Último sobrevivente de etnia desconhecida é encontrado morto

“Índio do Buraco” foi descoberto pela Funai há 25 anos em Rondônia.

Sem nome e nem definição quanto a sua língua e matiz étnica, assim foi o “Índio do Buraco”. Nesta quarta-feira (24/8) o indígena foi encontrado morto, em uma rede de dormir, na Terra Indígena Tanaru em Corumbiara (sul de Rondônia). Não havia sinais de luta ou de morte violenta no entorno dele, segundo divulgou a Funai (Fundação Nacional do Índio). A Polícia Federal esteve no local. O corpo foi removido para o IML (Instituto Médico Legal) de Porto Velho (RO).

Na década de 1990 os indigenistas Marcelo Santos e Altair Algayer trabalhavam na Frente de Contato da Funai em Rondônia quando souberam da existência do indígena isolado.

Imagem de quando indígena foi contatado. Foto: Reprodução de VHS/Vincent Carelli

A partir de 1996 houve tentativas de contato. Mas o indígena refutava e recebia funcionários da Funai a flechadas. Por onde passava, o misterioso sobrevivente deixava um buraco que lhe servia de esconderijo ou era usado por motivos religiosos; razão pela qual ficou conhecido como “Índio do Buraco”.

Na época em que foi descoberto, o indígena foi tema de inúmeras reportagens pelo mundo, sendo tratado como “o homem mais solitário do Planeta”. O jornalista norte-americano Monte Reel, do The Washington Post, publicou o livro traduzido no Brasil com o título ‘O último da tribo’.

Memorial

Hoje residindo no estado de Goiás, o indigenista Marcelo Santos comentou neste sábado (27) sobre a morte do “Índio do Buraco”. Ele defendeu que o corpo deveria ser enterrado onde sempre viveu e que no local seja construído em memorial. “O indígena foi vítima de um genocídio que ainda não foi esclarecido”, afirmou, ressaltando que ele merece ter sua história respeitada.

No Facebook, Marcelo registrou assim seu sentimento: “Lá se foi o ‘Índio do Buraco’ e sua saga de ser o último do seu povo, a quem proporcionamos depois de muita luta em campo e na Justiça, seu direito à vida e à terra. Foram mais de duas décadas monitorando suas andanças e roçados, respeitando sua decisão de continuar isolado. Muito triste essa história, muito mesmo”.

Solidão

O “Índio do Buraco” certamente temia pela sua vida, daí a recusa de manter contados com a civilização dominante. Há relatos da Funai de que indígenas isolados foram mortos na região com arsênico colocado nos alimentos deixados em meio da floresta. Por isso, ele nunca aceitou comida deixada pelos sertanistas e vivia como nômade na área interditada para protegê-lo, com cerca de 8 mil hectares.  

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