Miniestufa com garrafa PET criada em Manaus busca melhorar enraizamento de estacas da fruta-pão-de-massa

A miniestufa desenvolvida no Inpa substitui a instalação de nebulização, dispensando energia elétrica e água corrente.

No mundo da jardinagem e da agricultura, o enraizamento de estacas de plantas, conhecido por promover a criação de raízes das partes da planta como ramos, raízes ou folhas, é uma técnica amplamente utilizada para a propagação de espécies. Uma técnica de multiplicação da fruta-pão-de-massa (Artocarpus altilis), usando uma miniestufa com garrafa PET, criada pelo pesquisador do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa/MCTI), Johannes van Leeuwen, tem se destacado na propagação da árvore, uma planta frutífera quase desconhecida na região.

De acordo com Leeuwen, na Amazônia é comum encontrar a fruta-pão-de-caroço (Artocarpus camansi), mas não a fruta-pão-de-massa, apesar desta ter muito mais potencial comercial, como pode ser verificado na costa Nordeste do Brasil, como Maranhão, Ceará e Pernambuco, onde ambas ocorrem. Fruta-pão-de-caroço e fruta-pão de massa são duas espécies originárias da região do Pacífico.

“A fruta-pão-de-caroço é muito menos atrativa para o consumo, pois as cascas envolvendo os pequenos ‘caroços’, têm que ser retiradas manualmente, o que leva muito tempo. Já a fruta-pão-de-massa é um tipo de alimento muito versátil e fácil de preparar”, conta o pesquisador líder do Grupo de Pesquisa Sistemas Agroflorestais para a Amazônia.

A fruta-pão-de-massa pode pesar de 1 a 3 kg. Foto: Johannes van Leeuwen/Inpa

Técnica 

A técnica de multiplicação da fruta-pão-de-massa na Amazônia desenvolvida no Inpa usa uma miniestufa que substitui a instalação de nebulização, dispensando eletricidade e água corrente, servindo para o enraizamento de estacas e enxertia de pequenas quantidades de espécies lenhosas.

Segundo o pesquisador João Batista Moreira Gomes, apesar da fruta-pão-de-massa ser uma fruta versátil, plantar a espécie é uma tarefa que demanda atenção e cuidados, pois essa árvore necessita de solo fértil e água abundante. O pesquisador trabalhou na distribuição e acompanhamento das mudas para pequenos agricultores.

“Iniciei os testes em 2007 ao redor da minha casa, onde havia uma árvore no quintal com o intuito de achar uma forma com que pudesse produzir mudas de fruta-pão-de-massa de forma barata e sem muito trabalho”, lembra Leeuwen.

Miniestufa com garrafa PET. Foto: Johannes van Leeuwen/Inpa

A partir de então, foram realizadas pesquisas para encontrar métodos mais simples de multiplicação vegetativa. Um dos resultados positivos encontrados foi o uso de garrafas PET para criar um ambiente úmido para o enraizamento de estacas.

Para o desenvolvimento da tecnologia social, foram usadas garrafas PET sem fundo, em vasos com solo, onde as estacas foram plantadas. No caso de estacas mais altas deve-se usar duas garrafas PET encaixadas. Segundo o pesquisador, deve-se, ainda, pressionar ligeiramente as bordas das garrafas no solo do vaso para limitar a troca de ar com o ambiente externo.

Para começar, os vasos foram colocados em pires com água por uma hora e meia, permitindo a absorção máxima de água pelo solo. A muda precisa de aproximadamente um mês para enraizar. No período, não é necessário regar, a própria garrafa PET evita a perda de umidade.

“Usamos estacas de diferentes tamanhos e origens, obtidas de rebentos das raízes. As estacas cortadas mais próximas do solo tiveram um maior sucesso no enraizamento. Em seguida, percebemos que estacas com as bases de cor castanha (aparência lenhosa) tiveram uma taxa de enraizamento de 78%, enquanto as com bases de cor verde tiveram uma taxa de 54%”, explicou Leeuwen.

Fruta-pão-de-massa é comercializado na Feira da Apoam. Foto: Johannes van Leeuwen/Inpa

Distribuição de mudas

João Batista explica também que ao longo do período de pesquisa do enraizamento foram distribuídas cerca de 80 mudas para agricultores regionais, ação interrompida por conta da pandemia. As mudas foram acompanhadas de folhetos explicativos sobre como plantar, cuidar e preparar a fruta-pão-de-massa, além de receitas com a fruta.

Foram distribuídas mudas de fruta-pão-de-massa em Manaus, Iranduba, Manacapuru, São Gabriel da Cachoeira, Careiro da Várzea, Rio Preto da Eva e Tefé, municípios onde agora têm árvores frutificando. “Na capital, o consumidor pode encontrar a fruta nos meses janeiro e fevereiro nas feiras de alimentos orgânicos da Associação dos Produtores Orgânicos no Estado do Amazonas (Apoam), aos sábados de manhã, no bairro Alvorada, e na Feira da Associação dos Servidores do Inpa (Assinpa), às quintas à tarde, na Morada do Sol”, contou Leeuwen.

Recomendações de plantio

A fruta-pão-da-massa necessita de muita água e nutrientes. O plantio deve ser em solos ricos em nutrientes, onde possa ter acesso a água e receber fertilização através do adubo do lixo orgânico doméstico. A espécie também deve ser plantada em locais afastados de estruturas e áreas de circulação frequente de pessoas, devido ao seu tamanho que alcança mais de 20 metros e ao risco de queda de frutos pesados.

A fruta é rica em carboidratos, fibras, vitaminas, minerais, antioxidantes e pode ser usada de várias maneiras na cozinha, desde pratos salgados como tortas salgadas, purês, cozidos e até mesmo doces como mingaus e bolos.

“O cultivo da fruta-pão-de-massa pode servir como alternativa de reflorestamento de margens de igarapés de Manaus, como no caso das avenidas Beira Rio e Beira Mar, do bairro de Coroado”, sugere Leeuwen.

Sobre a pesquisa

A partir da criação da técnica, foi publicado o artigo ‘Promoting the cultivation of breadfruit in Amazonia, com a descrição e os detalhes dos processos para que a técnica fosse aplicada. Leia AQUI a versão em português.

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