Roraima – Antecedentes Históricos

Grupo Rede Amazônica a caminho 50 anos

No ano de 1970 dois técnicos em eletrônicos tentavam, pacientemente rastrear sinais de televisão em Boa Vista. Domingos Leitão e Esdras Avelino, cada um em sua oficina, haviam montado rústicas, porém, potentes antenas e, passavam horas à procura das partidas emissões de televisão.

O domínio da técnica, aliado a obstinação, tiveram como resultado a capitação de alguns sinais, obtendo resultados animadores, na medida em que se aperfeiçoavam.

A partir dessas conquistas, tornou-se comum o aglutinamento de amigos e conhecidos em suas casas, assistindo televisão.

Sr. Ministro Maurício Rangel Reis, Dr. Phelippe Daou, governador Fernando Ramos Pereira, na inauguração da TV Roraima. Foto: Acervo/Abrahim Baze

Naquela época, captava-se com maior frequência as emissoras da TV Liberal de Belém do Pará e de uma emissora de televisão porto-riquenha.

Centenas de pessoas assistiram aos jogos da Copa do Mundo, realizada no México em junho daquele ano, especialmente a final entre Brasil e Itália. Este fato levou muita gente entusiasmada a comprar televisão tornou-se um hábito frequente em Boa Vista.

Uma revoada de motocicletas

A primeira experiência efetiva da cidade de Boa Vista com a televisão verificou-se a 29 de dezembro de 1973, quando a equipe do Programa da Rede Globo Amaral Neto O Repórter, iniciou as gravações de um documentário sobre Roraima.

As gravações começaram no Centro Cívico, com sua arquitetura jovem e moderna, fazendo fundo para a exuberância e a alegria do grande desfile – motociclistas de todas as idades e motos de todos os modelos levaram a imagem de um povo e de uma cidade alegre, jovem, bonita e exuberante.

Milton Cordeiro e Maria Edy Cordeiro, na inauguração da TV Acre. Foto: Acervo/Abrahim Baze

Este programa fora, na época, exibindo em nível nacional. As gravações prosseguiram no Monte Roraima. Pedra Pintada, Vale do Parimé e outros importantes sítios de potenciais turísticos e arqueológicos.

O material colhido era de tal beleza plástica que fez o experimentado homem de televisão desdobrar o programa em dois episódios, fato inédito no Programa Amaral Neto O Repórter, que na sua época era sucesso nacional absoluto.

O programa ia ao ar em dia útil, à noite e era repetido ao meio-dia do sábado. Roraima, por sua vez, empolgou o publico de todo Brasil, naturalmente, menos a população do antigo Território Federal de Roraima, que na sua vez, época, não possuía uma emissora de televisão.

Amaral Neto presenteou o governador Hélio Campos com duas cópias dos programas em 16 milímetros, criando, assim, a possibilidade de muitos assistirem ao programa em Boa Vista.

O mais importante foi que o Brasil apaixonou-se por Roraima, tendo a partir daí, dado um surto de migrações para o Território.

A história de uma conquista

Em abril de 1974, o coronel-aviador Fernando Ramos Pereira assumiu o Governo do então Território Federal de Roraima, hoje Estado de Roraima.

Tendo assumido o Governo, tomou conhecimento que não havia uma emissora de televisão na cidade e, que apenas algumas pessoas assistiram a televisão. Incrédulo com tal fato, providenciou uma pesquisa e constatou que havia aproximadamente setenta aparelhos de televisão na cidade.

Sr. Ministro Maurício Rangel Reis, Dr. Phelippe Daou discursando durante inauguração da TV Roraima. Foto: Acervo/Abrahim Baze

O entusiamo do Governo que acabara de se instalar o levou a anunciar publicamente a instalação de uma emissora de televisão, ainda a tempo de oferecer ao povo de Boa Vista a transmissões da Copa do Mundo, que iriam realizar-se no mês de junho, na Alemanha.

O assunto, embora tenha causado euforia, na maioria da população, estarreceu alguns, especialmente a quem compreendia a impraticabilidade de uma rede de estações repetidoras, portadora da transmissão de uma das emissoras amazonenses.

Por sua vez, Manaus ainda era separada de Boa Vista pela grande selva e, principalmente, porque não existia nenhum tipo de terminal de satélite em Roraima, tendo de considerar que faltava menos de dois meses para o início da Copa do Mundo.

No entanto, o Ministério das Comunicações tinha especial interesse em promover a doação e a melhoria da radiodifusão na Amazônia e, naturalmente, Roraima não poderia ficar de fora.

Neste sentido, fez publicar no Diário Oficial da União, do dia 21 de setembro de 1973, o Edital de Licitação, conforme ilustração do original.

A Copa do Mundo

Era o dia treze de junho de 1974, às sete horas da noite, uma quinta-feira. A cidade de Boa Vista vive sua maior expectativa. Em centenas de lares famílias e vizinhos se aglomeravam diante do televisor. Em, dado momento, os mais curiosos chamam a atenção, pela primeira vez no vídeo, para a logomarca da TV Roraima no ar. Era o milagre da imagem e do som ao alcance de todos.

Em menos de trinta dias, o impossível tornou-se realidade. Em apenas dois dias, a torre já era erguida, os técnicos conseguiram montar todo sistema, incluindo treinamento aos profissionais selecionados para sua operação. Finalmente, nas últimas vinte e quatro horas, o prédio fora decorado com um belo jardim.

O governador Fernando Ramos Pereira surge no vídeo e, em rápido discurso, agradece ao Presidente da República, na época, general Ernesto Geisel, aos ministros Maurício Rangel Reis – do Interior e Euclides Quandt de Oliveira – das Comunicações e, principalmente, ao empresário Phelippe Daou, que possibilitou ao Governo do então Território os meios para a realização do projeto; finalmente dedicou a emissora à população de Roraima.

Iara Regina Bednarczuk, apresentadora da TV Roraima. Foto: Acervo/Abrahim Baze

A imagem colorida da TV Roraima estava no ar!

A população de Boa Vista assistia a um dos mais belos espetáculos da época. A magia cromática da televisão colorida mostrava a festa de abertura da Copa do Mundo.

A policromia das roupagens, a coreografia mágica, o encanto da música na vibração do estádio lotado, fundo inesquecível para a espera da emoção maior, a do futebol. Um espetáculo grandioso! Era difícil de acreditar.

A partir daquele dia, até o final do ano, a TV Roraima – Canal 2 receberia diariamente a programação fornecida pela TV Amazonas. Assim foi com o restante da Copa do Mundo.

Terminada a Copa do Mundo, a população de Boa Vista ficou sem televisão. A TV Roraima suspendeu por alguns dias suas atividades, enquanto ajustava soluções finais de funcionamento e programação, ajustes de fornecimento de material, tráfego, ordem de programação e organização de pessoal.

No dia dezoito de outubro de 1974, o Ministério Euclides Quandt de Oliveira – das Comunicações, vai a Boa Vista para o lançamento da pedra fundamental da obra da estação terminal de satélite de Boa Vista, confirmando que a mesma entraria em funcionamento no mês de junho de 1975.

O momento era de boas notícias e grande euforia, tendo o Ministro aproveitando a ocasião para informar outra importante notícia: na véspera o Presidente da República assinara o Decreto que concede um Canal de Televisão Comercial e definitivo para Boa Vista. A Rádio TV do Amazonas fora a vencedora da concorrência para a concessão.

Selomita Barroso Alencar, apresentadora da TV Roraima. Foto: Acervo/Abrahim Baze

Estava selado o advento da televisão empresarial, completa e definitiva. Com esta notícia, estava decretado o fim da televisão sonho, mas continuava vivo o ideal.

No dia quinze de dezembro do mesmo ano, um jornal de Boa Vista publica uma importante entrevista com o empresário Phelippe Daou, diretor-presidente da Rádio TV do Amazonas, informando ter adquirido o prédio e instalações da estação, de propriedade do Governo do então Território de Roraima e, já conclui nas obras de modificações internas no prédio, restando as modificações técnicas para a transformação do Canal 2 em Canal 4.

Enquanto isso, Boa Vista ficara sem televisão, seria por poucos dias segundo a palavra do empresário Phelippe Daou, que promete entregá-la ao povo antes do Natal daquele ano.

Era o dia vinte e dois de dezembro de 1974. A TV Roraima entra no ar, em fase experimental, dois dias antes do Natal.

A inauguração

A solenidade de inauguração aconteceu no dia vinte e nove de janeiro de 1975 e, constou do plantio de um pinheiro no jardim da emissora. A muda fora trazida do Rio de Grande do Sul para simbolizar a integração do Norte com o Sul. O próprio governador Fernando Ramos Pereira plantou a árvore.

O ato fora presidido pelo empresário Phelippe Daou, com a presença do Ministro Maurício Rangel Reis, o diretor da TV Roraima, na época Laucides Oliveira; secretários de Governo e outros convidados.

A TV Roraima nascia para integrar definitivamente ao Brasil, a mais longínqua das cidades brasileiras. Para crescer com a cidade, trabalhando pelo seu desenvolvimento e pelo bem-estar da sociedade.

Vladimir Dias Ramos, apresentador da TV Roraima. Foto: Acervo/Abrahim Baze

Discurso proferido pelo diretor-presidente da Rádio TV do Amazonas Dr. Phelippe Daou no ato da inauguração da TV Roraima

Exmas. Autoridades, minhas senhoras, meus senhores, senhor governador Fernando Ramos Pereira, senhor Ministro Maurício Rangel Reis.

Em abril de 1974, fomos convidados por Vossa Excelência para um encontro em Brasília.

Voltava Vossa Excelência de uma viagem a Porto Velho e nos encontrávamos em Porto Alegre, numa reunião do empresariado brasileiro.

Atendendo ao seu chamado e no seu Gabinete, na Capital Federal, recebemos um apelo para que tudo fizéssemos de modo a que população porto-velhense assistisse, pela televisão, a Copa do Mundo. O seu Ministério, dizia Vossa Excelência, prestigiaria, em toda linha, a nossa ação.

Asseguramos a Vossa Excelência, senhor Ministro, que tudo faríamos para efetivar a sua solicitação. E realizamos um pouco mais, fazendo surpresa, pois é também contagiante o seu entusiamo pela Amazônia.


Não apenas Porto Velho assistiu ao mundial de futebol ao passado, mas também Rio Branco/Acre e Boa Vista/Roraima, no Ocidente Amazônico, Em Porto Velho, com um equipamento de videoteipe, fornecido por nós e um transmissor cedido pela Rede Globo; no Acre com equipamento todo nosso; em Boa Vista com equipamento adquirido pelo governador Fernando Ramos Pereira e, que hoje representa parte do que compõe esta
estação e tapes gravados por nós. Ainda o Amapá pelo esforço do governador Artur de Azevedo Henning assistiu a Copa de 1974, mas nisso não tivemos participação.

Logo a seguir à Copa, senhor Ministro, na medida da conquista das concessões em concorrência pública, fomos instalando estações de televisão, primeiro TV Rondônia, em Porto Velho – e Vossa Excelência e o Ministério Ueki nos deram a honra de participar da sua zero hora a treze de setembro de 1974; depois a TV Acre em Rio Branco, a dezesseis de outubro e, a seguir, a vinte e dois de dezembro último, colocamos em funcionamento esta TV Roraima, que Vossa Excelência hoje nos dá o prazer e a alegria de inaugurar oficialmente e, a vinte e cinco de janeiro em curso, completamos a Rede Amazônica de Televisão, com a inauguração da TV Amapá.

Como vê, senhor Ministro, num curtíssimo período de quatro meses montamos e fizemos funcionar quatro estações de televisão, que, embora a modéstia de seus equipamentos e de suas instalações, no entanto têm todas as condições para executar as suas finalidades, como qualquer estação geradora de televisão. Acima, porém, da sua importância material estão os objetivos que justificam a sua existência: a ocupação, o desenvolvimento deste imenso vazio verde e a sua efetiva integração ao todo nacional.

O desafio amazônico será vencido com a união de todos os brasileiros, mas, impõe-se pressa nessa união e, por força dela, na realização das tarefas e dos programas que corrigirão os desníveis econômicos da Amazônia em relação a outras regiões e que, por muito tempo, nos fizeram viver como colônia do país.

Fomos apresentados na implantação da Rede Amazônica e estamos satisfeitos, porque sentimos haver cumprido um dever para com o Brasil e, particularmente, com as populações destes confins pátrios, até então marginalizadas e privadas dos benefícios da televisão. Falhas de operação existem e existirão, até que suas equipes fiquem devidamente adestradas. No entanto, devem se relevadas, porque as estações são operadas por elementos locais de cada unidade federativa, numa demonstração do valor do homem da região, ou que nela vive, ou que fez a sua própria terra.

Estamos, agora, senhor Ministro, na fase de consolidação da Rede Amazônica. Que é, por sinal, a mais difícil e espinhos. Seria, portanto, agradável se, daqui por diante, fosse possível aos órgãos de seu ministério usarem as suas estações para a divulgação dos programas de desenvolvimento que estão realizando e, com isso, não só conscientizariam as populações da área, como contribuiriam para o seu funcionamento sempre mais aprimorado, pois a programação da Rede estará sempre em função dos recurso provenientes da sua única fonte de receita, que é a publicidade.

Cremos que, assim, se concretizaria aquele oferecimento anteriormente feito por vossa excelência e até aqui não aproveitado, pois desejaríamos, primeiro, executar, como executamos, a nossa parte, que era a imp0lantação da Rede e, depois pleitear a ajuda, o apoio e a participação de todos, para a sua manutenção e fortalecimento crescente.

De outra parte, senhor Ministro, não paramos a nossa caminhada. Vamos prosseguir, instalando repetidoras, ocupando novas áreas, beneficiando outras comunidades, precisamente aquelas que vivem mais distantes, que se localizam ao longo dos onze mil quilômetros lineares de fronteira e que, apesar do secular abandono a que foram relegadas, souberam, patrioticamente, manter, proteger e resguardar a soberania nacional.

Além disso, entendemos que chegou a hora de mostrar as cores da Amazônia ao Brasil e ao mundo. Brevemente, graças aos planos do Ministério das Comunicações, em execução pela Embratel, deixaremos de ser apenas receptadores de transmissões do Sul ou de estrangeiro. Vamos também ter a possibilidade de produzir os nossos programas, à base da realidade amazônica e levá-los ao Centro-sul do país e muito mais além, pois a Amazônia, hoje, é assunto de grande interesse em toda parte. Já estão adiantados aos estudos para a implantação do Centro de Produção da Amazônia que será em Manaus, partindo da TV Educandos do Amazonas.

Em futuro próximo, portanto, as coisas da Amazônia haverão de ser projetadas além-fronteiras da região, nelas incluídas as obras gigantes do Governo Federal, que constitui todo o processo de integração definitiva desta outra metade brasileira.

Permitam-nos, agora, uma palavra de sinceros e profundo agradecimento ao Governador Fernando Ramos Pereira, pela solidariedade e incentivo que nos tem emprestado, graças ao que foi possível realizar, com a rapidez desejada a esta emissora.

Ele tem sido, inegavelmente, o grande responsável pelo ingresso de Roraima na era da televisão, fazendo jus a esta homenagem que prazerosamente lhe tributamos. Os nossos agradecimentos se estendem ao empresariado e à população roraimense pelo estímulo que nos vêm proporcionando, em razão do que antevemos apreciável desenvolvimento para esta emissora.

Aos leais companheiros da Rede e a todos, enfim, que nos ajudaram na efetivação desta obra, também o nosso reconhecimento.

De resto, senhor Ministro Maurício Rangel Reis, pedimos a Deus que nos conserve humildes, mas entusiastas nos nossos empreendimentos, vigorosos e inquebrantáveis nas nossas ações realizadoras e construtivas, correspondentes à confiança do Governo Federal por todos os seus órgãos e, fiéis aos princípios de independência da nossa Rede de Televisão na defesa dos sagrados direitos e interesses das pululações amazônicas, da nossa querida Amazônia e do nosso muito amado Brasil. 

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