Pavilhão central do Hospital Português

A partir de 1891 foi proposto a edificação do corpo central do edifício do hospital centenário. O diretor responsável pela transição foi o Irmão Eduardo Pinto Ribeiro.

Hospital Beneficente Portuguesa – 1997. Foto: Abrahim Baze/Acervo pessoal

Por Abrahim Baze – literatura@amazonsat.com.br 

A partir de 1891 foi proposto a edificação do corpo central do edifício do hospital centenário. O diretor responsável pela transição foi o Irmão Eduardo Pinto Ribeiro.

Embora sem funcionamento, a enfermaria já construída, a meta do hospital completo jamais se afastou da mira dos dirigentes da sociedade, cujo, dinâmico presidente, em sessão de 17de fevereiro de 1891 propôs para que a presente diretoria durante o seu mandato empregasse todos os esforços para se edificar o corpo central do edifício da sociedade, em construção por ser de grande utilidade, tanto para o desenvolvimento da sociedade, como pelos socorros que poderia prestar visto que com a edificação daquela para que já o hospital poderia funcionar, por isso, propondo para que desde já se tratasse (sic) de arranjar meios pecuniários por meio de quermesses e subscrições.

Esta manifestação que, foi integralmente transcrita como valioso documento é mais um comprovante do não funcionamento do hospital até 1891, na Praça Uruguaiana, Estrada Epaminondas, ou Praça General Osório, como eram conhecidas as circunjacentes do atual Colégio D. Bosco e a Avenida Epaminondas e a Praça General Osório. 

Foi resolvido chamar-se por 15 dias concorrentes para proceder-se a continuação das obras centrais do hospital, ficando o sr. tesoureiro autorizado de fazer as despesas conforme as contas que lhe forem apresentadas e visadas pelo Sr. Presidente. 

Foram presentes (15.06.1891), as plantas e o orçamento para a edificação do corpo central do hospital, para se mandar edificar por meio de concorrentes, conforme for resolvido em sessão anterior. 

As Atas não revelam o nome do engenheiro que elaborou as plantas do corpo central do hospital. Há apenas referências ao desenhista, Sando Pereira. 

O Sr. Presidente propôs para que se desse uma gratificação ao desenhista Sando Pereira, pela confecção das plantas e orçamento para construção do corpo central do hospital e outros trabalhos que fez anteriormente. Foi resolvido que, em vista do Sr. Sando Pereira não querer fazer preço aos seus trabalhos e atendendo-se a precária circunstância do mesmo sr. resolveu-se dar-lhe a gratificação de duzentos mil reis.

Não se explica o silêncio em torno do nome do engenheiro e com que autoridade um desenhista, gratificado com duzentos mil reis, faz o orçamento de tão alta responsabilidade e que exige indubitável habilitação técnica e profissional. 

As obras, talvez por carência financeira, não foram logo atacadas, pois adiaram várias vezes a decisão da concorrência. As subscrições pelo Rio Madeira, Rio Negro, Rio Purus, sempre eram feitas em favor do hospital, figurando em Atas o recolhimento dessas ofertas, algumas bem liberais pois alcançavam mais da vultuosa soma, para a época, de um conto de réis.

Hospital Beneficente Portuguesa – 1893 – rua Corrêa de Miranda, hoje Joaquim Nabuco. Foto: Abrahim Baze/Acervo pessoal

Proposta de arrendamento e compra pelo governo

Enquanto os dirigentes lutavam pela construção do hospital completo e aparelhado, o governo observava o espaço ocioso das áreas construídas e para atender as suas necessidades prementes, sem meios também para construções imediatas. 

Assim, em sessão de 20.09.1891:

[…] Foram lidos dois oficios do exmo, Sr. Presidente do Estado pedindo para arrendar ao governo a parte já construída do nosso hospital para ali instalar um asilo de alienados e outro propondo a compra para desapropriação de utilidade pública do terreno e benfeitorias, propriedade desta sociedade, sito a Praça General Osório. Resolveu-se oficiar a 1º parte, pondo a disposição do governo o edifício pedido sem ônus algum para o governo até 31.07.1892, entregando-nos naquela data o edifício em iguais circunstancias conforme a vistoria que se há de proceder, a 2ª parte, declarando que a diretoria não pode ainda dar resposta definitiva por ter de convocar a Assembleia Geral que foi convocada para o dia 7 do corrente para pedir a devida autorização.”

Temos neste importante documento o ponto de partida para a mudança da sede da sociedade para a localização em que se encontra atualmente a Rua 7 de dezembro, depois Estrada Corrêa de Miranda e hoje Avenida Joaquim Nabuco. Procuremos examinar como a Assembleia Geral encarou a requisição e a iniciativa de desapropriação do terreno fronteiro à Praça General Osório. 

A reunião da Assembleia Geral ocorreu às 9 horas da noite do dia 7 de outubro de 1891, em casa do Presidente Bernardo Antônio D’Oliveira Braga, com a presença de 30 associados.

Foi lido o ofício propondo a compra amigável do terreno, edifício já construído, benfeitorias e material existentes pertencentes a esta sociedade, sito a Praça General Osório, para desapropriação de utilidade pública e embelezamento da cidade. Foi lido e considerado com muito cuidado e com certa reserva por alguns dos 30 presentes. O presidente francamente favorável a negociação, usou de todos os recursos de persuasão para alcançar a autorização e chegou a demonstrar a grande conveniência, quer pelo lado higiênico, quer pelo lado econômico que adviria a esta instituição aceitando a proposta do Exmo. Sr. Presidente do Estado.

Leu um balance que há de servir de base à negociação e declarou que a diretoria empregaria todos os seus esforços caso lhe seja concedida a devida autorização a bem dos interesses da sociedade e em harmonia como governo do estado e depois de liquidada esta transação a diretoria continuará imediatamente no terreno que for escolhido com as obras para a edificação do nosso hospital. 

Houve uma proposta condicional que só se autorizasse a transação depois de governo apresentar a sua proposição e condições para serem estudadas e discutidas em nova Assembleia. Esta proposta foi apresentada e definida pelos associados Joaquim Alves da Cruz e Eduardo Pinto Ribeiro. 

Eduardo Pinto Ribeiro. Foto: Abrahim Baze/Acervo pessoal

A proposta de plena autorização à diretoria para negociar com o Exmo. Presidente do estado a venda do terreno e benfeitorias de propriedade da sociedade da melhor forma e a bem dos interesses da mesma, apresentada pelo sócio Benjamin da Silva Lucas, submetida a votos, foi aprovada por 23 (vinte e três) votos contra 7 (sete). Não houve portanto, unanimidade, em decisão de tanta importância. Os sete dissidentes manifestaram pelo voto o seu desagrado pela alienação de um patrimônio construído em quase duas décadas de lutas. 

A Ata de sete de outubro registra também mais um fato curioso de prorrogação de mandato em transação de tão alta importância jurídica. 

O Sr. Presidente declarou que, sendo marcado pelos estatutos o dia 31 de outubro para a reunião da Assembleia Geral em que tem de servir, digo, de ser apresentado o relatório do corrente ano e eleita a Diretoria tem de últimas as negociações entabuladas como Exmo. Sr. Presidente do Estado.

Verificamos que a Diretoria com o seu mandato expirante aventurou-se a entabular negociações de tão alta monta, prorrogando o seu mandato até 19 de maio de 1892.

No entanto, houve bom entendimento de ambas as partes sem qualquer percalço de nulidade.

[…] Não convoquei – justifica o Presidente em seu relatório – a Assembleia Geral no prazo em que determinam os nossos estatutos por motivos que todos vós sabeis, entretanto ainda diligenciei conseguir que o meu sucessor tomasse conta do timão da sociedade livre de embaraços e se não pude chegar aos nossos desejos, a culpa não foi minha porém filha das circunstancias”.

Sobre o autor

Abrahim Baze é jornalista, graduado em História, especialista em ensino à distância pelo Centro Universitário UniSEB Interativo COC em Ribeirão Preto (SP). Cursou Atualização em Introdução à Museologia e Museugrafia pela Escola Brasileira de Administração Pública da Fundação Getúlio Vargas e recebeu o título de Notório Saber em História, conferido pelo Centro Universitário de Ensino Superior do Amazonas (CIESA). É âncora dos programas Literatura em Foco e Documentos da Amazônia, no canal Amazon Sat, e colunista na CBN Amazônia. É membro da Academia Amazonense de Letras e do Instituto Geográfico e Histórico do Amazonas (IGHA), com 40 livros publicados, sendo três na Europa.

*O conteúdo é de responsabilidade do colunista 

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