Ferrovia que originou Porto Velho completa 110 anos

Conheça a personagem da história que ficou órfã de pai e mãe no dia em que nasceu.

Nesta segunda-feira, 1º/8, fez 110 anos a inauguração da Estrada de Ferro Madeira-Mamoré (EFMM). A ferrovia simboliza a união de 50 países representados pelos 20 mil trabalhadores que atuaram na sua construção, encerrada em 1912, precedendo a cidade de Porto Velho surgida, oficialmente, dois anos depois.

A EFMM com seus 366 km ligando Porto Velho a Guajará foi assunto em jornais do mundo, que noticiaram a verdadeira odisseia humana na maior floresta tropical do Planeta que resultou em seis mil mortos durante os cinco anos de construção.

Locomotiva da Estrada de Ferro Madeira-Mamoré. Foto: Júlio Olivar

Uma personagem

Foram muitas as personagens que compuseram a história da ferrovia. Dona Maria Auxiliadora Lobo de Souza, de Porto Velho (RO), é protagonista de uma saga que parece roteiro de cinema. Ela ficou órfã de mãe no dia em que nasceu, em 19 de agosto de 1935. E seu pai, Antônio, a caminho do hospital para ver esposa e filha — sem saber que estava viúvo — acabou sofrendo um naufrágio e morrendo afogado no Rio Madeira.

Na época, era comum as crianças nascerem pelas mãos de parteira. Mas Deolinda estava com malária e internada no Hospital São José onde deu à luz. A jovem mãe morreu durante o parto.

A recém-nascida ficou no hospital administrado por freiras católicas durante três meses, sem que ninguém a reclamasse. Até que um carroceiro que atendia com seus préstimos o hospital foi ao quarto onde ela estava. Vendo-o, a criança abriu os braços, como se pedisse para ser levada dali. E foi mesmo, com autorização do bispo.

“Eu nunca vi meus pais nem por retrato. Meu sobrenome Lobo vem daqueles que me adotaram e cuidaram de mim”,

conta dona Maria.

Maria Auxiliadora: parte da história. Foto: Júlio Olivar

A menina estudou no colégio de freiras — o Instituto Maria Auxiliadora, de onde vem seu nome de batismo — até os 15 anos, teve ótima educação. Mas começou a trabalhar cedo. “Com oito anos eu já vinha aqui na Estrada de Ferro buscar óleo queimado para botar nas lamparinas” do colégio e de casa.

Depois, foi contratada pela própria EFMM, onde exerceu várias funções de 1953 a 1983, até aposentar-se. Na condição de ferroviária, começou como datilógrafa, tornou-se escriturária e agente administrativa na tesouraria e na área de recursos humanos.

Quando Dona Maria Auxiliadora nasceu, em 1935, a atual capital de Rondônia ainda era uma cidadezinha fincada ao sul do estado do Amazonas, na divisa com Santo Antônio do Rio Madeira — cidade mato-grossense oficialmente extinta em 1945, quando sua área foi incorporada ao nascente território federal do Guaporé, antigo nome de Rondônia.

Vivia Porto Velho, basicamente, em torno da EFMM e da extração do látex, sendo esta segunda atividade que justificou a implantação da conhecida Ferrovia do Diabo — apelido dado em função do grande número de mortos que determinaram a instalação de um campo-santo na cidade-empresa: o Cemitério da Candelária, em cujo solo repousa gente de todos os continentes.

Dona Maria Auxiliadora é também guardiã desta história. Foi presidente da Associação de Amigos da EFMM cujo mister é manter vivo no imaginário e documentalmente um dos capítulos mais interessantes da história do Brasil e do mundo.

A foto

Na fotografia de 2013 aqui postada, dona Maria Auxiliadora aparece muito elegante e de fala fácil— então com 78 anos de idade e havia exatas seis décadas depois da sua admissão como ferroviária. Ao microfone, ela contou sua história emblemática. No dia da foto, a EFMM completava 101 anos e Auxiliadora foi homenageada como a mais antiga ferroviária.  

Sobre o autor

Às ordens em minhas redes sociais e no e-mail: julioolivar@hotmail.com . Todas às segundas-feiras no ar na Rádio CBN Amazônia às 13h20.

*O conteúdo é de responsabilidade do colunista


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