Foto: Nathalie Brasil/Fapeam
Avaliar formas que resultem na qualidade e, consequentemente, na valorização do óleo de andiroba (Carapa guianensis) no mercado, produzidos por cooperativas em grande parte da Amazônia brasileira, foram os objetivos principais de um estudo desenvolvido por pesquisadores do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa).
O estudo ‘Controle de qualidade do óleo de andiroba: autenticidade e avaliação de estabilidade’, coordenado pelo doutor em Química Orgânica Sergio Massayoshi Nunomura, pesquisador do Inpa, analisou quimicamente diferentes lotes de sementes e óleos de andiroba, coletados em diversas localidades do estado, a fim de investigar nos produtos as propriedades físico-químicas, a composição química e suas principais propriedades biológicas.
Segundo o pesquisador, a autenticidade e a estabilidade do óleo de andiroba estão associadas à composição saponificável composta de lipídeos (moléculas orgânicas insolúveis em água e que podem ser convertidas em sabão), e a fração insaponificável (moléculas orgânicas não lipídicas). Essas duas frações constituem quimicamente o óleo.
Durante a pesquisa amostras autênticas foram usadas como referência para avaliar a estabilidade oxidativa do óleo, que corresponde a um importante parâmetro utilizado para avaliação da qualidade de um óleo; e observou-se, claramente, que além dos parâmetros clássicos de análise de óleos vegetais como índice de acidez e peróxidos, e, principalmente, o perfil químico da fração saponificável alterou-se pelos efeitos da oxidação, que ocorre quando o óleo reage quimicamente com o oxigênio.
Por outro lado, não foi possível observar uma variação na fração insaponificável com a degradação por oxidação no modelo utilizado. Sergio Nunomura disse que foi interessante notar, também, que a degradação oxidativa pode ser drasticamente reduzida, quando se armazenou a andiroba não como óleo extraído, mas como farinha de sementes, que é uma etapa anterior a obtenção do óleo.
“Concluímos no laboratório quais são as características que estabelecem um óleo de qualidade e, também, aprendemos a produzir em laboratório um óleo de qualidade”, afirma o pesquisador, acrescentando que foi possível manter a qualidade do óleo de andiroba por vários meses, após a coleta das sementes.
Do ponto de vista científico e tecnológico, o principal resultado observado foi de que é possível armazenar o óleo de andiroba de uma forma relativamente simples, que resultou num produto com boa qualidade, isto é, sem alteração nos perfis químicos das frações saponificáveis e insaponificáveis, mesmo após meses de armazenamento. Experimentos em campo em maior escala, em cooperativas, por exemplo, devem ser conduzidos para confirmar esses resultados e adaptar para escalas maiores.
“Ainda existe uma etapa de aprendizado a ser vencida. A pesquisa foi realizada em laboratório e falta agora avaliar se a perda de qualidade do óleo produzido nas cooperativas tem a mesma natureza. Caso sim, é possível sugerir alterações no processo produtivo de forma a melhorar a qualidade do óleo produzido nas cooperativas. Seria importante contar com projetos em conjunto com as cooperativas, por tempos mais longos”, recomenda o pesquisador.
“Os desafios da pesquisa sobre a região Amazônica são grandes e somente com apoio financeiro continuado é que a prospecção e valoração das potencialidades amazônicas podem se tornar uma realidade, com benefícios para a região, para o país e o planeta”, destaca o coordenador, acrescentando que o projeto tem grande interesse para a região, pois a andiroba é um dos principais produtos extrativistas da Amazônia.
A pesquisa é apoiada pelo Governo do Amazonas, por meio da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Amazonas (Fapeam) – via Programa de Apoio à Pesquisa (Universal Amazonas), Edital Nº 002/2018.
*Com informações da Agência Amazonas