O Carnaval no Centro antigo de Manaus

O pesquisador Geraldo Xavier dos Anjos revela que na época da Província do Amazonas os acontecimentos de ruas eram feitos por brincadeiras como o “Entrudo e o Zé – Pereira”, além dos foliões mascarados.

Segundo pesquisador Geraldo Xavier dos Anjos, as reminiscências do carnaval do passado são recheadas de fatos bastante interessantes. Tais manifestações do carnaval que transcorriam nos principais clubes da cidade e de uma forma mais popular nas ruas de Manaus.

O pesquisador nos revela ainda que na época da Província do Amazonas esses acontecimentos de ruas eram feitos por brincadeiras como o “Entrudo e o Zé – Pereira”, além dos foliões mascarados que invadiam o centro antigo de Manaus quando da época da festa popular.

Por sua vez, o entrudo era uma prática proibida, por promover sujeira e imundície. O “Entrudo” foi uma manifestação introduzida no Brasil pelos colonizadores portugueses da Ilha de Açores.

A prática consistia em jogar nas pessoas “água de lama, tinta, lixo e tudo que fosse malcheiroso, até água podre e urina”. Tal comportamento provocou a proibição por meio de uma portaria da Câmara Municipal de Manaus publicada no código De Postura do Município.

Avenida Eduardo Ribeiro, 1913. Foto: Abrahim Baze/Acervo pessoal

O fiscal do primeiro Distrito desta cidade faz publicar a bem dos interesses o seguinte artigo:

Art. 82-É proibido andar-se pelas ruas e lugares públicos e jogar entrudo ou lançar alguma coisa sobre os transeuntes. Pena de dez mil – réis de multa ou três dias de prisão.

1º Permite-se as mascaradas danças carnavalescas de modo que não ofendam a moral e a tranquilidade pública e não contenham alusão às autoridades ou a religião.

2º Pelas ruas, praças e estradas da cidade não transitarão pessoas mascaradas depois do toque da Ave – Maria, Salvo as que tiverem para isso licença da autoridade policial. Os infratores incorreram na multa de cinco mil – réis ou dois dias de prisão.

Manaus, 28 de janeiro de 1874

Pedro Mendes Gonçalves Pinto

Fonte: O Malho, Ed. 760 ano XVI – 7 de abril de 1917. Foto: Reprodução/Instituto Durango Duarte

Embora sob pena de pesar das multas e prisões, esse procedimento se estendeu até o início do século XX. Por sua vez, “O Zé – Pereira” também trazido pelos portugueses acaba por revolucionar o carnaval. Os brincantes transitavam pelas vias públicas tocando bumbas, zabumbas, esse costume perdurou até o ano de 1929. As fantasias da época eram de palhaços, diabos, papa angus, etc. 

Por volta de 1855 eram publicados em jornais da época os bailes de máscaras, que aconteciam em residências dos barões da borracha e nos clubes, começa assim a prevalecer o carnaval de salão que eram frequentados por uma classe privilegiada e o de rua que contava com a participação popular.
Geraldo Xavier dos Anjos relata ainda que o comércio dessa época promovia vendas de artigos para a quadra momesca em especial na Rua do Imperador (hoje Marechal Deodoro). Nessa artéria funcionava uma loja denominada “Bazar de Paris”, especializada em artigos para o carnaval. Os jornais da época promoviam anúncios de interesses dos foliões, como por exemplo, a presença de um “Coiffeur”, Francês que se chamava George Petrus. O estabelecimento atendia seus clientes com os mais modernos penteados que eram moda na Europa.
Em 1889, época do último Carnaval da Província, aconteceu a “Batalha de Confete” na Praça Dom Pedro II. Com a chegada da República e a urbanização da cidade promovida na administração do governador Eduardo Ribeiro (1892-1896). Na principal artéria e a rua da Matriz (hoje Eduardo Ribeiro), o Carnaval toma conotação com o desfile do “Clube dos Coatyz”. Já em 1904, surgiram dois grupos importantes, “Cavalheiros Infernais e o Clube dos Terríveis, que prolongou sua participação até 1915.
Anúncio sobre o Club dos Terríveis em 12 de fevereiro de 1907 no Jornal do Commercio. Imagem: Reprodução/Biblioteca Nacional

Os Cavalheiros Infernais eram formados por foliões do Clube Internacional, cujas fantasias eram predominadas pela cor vermelha. O “Clube dos Terríveis”, porém, tinha como foliões algumas figuras de maior importância do contexto social da época como: o coronel José Cardoso Ramalho Júnior, o ex-governador Silvério Nery, o próprio governador Constantino Nery e superintendente municipal Adolpho Lisboa e Arthur César Moreira de Araújo.

Fonte:
BAZE, Abrahim. Luso Sporting Club – A Sociedade Portuguesa no Amazonas. Manaus: Editora Valer, 2007. 

Sobre o autor

Abrahim Baze é jornalista, graduado em História, especialista em ensino à distância pelo Centro Universitário UniSEB Interativo COC em Ribeirão Preto (SP). Cursou Atualização em Introdução à Museologia e Museugrafia pela Escola Brasileira de Administração Pública da Fundação Getúlio Vargas e recebeu o título de Notório Saber em História, conferido pelo Centro Universitário de Ensino Superior do Amazonas (CIESA). É âncora dos programas Literatura em Foco e Documentos da Amazônia, no canal Amazon Sat, e colunista na CBN Amazônia. É membro da Academia Amazonense de Letras e do Instituto Geográfico e Histórico do Amazonas (IGHA), com 40 livros publicados, sendo três na Europa.

*O conteúdo é de responsabilidade do colunista

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