Atlético Rio Negro Clube, o apogeu de uma época

De certa forma, a economia da época permitia a prática desse esporte, dentre eles alguns se destacaram: o Satélite Club, Naval Foot-Ball Club, Manáos Sporting Club, Manáos Atlétic Club.

Não foi difícil constituir-se em nossa cidade times de futebol. O apogeu da borracha facilitava com a presença de firmas exportadoras aqui instaladas, cujos escritórios havia grande número de jovens que já praticavam o esporte em seus países de origem. De certa forma a economia da época permitia a prática desse esporte, dentre eles alguns se destacaram o Satélite Club, Naval Foot-Ball Club, Manáos Sporting Club, Manáos Atlétic Club.

“…Na presidência do Dr. Lauro Cavalcante O Rio Negro foi levado para a residência do seu vice-presidente Themistocles Soeiro, na Avenida Joaquim Nabuco 233. Foi nessa sede que se comemorou a grande vitória “Barriga Preta” em 1917 sobre o Nacional Futebol Clube. Nessa sede que foi a segunda, pois a primeira na Rua Henrique Martins 149, residência da família Nascimento. O Dr. Basílio Torreão Franco de Sá transferiu para um prédio maior na Rua Guilherme Moreira 31, canto com a Rua Marques de Santa Cruz, realizando-se ali o segundo baile de aniversário e o Porto de Honra, permanecendo até 1918. A sede entretanto foi ficando acanhada. Na presidência de Francisco de Assis de Souza Guimarães de novo houve mudança de casa. Alugou seu Guimarães do Dr. Argemiro R. Germano o seu palacete à Praça da Constituição n° 10. O Palacete Germano era conhecido também por Chalet da Adelaide, casa de mulheres solteiras. A verve rionegrina foi testada ao máximo, especialmente quando o Nacional Futebol Clube conseguiu alugar para sede a velha “Pension Floreaux” na Rua Epaminondas n 569 um viveiro de polacas. Não queriam saber quantas interpretações saíram das letras significativas N. F. C. e quantos ditados arranjaram os outros para as A.R.N.C.. Não foi longa a permanência do clube no Palacete Germano sua quarta sede. Era sempre a procura de espaço que exigia novos prédios isto, em virtude do sempre crescente número de novos associados. Francisco de Assis Souza Guimarães alugou então o Palacete da Baronesa de Vila Gião, na Rua Marcilio Dias n 46/48 hoje n 259, onde posteriormente se localizaria ” Casa do Trabalhador”.

Isto ocorreu a 22 de fevereiro de 1919. Aqui sim, nesta sua quinta sede já havia panos pra as mangas, por isto que para muitos seria a sede definitiva do clube de Schinda. Foi sem dúvida, desta sede que a expansão rionegrina vicejou até não mais poder, Até voltar a exigir maior espaço físico o que ocorreria a 16 de novembro de 1924, como alugar pelo presidente Mário do Rego Monteiro, do prédio chamado Palacete dos Epaminondas, na Rua Barroso n 25, a sexta e última sede alugada do Athletico Rio Negro Clube. O Palacete Epaminondas foi locado do co-propietário Coronel Albertino Dias de Souza, funcionário estadual”.

*Lira, Manoel Bastos.Sete Décadas de Barriga-Preta. Editora Calderaro. Manaus 1987

Rio Negro, Manaus, 1947. Foto: Abrahim Baze/Acervo pessoal

O simpático clube “Barriga Preta” com apenas cinco anos de existência comprovou, por eleição direta que já havia penetrado na sociedade manauara. O coronel Aggeo da Costa Ramos fundara um jornal de fronte ao antigo Banco Meridional onde mais tarde foi instalada a loja Queive Magazine Ltda. na Avenida Sete de Setembro n 860. A “Gazeta da Tarde” assim se intitulava o referido jornal que na época se ombreava junto ao Jornal do Comércio, A Imprensa, Folha do Povo e O Tempo.

O concurso promovido pela A Gazeta da Tarde revelaria a sociedade amazonense através de votação direta qual dos clubes do Foot-Ball da época que concorreria ao prêmio, participavam do concurso o Atlético Rio Negro Clube, o Luso Sporting Club, o Nacional Futebol Club, a União Esportiva Portuguesa, o Manáos Sporting, a Associação Athlética Desportiva, o América Futebol Club, a União Esportiva Herspanhola, o Amazonas Futebol Club, o Monte Cristo Futebol Club, o Brasil Sport Club, o Paysandu Futebol Club, a Liga Sportiva Italiana. Em 6 de outubro de 1918, o Atlético Rio Negro Clube foi declarado vencedor com 3.703 votos o segundo colocado foi o Luso Sporting Club com 3.485 votos, tendo sido entregue uma placa em prata ao vencedor. Mais tarde em 17 de abril de 1929 no aniversário da Revista de Carlos da Silva Mesquita, “Amazonida”, o Atlético Rio Negro Clube foi eleito o mais querido do Amazonas.

De certa forma, foi na sede da Rua Marcilio Dias n° 4648, hoje n° 259, o “Palacete Vila Gião” que o clube cresceu de vez e saiu para suas grandes vitórias esportivas e sociais. Isso ocorreu em agosto de 1919, o presidente do Atlético Rio Negro Clube, o Maranhense Francisco de Assis de Souza Guimarães promoveu os bailes de segunda-feira gorda, o baile infantil e o baile de sábado de aleluia e a obrigatoriedade de ornamentar a sede. Foi neste momento que nasceu o celebre “Tanguinho” do maestro João Donizette Gondim.

Ascendino Bastos, fundador que esteve na inauguração do clube. Foto: Silvino Santos/Acervo Abrahim Baze

No caminho da sede própria liderada por Flavio de Castro, o clube vinha sempre a frente das realizações socioesportivos. Por mais ousado que fosse os adversários este jamais poderia pôr em dúvida as decisões de construir sua sede definitiva. Preparava-se a diretoria para um salto bem mais que os que tinha enfrentado ate agora, era chegado o momento de construir sua sede própria, muitos foram aqueles que se aliaram a esse momento como, Raimundo York Storry, Americo Lages Rebelo, este tio do professor Manoel Bastos Lira, Joaquim Azpilicueta, João Huascar de Figueiredo, Aristophano Antony, Romualdo Seixas, Manuel Rodrigues Lira, este pai do professor Manoel Bastos Lira, Genesino Braga, Jorge de Aguiar Andrade, Oscar Guimaraes Maia, Álvaro Sinfrônio de Melo todos diretores do clube.

A ideia foi lançada numa segunda-feira dia de reunião do clube e logo começara a ser vendido o título de proprietário por um conto de reis. O presidente Flavio Augusto de Menezes Castro que era médico e consultava na “Farmácia Studart”, outro rionegrino que muito contribuiu foi Ruy Araujo, Joaquim Azpilicueta continuava a difícil missão de vender os títulos.

Ascendino Bastos e Lucila Belfort dos Santos Bastos – Casamento. Foto: Abrahim Baze/Acervo pessoal

Em 1938 viu então o começo da concretização daquela ideia do presidente Flavio Augusto de Menezes Castro e o seu companheiro de diretoria João Huascar de Figueiredo jurista de mão cheia e orador do clube escreveu um pedido a Prefeitura Municipal, para a obtenção de um terreno onde se edificaria o Palácio Rionegrino. Não foi uma tarefa fácil Huascar começou a juntar documentos para anexar a petição. Vale a pena lembrar, que este mesmo terreno da antiga Praça 5 de setembro, já havia sido doado ao Schinda Uchoa por Basílio Torreão Franco de Sá em 1913, sem, contudo, ter sido oficializado pela municipalidade. Em sua petição provou ainda que a faixa que o prefeito Ayres de Almeida havia cedido ao clube no antigo Bosque Municipal, por um mecanismo regular também acabou sendo doado ao 27 BC.

O prefeito de então era o agrônomo Antonio Botelho Maia, irmão do sócio Benemérito Álvaro Botelho Maia, então Interventor do Estado encaminhou a documentação para a Procuradoria Jurídica. O Procurador Municipal Dr. José Francisco Monteiro Junior logo atendeu o pedido e encaminhou a solicitação ao Prefeito Antonio Botelho Maia, sugerindo que atendesse a solicitação do clube.

Atendeu então o prefeito Antonio Maia e propôs ao Dr. João Huscar de Figueiredo, em troca o terreno que havia sido o antigo Cemitério São Jose, neste momento houve também a participação do urbanista professor Olímpio de Menezes. O atlético rio Negro Clube, perderia apenas 20 metros se comparada a área solicitada na época. A solução proposta foi aceita e o prefeito Antonio Maia, marcou a data para recepção de entrega em seu gabinete foi oficializado a doação do terreno para construção da sede própria do clube. Esse fato ocorreu a 22 de maio de 1938, dessa forma o clube ficou com a área que ficava diante a Praça da Saudade.

Documento de Ascendio Bastos. Foto: Abrahim Baze/Acervo pessoal

Ao passar alguns anos, a sede do clube neste terreno através do Decreto Lei Municipal de n 164 de 18 de agosto de 1949, o então prefeito da época Raimundo Chaves Ribeiro, ratificou a posse definitiva da área que desta data em diante passou ter a posse definitiva, tendo sido lavrada a escritura no Cartório do primeiro tabelião Dr. Manuel da Rocha Barros em 08 de março de 1959.

Para a cerimonia pública do lançamento da Pedra fundamental a diretoria convidou Dom Basílio Pereira, Bispo Diocesano, que veio acompanhado pelo seu chanceler R. P. Pierre Mottais, para promover a benção. Foi convidado pela diretoria Ariolino Azevedo que produziu o croqui que foi enviado a Manoel Antonio Gomes para entregar ao arquiteto Aluísio Araújo no Rio de Janeiro.

Foi escolhido para construir o Palácio Rionegrino a empresa J. Lopes & Cia. , dirigida pelo Sr. Gaspar, indicação feita pelo próprio arquiteto Aluízio Araujo, de família tradicional que concluiu se curso na Escola Politécnica de Zurich, Suíça, que regressou a Manaus trazendo consigo o desenhista suíço Alexandre Deneriaz que mais tarde passou a trabalhar na Manaus Tramways que também fez a planta da Fábrica de Borracha e Vulcanização de Saltos.
Antes da inauguração oficial o Palácio Rionegrino, a diretoria promoveu o primeiro Porto de Honra em 1941 com um almoço a diretoria e convidados.
Quatro anos depois do início da construção em 1942, o clube saia do Palacete dos Epaminondas, na Rua Barroso e ocupava sua sede própria o Palácio dos Espelhos na Av. Epaminondas.

O Memorável Dia da Inauguração

Após este ato, o Dr. Flávio de Menezes Castro, presidente do Clube, leu um expressivo e eloquente relatório, dizendo do trabalho realizado e dos benfeitores da grande obra que inegavelmente, constitui um patrimônio do Estado, onde já foi gasta a quantia de seiscentos e cinquenta contos de réis. Em seguida todos se dirigiram à parte posterior do prédio, local onde está sendo construída a quadra de vôlei e basquete do clube, a qual, em homenagem justa, recebeu o nome do “Interventor Álvaro Maia”.

Servida uma taça de champanhe aos presentes, o chefe do executivo acompanhado das autoridades e diretores do Clube, visitou as dependências do prédio, tendo tido palavras entusiasmo pelo que estava verificando, o que chegou a classificar de “trabalho notável e que honra a cultura social de um Estado”.

(À esquerda) Edgar Lobão, fundador e primeiro presidente do Rio Negro. (À direita) Schinda Uchôa, idealizador do Rio Negro. Fotos: Abrahim Baze/Acervo pessoal

S.Excia assistiu também, à inauguração do conjunto musical “Barriga-Preta” composto por um grupo de jovens rionegrinos, pujantes elementos representativos da mocidade amazonense, obedecendo à direção do Dr. Gebes de Melo Medeiros, esforçado subdiretor social do Clube.

Encantado com a organização rinegrina S.Excia., ouviu atentamente a execução de três números, deixando em livro especial as suas impressões, as quais publicaremos amanhã em uma notícia mais ampla.

Agradecendo aos diretores do Rio Negro as homenagens que estava recebendo e felicitando os mesmos, em nome do poder público, pela obra que realizaram em prol do Estado, o Interventor Álvaro Maia despediu-se retirando-se ás 22 horas. Durante a inauguração tocou a banda musical da Força Policial do Estado.

Dos sócios-fundadores do clube, estavam presentes Antonio Rebelo, João Falcão, Leopoldo Amorim da Silva Neves e Ascendino Bastos. Todos os vivos receberam Convite. Entretanto, as perturbações ocasionadas pela guerra, especialmente, nas comunicações e na navegação devem ter influído negativamente para que outros marcassem presença em ato como este, tão reanimador para si.
Todos os Departamentos do Clube passaram a ocupar as suas dependências no Palácio dos Espelhos, enquanto a Diretoria dava início à construção das quadras para a prática do Vôlei e Basquete, um “ring” para patinação e lembra sempre s associados que tudo isto deveria ser provisório, porque o Clube, pretendia fazer ali uma construção bem mais ampliada e destrutiva.

* Lira,Manoel Bastos. Sete Décadas de Barriga Preta. Manaus 1987. Editora Calderaro.

* Ata de inauguração do clube 1942

Sobre o autor

Abrahim Baze é jornalista, graduado em História, especialista em ensino à distância pelo Centro Universitário UniSEB Interativo COC em Ribeirão Preto (SP). Cursou Atualização em Introdução à Museologia e Museugrafia pela Escola Brasileira de Administração Pública da Fundação Getúlio Vargas e recebeu o título de Notório Saber em História, conferido pelo Centro Universitário de Ensino Superior do Amazonas (CIESA). É âncora dos programas Literatura em Foco e Documentos da Amazônia, no canal Amazon Sat, e colunista na CBN Amazônia. É membro da Academia Amazonense de Letras e do Instituto Geográfico e Histórico do Amazonas (IGHA), com 40 livros publicados, sendo três na Europa.

*O conteúdo é de responsabilidade do colunista


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