
O professor Rafael Lindoso explicou que esse local com fósseis onde a expedição está nesse momento foi descoberto em 2016, a partir de uma expedição conjunta entre o Instituto Federal do Maranhão e a Universidade Federal do Maranhão. “Descobrimos restos de um animal realmente espetacular e inédito para o Brasil e para América do Sul. Hoje, depois de alguns anos de estudo, nós descobrimos que ele é o indivíduo mais completo já descoberto em toda a América do Sul, depois de alguns espécimes terem sido destruídos durante o incêndio no Museu Nacional”.

E realmente essa descoberta é espetacular. Por volta de 2018, depois de uma visita ao Laboratório do Paul [Sereno] para inventariar esse material – e de algumas conversas – o professor Rafael convenceu Sereno a vir ao Maranhão, para fazer uma nova escavação. “A gente tem observado novos elementos fósseis que nos permitirão compreender melhor esses ambientes do passado”, detalhou Lindoso.
A pesquisa é ímpar e traz um impacto ainda não vivenciado no país. “Nós temos um animal hoje na paleontologia que é motivo de grande debate: o espinossauro. Tem causado polêmica, porque – pela primeira vez – os paleontólogos têm se deparado com um animal que tem adaptações em torno de um animal semi-aquático, por vezes alguns paleontólogos debatendo se o animal seria um mergulhador de grandes profundidades e, talvez, esse nosso material, traga luz para essa questão tão amplamente debatida no mundo”, refletiu.
O professor do IFMA falou, ainda, sobre a rotina da equipe de pesquisadores. “A gente leva meses para se organizar. Através de mapas geológicos, a gente define os locais de coleta, a gente busca referências, estudos de descobertas prévias a respeito dessa família de animais”.

“Tem todo um trabalho logístico. É muito complicado, que envolve desde a burocracia até a organização de aluguéis de carros e de botes, aferição da profundidade do rio, se está adequado ou não, e isso leva muito tempo. Foram várias reuniões ao longo desses últimos meses para que a gente pudesse então chegar em campo, montar um acampamento base, organizar os locais para a compra de combustível, para água, suficiente para manter uma equipe dessa por uma semana, às vezes duas semanas”, detalhou.
Umas das bolsistas no projeto da expedição e aluna do curso de Biologia do Campus São Luís – Monte Castelo, Thaiane Almeida, reconhece que o grupo, de certo modo, está fazendo história. “É muito importante para contribuir na história dessa construção evolutiva mesmo desses animais, para compreender melhor como eram eles aqui. Como era a morfologia (estudo da anatomia) deles e como isso afeta todos os aspectos do desenvolvimento evolutivo. Como estudante de Biologia, é extremamente gratificante estar aqui para poder contribuir com essa história, com esses achados. É extremamente extraordinário estar conseguindo trabalhar com toda essa equipe, que é uma equipe fantástica, conta com profissionais excelentíssimos, tanto brasileiros quanto estrangeiros”, concluiu.
*Com informações do Instituto Federal do Maranhão (IFMA)
