Cigarros apreendidos são transformados em insumos agrícolas por projeto no Tocantins

Adaptando o modo tradicional de compostagem, a produção do composto orgânico e do chorume é de baixo custo e baixo impacto ambiental, com potencial de grande retorno econômico.

De acordo com o Fórum Nacional Contra a Pirataria e a Ilegalidade (FNCP), o cigarro é o produto mais apreendido pela Receita Federal, no Brasil. Dados do Fisco (autoridade fazendária, que é responsável por controlar e fiscalizar as atividades do seu negócio em relação à legislação tributária) apontam que diariamente cerca de 600 mil maços de cigarros ilegais são destruídos, somente no posto alfandegário da fronteira de Foz do Iguaçu, ou seja, a Receita Federal destina os cigarros contrabandeados à destruição ou inutilização. 

Diante desse panorama, um projeto realizado na unidade de Dianópolis do Instituto Federal do Tocantins (IFTO), pode trazer uma inovação, ao transformar cigarros apreendidos em insumos agrícolas sem causar impactos ambientais. A iniciativa tem sido desenvolvida em parceria com a Delegacia da Receita Federal do Tocantins.

Em outubro de 2023, foi realizada pela Delegacia da Receita Federal a primeira transferência dos cigarros apreendidos para o IFTO de Dianópolis. Inicialmente, os cigarros foram triturados e separado o tabaco dos demais materiais como papéis e filtros. A partir da separação, foi produzido um composto orgânico com material vegetal misto (30% de tabaco e 70% de restos vegetais) e esterco bovino, sendo dispostos em camadas alternadas umedecidas.

Ao longo do período de decomposição desses materiais, também foi gerado o chorume. Adaptando o modo tradicional de compostagem, a produção do composto orgânico e do chorume é de baixo custo e baixo impacto ambiental, com potencial de grande retorno econômico.

O professor Ezequiel Lopes do Carmo, que é um dos pesquisadores responsáveis pelo projeto, explica que produtos como composto orgânico e chorume podem ser gerados, beneficiando o cultivo de plantas ornamentais e florestais, áreas ainda não exploradas comercialmente com esses insumos. 

Foto: Divulgação/IFTO.

Vale destacar que na primeira etapa, o composto, bem como o chorume foram produzidos em escala piloto para testes e ajustes, visando um composto de qualidade e segurança.  De acordo com Ezequiel, foram feitas amostras expositivas, da produção dessa etapa piloto, que foram apresentadas na Agrotins 2024, onde houve muitos interessados em saber sobre o procedimento e eficácia.

Foto: Divulgação/IFTO.

Ezequiel acrescenta que, devido a repercussão, o projeto foi escolhido para fazer uma exposição dos mesmos produtos no “IV Seminário de Gestão Sociambiental” promovido pelo Tribunal de Justiça do Tocantins, em Palmas, os quais foram apresentados nos dias 13 e 14 de junho de 2024. 

“Neste evento, também despertou interesse de diversos participantes, desde cultivadores de plantas ornamentais até pesquisadores e empresários. O procedimento inicial já está consolidado, faltando realizar avaliações físicas e químicas, testes na produção de plantas não alimentícias e consequentemente a validação de forma mais detalhada e em maiores quantidades, visando a escalabilidade da produção”, esclareceu Ezequiel.

A próxima etapa consistirá em uma investigação dos efeitos da utilização do composto orgânico em plantas ornamentais, a partir da utilização de diferentes composições de materiais. A primeira pilha de compostagem combinará 30% de tabaco e 70% de aparas de grama com esterco bovino, em camadas alternadas até 1,2 m de altura. A segunda ‘pilha’ misturará 30% de aparas de grama com 70% de caixas, papéis triturados e filtros de cigarros, também com esterco bovino, seguindo a mesma estrutura. 

Foto: Divulgação/IFTO.

A terceira pilha servirá de controle, contendo apenas aparas de grama e esterco bovino. Após 90 dias, os compostos e o chorume serão analisados em laboratório e testados para produção de mudas das plantas ornamentais. A expectativa, do grupo de pesquisadores responsáveis pelo projeto, é que pelo menos um dos compostos e uma concentração de chorume apresentem efeitos positivos e econômicos na produção destas mudas.

A pró-reitoria de Pesquisa, Inovação e Pós- Graduação do IFTO, Paula Karine Amorim, avalia o projeto como uma ilustração concreta do cumprimento da missão institucional do IFTO, como indutor do desenvolvimento regional sustentável com foco na inovação e integração com o ecossistema local.

Equipe do projeto

A equipe é composta principalmente pelos professores Ezequiel Lopes do Carmo e Otacilio Silveira Junior, pelos técnicos administrativos Ananias Barreiros dos Santos Junior e Joabe Cardoso Nunes da Silva e pelos estudantes Diogo Henrique da Silva e Yan da Rocha Cerqueira, além de outros alunos voluntários, todos da unidade de Dianópolis do IFTO.

*Com informações do IFTO

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