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Sexta, 26 Abril 2024

José Belfort dos Santos Bastos, o herdeiro de um centenário

Era a hora do crepúsculo. O sol cansado de luzir e esplender calor, calou no final do dia e decidira recolher-se ao seu leito de sombras. No último instante, porém, como arrependido do seu programado mergulho no horizonte, despiu cintilações douradas, tingindo de cores todas as nuvens encarregadas de permitir a passagem de seu brilho para aquecer o menino que viria nascer em Manaus em plena floresta amazônica no dia 27 de agosto de 1934.

A cidade de Manaus era um modesto aglomerado urbano de pouco mais de 300 mil habitantes, com todas as características de uma cidade tranquila. A vida fluía sem pressa, seu comércio ainda fechava suas portas para cesta do almoço em um ritmo ditado pelas condições econômicas e culturais de uma cidade à época.

José Belfort dos Santos Bastos na infância. Foto: Abrahim Baze/Acervo pessoal

A população existente dividia o nosso espaço urbano com a vida comercial e residencial. É nesse burburinho intelectual que o jovem José Belfort dos Santos Bastos viveu sua adolescência na Rua Lima Bacuri, 377, Centro.

Felizmente a providência divina presenteia a vida com alguns homens que trazem o coração cheio de luz e bondade. Estes são os construtores de utopias, os semeadores de esperança, trabalham pelo bem comum e ajudam a existência a ser melhor. Às vezes, nem sempre percebemos o brilho e a força humana destas pessoas, afinal poucos seres humanos reúnem os atributos que esse servo do bem traz consigo.

José Belfort dos Santos Bastos. Foto: Abrahim Baze/Acervo pessoal

Seu pai Ascendino T. Bastos foi fundador do Atlético Rio Negro Clube, que nasceu na Paraíba no dia 24 de setembro de 1896 e, formou-se pela Escola de Agronomia de Manáos no dia 9 de fevereiro de 1933. Com o falecimento de seu pai José Belfort dos Santos Bastos ao 10 anos de idade transfere-se com a família para o Rio de Janeiro em 1946, continuou seus estudos no Instituto La-Fayete na Rua Haddock Lobo. Concluindo o ginásio, estudou na Universidade do Brasil, tendo-se formado em Geologia na segunda turma do Brasil. Foi Segundo Tenente do Exército, trabalhado também na Petrobrás.

Casou-se com a senhora Carmem B. S. Bastos, desse enlace nasceram os filhos João Otávio, Letícia e Lucila. Foi diretor do Departamento Nacional de Produção Mineral com participação efetiva no Projeto Pitinga. Na Petrobrás trabalhou por dez anos em pesquisa de campo na área de Geologia do Petróleo. Exerceu inúmeros cargos públicos, tendo sido Secretário de Estado do Meio Ambiente, Ciência e Tecnologia. Escritor festejado publicou contos no segmento do cotidiano, livros nos temas de ciência e ficção, inclusive a Literatura Infantil. 

Os pais: Ascendino Bastos e Lucila Belfort dos Santos Bastos. Foto: Abrahim Baze/Acervo pessoal

Há quem construa na trajetória da vida sua própria história. José Belfort dos Santos Bastos, pode apresentar-se, já a partir de sua inserção no mundo intelectual com uma importante referência de sua caminhada. Suas raízes familiares forjaram o carácter e a formação do homem com precisão cirúrgica de que ali haveria de ter um líder.

Outra identidade presente na vida desse homem é a afirmação de que a cada instante da vida ele se encontra com a dinâmica de fazer algo, algo inovador, diferente, construtivo e com tal magnitude que outras pessoas possam compartilhar essa grandeza. O grande homem olha o mundo e percebe que há nele a presença de algo que o desafia a uma nova missão.

Os avós: Bernardo Fortunato dos Santos e Rachel Belfort dos Santos. Foto: Abrahim Baze/Acervo pessoal

Os homens e a mulheres que almejaram êxitos em suas histórias, tiveram como principal atributo a coragem e o espírito empreendedor. Foram sobretudo, seres que acreditaram em seus sonhos e projetos movidos pelo entusiasmo e pelos ideais, legaram à sociedade uma história de feitos e conquistas. A maior herança desses espíritos esclarecidos e altivos é o exemplo que deixam para seus descentes e a comunidade, especialmente para os jovens de que transformar sonhos em realidade não é impossível. A história exemplar de José Belfort dos Santos Bastos é ilustrativa da capacidade de superação e realização do ser humano.

Ah, Manaus! Quanta saudade da hora do ângelos e o canto das cigarras, cúmplice da missa das 18h no Largo de São Sebastião. Belfort preservou os retratos, guardou suas ruínas, recolheu os pedaços e a partir deles trouxe para nós memórias do passado e de seus familiares. Ele conseguiu fotografar na sua mente e se apropriou de retratos múltiplos e variados na beleza dos tempos de antanho em uma forma poética. 

Sobre o autor

Abrahim Baze é jornalista, graduado em História, especialista em ensino à distância pelo Centro Universitário UniSEB Interativo COC em Ribeirão Preto (SP). Cursou Atualização em Introdução à Museologia e Museugrafia pela Escola Brasileira de Administração Pública da Fundação Getúlio Vargas e recebeu o título de Notório Saber em História, conferido pelo Centro Universitário de Ensino Superior do Amazonas (CIESA). É âncora dos programas Literatura em Foco e Documentos da Amazônia, no canal Amazon Sat, e colunista na CBN Amazônia. É membro da Academia Amazonense de Letras e do Instituto Geográfico e Histórico do Amazonas (IGHA), com 40 livros publicados, sendo três na Europa.

*O conteúdo é de responsabilidade do colunista 


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