Ativistas do movimento ambiental Extinction Rebellion (Rebelião da Extinção) protestaram nesta segunda-feira (29/04) em Berlim contra o desmatamento da Amazônia. A manifestação apoiou os mais de 600 cientistas europeus que pediram para a União Europeia vincular as importações oriundas do Brasil à proteção do meio ambiente e dos direitos humanos.
“Compramos muitos produtos vindos do Brasil e temos a responsabilidade de dizer aos nossos líderes que não queremos esses produtos associados a danos ambientais ou abusos de direitos humanos do outro lado do mundo. Além disso, temos que tomar uma posição, principalmente, em relação ao impacto do desmatamento nas mudanças climáticas”, afirmou a zoóloga Claire Wordley, da Universidade de Cambridge, que organizou o protesto.
“Queremos lembrar os países europeus de suas responsabilidades. A UE tem uma ótima legislação para padrões ambientais e de direitos humanos, mas no momento eles são somente aplicados nos países europeus”, destacou Wordley, que também é uma das signatárias da carta apoiada por mais de 600 cientistas europeus, publicada na semana anterior na revista científica Science.
No manifesto, os pesquisadores pediram à União Europeia que faça um esforço maior para evitar importações do Brasil oriundas de regiões desmatadas ou de conflito agrário. No documento, o grupo destaca ainda a importância da Amazônia no combate ao aquecimento global.
Realizado diante do Portão de Brandemburgo, o protesto reuniu cerca de 40 pessoas, segundo a estimativa da polícia. Além de bandeiras com o símbolo da Extinction Rebellion, os ativistas levaram cartazes com dizeres: “Sem levante, sem futuro”, e fotografias de indígenas e da Floresta Amazônica.
Durante o ato, os ativistas destacaram a importância da Amazônia para o clima global e acusaram o presidente Jair Bolsonaro de promover uma política de destruição ambiental e de ameaça aos direitos dos povos indígenas. Os manifestantes também contestaram as alegações do ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, que, em entrevista à GloboNews, disse que o manifesto não tinha credibilidade e que escondia uma guerra comercial com o Brasil, além de supostos interesses econômicos dos cientistas.
“Não fazemos ideia quais seriam os interesses econômicos que o ministro falou que temos. Publicamos a carta porque estamos preocupados com a situação no Brasil. Estamos fazendo isso para o nosso futuro e para o futuro dos brasileiros, especialmente os indígenas”, ressaltou Wordley.
Ao comentar a alegação de Salles de que o Brasil seria um exemplo de preservação do meio ambiente, Wordley argumentou que os impactos negativos do desmatamento da Amazônia já pode ser sentido e que eles podem piorar se o desmatamento continuar. “As políticas precisam ser muito mais duras do que estão sendo. Não podemos mais arcar com a destruição da Amazônia e também de outros ecossistemas no Brasil”, afirmou.
A pesquisadora destacou que a iniciativa dos cientistas europeus não é para banir as importações oriundas do Brasil, mas para estimular um comércio responsável e sustentável, que não gere danos ambientais e abusos de direitos humanos. “Não queremos comer desmatamento no jantar”, disse.
Após a leitura da carta, os manifestantes homenagearam os ativistas ambientais mortos no Brasil. Foram lidos os nomes de ambientalistas assassinados no ano passado e de indígenas mortos nos últimos anos.
A Extinction Rebellion surgiu em 2018, quando milhares de manifestantes tomaram as ruas de Londres. Desde então, os “rebeldes da extinção” do Reino Unido ocuparam pontes sobre o Tâmisa e se despiram no Parlamento Britânico. O movimento já se expandiu para mais de 30 países ao redor do mundo.
Recentemente, o movimento parece ter conseguido um associado ilustre.Um grafite atribuído ao artista britânico Banksy com mensagem de apoio à causa foi descoberto num dos cruzamentos mais movimentados de Londres.