Pará concentra um dos maiores bancos de dados da América Latina sobre peixes da região amazônica

Além da alta relevância para a ciência, as pesquisas podem influenciar, por exemplo, nas definições de áreas de conservações em uma das regiões mais importantes do planeta e inserida na floresta amazônica.

Pesquisas realizadas pela Universidade Federal do Pará (UFPA) formam, atualmente, um dos maiores bancos de dados da América Latina sobre as espécies de peixes da região amazônica. Nos últimos dez anos os estudos vêm descobrindo e relatando para a comunidade científica 21 novas espécies de peixes no Rio Xingu, em Altamira, sendo 16 endêmicas – encontradas apenas no rio. 

Além da alta relevância para a ciência, as pesquisas podem influenciar, por exemplo, nas definições de áreas de conservações numa das regiões mais importantes do planeta e inserida na floresta amazônica, isso porque alguns dos peixes, apesar de descritos recentemente, correm risco de extinção. A lista de espécies em extinção é reavaliada a cada 5 anos e o trabalho realizado pelos pesquisadores da UFPA tem influência direta nessa relação.  

Foto: Divulgação/UFPA

A maioria das espécies identificadas até agora pela UFPA é de peixe ornamental. A região do Xingu é privilegiada por ter lindos peixes, o que chama a atenção do mercado clandestino, que trafica internacionalmente essas espécies, saindo por Tabatinga, fronteira do Brasil com a Colômbia, e sendo distribuído para aquários de várias partes do mundo.

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O Acari-zebra marrom (Hypancistrus sp. “marrom”), espécie em adiantado estágio de descrição pelo professor da UFPA, Leandro Sousa, por exemplo, está entre os peixes com risco de desaparecer. Segundo o professor, é a espécie com menor distribuição geográfica conhecida para o gênero, estando restrita apenas a alguns pontos da Volta Grande do Xingu, em Altamira, no Pará.

Das espécies já descritas, o Acari-zebra (Hypancistrus zebra), também endêmico do rio Xingu e incluído na lista de peixes em extinção devido a pesca clandestina, mesmo com sua captura proibida há 19 anos, ocorre apenas na Volta Grande do Xingu, jusante da Área de Influência Direta (AID) da Usina Hidrelétrica Belo Monte. Para se ter uma ideia, esse tipo de peixe chega a ser vendido entre US$2 mil e US$700, no mercado clandestino, dependendo do tamanho.

Foto: Divulgação

Está aí relevância de todo o esforço e intelecto de dois professores e cerca de 30 mestrandos brasileiros obstinados a proteger e reproduzir esses peixes para evitar que desapareçam para sempre. São semanas montando e desmontando acampamentos ao longo de 300 Km do Rio Xingu. São horas mergulhando e filmando as espécies. A reprodução em cativeiro no Laboratório de Aquicultura de Peixes Ornamentais do Xingu (LAQUAX) também faz parte das atividades do grupo.

“Além das pesquisas, uma das maiores contribuições desse projeto são as estruturas construídas na Universidade Federal do Pará e o recurso humano que estamos formando”, avalia o professor Leandro Sousa.

O Laboratório de Ictiologia de Altamira (LIA) e LAQUAX, ambos no Campus da UFPA, em Altamira, são estratégicos porque ficam próximos das áreas monitoradas e permitem que os pesquisadores consigam estar sempre nas águas do Rio Xingu. Os laboratórios foram construídos e equipados pela Norte Energia, concessionária da Usina Hidrelétrica Belo Monte, como parte do Plano Básico Ambiental do empreendimento para fazerem o monitoramento dos peixes do Rio Xingu. A companhia custeia também as bolsas de estudos.

“O que observamos é que ao longo do processo, esse monitoramento se mostrou muito maior é já um grande legado, sendo um dos maiores bancos de dados de espécies de peixes da América Latina”, 

disse Bruno Bahiana, gerente socioambiental da Norte Energia.

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