Kim-Ir-Sen Pires Leal e sua obra: uma contribuição para a história. Foto: Divulgação
Por Júlio Olivar – julioolivar@hotmail.com
O repórter fotográfico goiano Kim-Ir-Sen Pires Leal acaba de lançar o livro “Rondônia em Imagens”, retratando um período que vai do final da década de 1970 ao início da década de 1980. A obra apresenta cerca de 200 imagens em cores e em preto e branco, com cenas inusitadas e impactantes de um tempo bem diferente, em que estado recebia milhares de migrantes que chegavam a todo momento, em sua maioria a bordo de paus-de-arara e ônibus.
As fotografias capturam paisagens de povoados em construção, com seus casarios de madeira e ruas empoeiradas, e trazem intrinsecamente várias críticas sociais e a capacidade de resistência do povo brasileiro. O autor considera que o conteúdo seja “antropológico social”. No entanto, as imagens também são obras de arte, com beleza plástica em cada composição, feitas com muita qualidade técnica e poética nas capturas das máquinas analógicas. O único filtro utilizado foi o olhar acurado de Kim, um verdadeiro mestre da fotografia.
O principal foco da obra são as expressões das pessoas comuns: o engraxate, o homem encantado com o cinema, o barbeiro, a tristeza e alegria convivendo em simbiose. Gente incomum, aventureira e corajosa de um Brasil Profundo, vinda de várias partes do país cheias de esperança na vida nova representada pela ocupação desenfreada das terras de Rondon, que se transformou no estado de Rondônia em 1981.
O livro surge como um importante documento histórico. Inclusive, com a fenda sobre os reflexos da onda migratória nas comunidades indígenas seculares, abandonadas à própria sorte diante da “civilização” que se instalou. O jornalista Montezuma Cruz produziu os textos explicativos — publicados em português e inglês — das fotografias; o projeto leva a assinatura da diretora de cinema Raíssa Dourado. Trabalhos de excelência de todos os envolvidos, resultando num belíssimo produto gráfico e editorial.
“A vovó agricultora e o menino debaixo da lona do caminhão em Vilhena, a mãe e as filhas buscando água em Espigão do Oeste retratam pessoas recebidas de braços abertos por Rondônia, que alcançaria em 1985 o seu primeiro milhão de habitantes; são fotos emblemáticas”, analisa Montezuma Cruz, um profundo conhecedor das entranhas rondonienses; ele atua no jornalismo local há meio século.
O livro foi contemplado pela Lei Rouanet, garantindo a publicação por meio do patrocínio do Grupo Energisa. Com isso, os exemplares serão distribuídos em todas as escolas públicas estaduais, além de estar disponível para download gratuito na internet. Confira:
“Eu temia a perda do acervo de cromos pela ação do tempo, e tudo o que aconteceu foi surpreendente; trabalhei esse tempo todo na recuperação e seleção de imagens e neste final de ano muito me alegro, finalmente, pela divulgação do livro”, diz Kim, durante sua visita a Porto Velho.
Sobre o autor
Júlio Olivar é jornalista e escritor, mora em Rondônia, tem livros publicados nos campos da biografia, história e poesia. É membro da Academia Rondoniense de Letras. Apaixonado pela Amazônia e pela memória nacional.
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