Sociedade Beneficente Portuguesa do Amazonas – de Jorge de Moraes à Eduardo Manarte

É fundamental entender como os portugueses aqui chegaram e de que forma exerceram sua tutela na formação do novo núcleo habitacional, principalmente na construção do Hospital Português.

Hospital Beneficente Portuguesa em Manaus. Foto: Divulgação/HPAM

A verdade é que, para reconhecer-se em toda a sua extensão, em todo seu significado em todas as suas minucias, o que tem sido a ação dos portugueses no Brasil é fundamentalmente indispensável saber como ele aqui chegaram, como se aclimataram e de que forma exerceram sua tutela na formação do novo núcleo habitacional, quais foram os pontos de suas diretrizes no tocante a nova civilização, principalmente de que recursos se serviram para ocupar e construir o Hospital Português. Especialmente como administraram a construção de importantes casas de saúde com destaque para: a Beneficente e a Santa Casa de Misericórdia, ambas em Manaus.

Cumpre ver como eles aqui trabalharam e continuam trabalhando no passado e no presente, médicos, enfermeiros, funcionários administrativos, presidente da diretoria e diretores. Tudo isso construído em uma cidade em plena selva amazônica, com toda escassez daquele período. Portanto, temos que fazer embora em resumo, com possível clareza, um estudo histórico da presença da medicina no Amazonas, tema muito bem estudado e explorado pelo Professor, Doutor João Bosco Botelho com vários livros publicados neste segmento, criando dessa forma a oportunidade de divulgar esses fatos históricos, destacando nomes que permanecem no esquecimento, restituindo-se o respeito às suas memórias, como, por exemplo, na pessoa do Doutor Jorge de Moraes e, como se destaca atualmente, o Doutor Eduardo Manarte Gonçalo.

Jorge de Moraes

Dr. Jorge de Moraes – Médico – Sócio Benfeitor. Em 1910, na função de Senador da República, passou a se interessar pelos problemas da Beneficente Portuguesa. Em 1911 instalou o primeiro laboratório de Análises Clínicas. Em 10912, por sua determinação, foram comprados vários aparelhos hospitalares. Foi Diretor Clínico de 1912 a 1920. Em 1921 ausentou-se para o Rio de Janeiro até 1931 e faleceu em 1947 no Rio de Janeiro. Foto cedida pelo professor Mário Ypiranga Monteiro.

O Dr. Jorge de Moraes nasceu em Manaus a 18 de julho de 1878. Bem cedo, quando ainda menino revelou-se muito inteligente. Seu pai o mandou estudar na Bahia, em cuja capital, Salvador, fez o curso de Medicina, conquistando sempre notas bem altas.

Depois viajou para a Europa, percorrendo vários países, demorando-se em Paris para aprofundar seus estudos.

Regressa a sua terra, casa-se, mas sua esposa falece em pouco tempo.

O Dr. Jorge de Moraes dedicou-se a cirurgia, conseguindo ser primus inter pares, muito trabalhando e amealhando recursos para realizar nova viagem ao Velho Mundo, desta vez permanecendo mais tempo na Itália. Retornando a Manaus em um dos luxuosos paquetes da Companhia Ligure Brasiliana, que faziam duas linhas de navegação mensal a capital manauense, encontra grassando alarmante, em Belém, a peste bubônica, fazendo numerosas vítimas. O navio prosseguindo viagem ao passar pela cidade de Parintins, que não era porto de escala, é intimado a atracar para fazer expurgo. O comandante desobedece e o fato é comunicado às autoridades sanitárias de Manaus. Lá chegando, o navio é privado de encostar. O Dr. Vivaldo Palma Lima era a figura principal da ação na qualidade de inspetor de Saúde do Governo Federal. O paquete estava repleto de passageiros e o Dr. Jorge de Moraes, a frente de todos, berra e gesticula, protestando contra aquilo que chamava violência, ilegalidade. Nada houve que demovesse do seu dever o Dr. Vivaldo Lima. O barco italiano faz a manobra rumo a Parintins e, ali, realizou a profilaxia. E, assim, desembaraçado, sobe novamente o Amazonas e o Rio Negro, atracando em um dos flutuantes da Manaus Harbour. Se os navios nacionais cumpriam a lei brasileira, porque um barco estrangeiro haveria de desmoralizá-la? O Dr. Jorge de Moraes não tinha razão. O certo é que a peste, tão contagiosa, ficou circunscrita a Belém, não havendo um caso a lamentar no Amazonas.

O ilustre cirurgião reenceta as suas atividades e entra na política. Pelo seu trabalho de consultório e de hospital, amealha recursos e constrói o palacete de sua residencia, a rua que, mais tarde, teve o seu nome, mas hoje é Ruy Barbosa.

Vaga um lugar de senador pelo estado, o Dr. Jorge de Moraes é eleito e toma posse. A sua vasta cultura e o seu talento oratório fizeram-no um grande parlamentar.

Quando George Clemenceau, presidente do Conselho de Ministros da França esteve em nosso país, em setembro de 1910. especialmente para trazer as saudações do seu governo, dirigindo-se ao senado brasileiro, foi o Senador Jorge de Moraes o incumbindo de proferir o agradecimento. E o fez com brilho e veemência, em sessão de 21 de setembro de 1910.

A título de prova e curiosidade, transcrevo, aqui somente o exordio da peça oratória, no próprio idioma usado:

Monsieur George Clemenceau: Lei Senat Bresilian ayant I’honneur de vous recevoir comme veritable gloire de la France Republicaine, a montré son armour pour les contrastes, puisqu’il a choise le plus obscur des ses membres pour saluer un geante de votre taile intellectuele et politique.

Malgre cela, l’éclat de votre nom, la lumiere geniele de votre esprit, la noble hardiesse de vos combats, m’ont seduit de telle maniere que me voice ému, surpris de tant de courage innattendu, insoupçonné (O Dr. Jorge de Moraes, Senador pelo Estado do Amazonas, em 1909-1910, pág. 7 – Paris.)

Ao representante do Amazonas no Senado, estava ainda reservada, sem que o tivesse percebido outra gloriosa tarefa: a de defender sua terra da prepotência do bombardeio de Manaus efetuado a 8 de outubro de 1910, pelas forças federais para esse fim acantonadas naquela cidade. (Sobre o fato, reservo-me para falar em outra ocasião).

Por força da reforma da constituição na época, vigente no Amazonas, que determinou a outorga da autonomia politica aos municípios, o Dr Jorge de Moraes, Senador da República vai ao Governador e manifesta-lhe o desejo de ser o primeiro Prefeito de Manaus, por sufrágio popular. A suprema autoridade pondera-lhe o fato de ser cargo de senador muito mais importante e, politicamente bem mais valioso, no que Jorge de Moraes retruca: “Insisto na minha pretensão”. – Então pode contar comigo, diz-lhe o Coronel Bittencourt.

O Dr. Jorge de Moraes foi, realmente, o primeiro prefeito constitucional do Amazonas que não conhecia esse processo de investidura na rede dos seus municípios.

O Governador não podia deixar de anuir ao amigo que tanto o tinha defendido no caso do bombardeio de Manaus.

Uma vez investido no cargo para o qual não fora convidado, mas se impusera, planejou alguns melhoramentos na cidade, para cuja realização não poderia contar somente com os recursos da arrecadação tributaria normal. Cogitou, então, de um empréstimo tomado no estrangeiro, que dependia da anuência do Governador, que ao saber do destino do empréstimo, dá a sua aprovação verbal.

Aconteceu, porém, que os banqueiros exigiram que só o dariam se fosse empregado na reconversão de certas dívidas do estado e da municipalidade. Eram cerca de 33.000 (trinta devendo aquela fabulosa quantia, sem ter realidade um só melhoramento.

A administração do Dr. Jorge de Moraes foi quase toda consumida em debater aquela operação de crédito, que era combatia por todos os lados.

O ex-senador apenas pode realizar pequenos empreendimentos, arrancados ao magro orçamento do município. Terminada sua gestão, o prefeito estava cansado e irritado, coisa costumeira na sua psicologia.

Ao entregar o mandato ao seu sucessor legal, fez distribuir aos circunstantes centenas de exemplares de um manifesto, de um só teor: uns com a epigrafe “Aos Meus Amigos”, nos outros exemplares: Aos Cães.

Quem quiser melhor conhecer as realizações municipais do triênio administrativo do Dr. Jorge de Moraes, procure excelente Anuário de Manaus para 1913-1914, organizado por Heitor de Figueiredo – 1943 – Lisboa.

Somente agora posso penetrar no íntimo, não singular, mas extraordinário do nosso emérito senador. A psicologia é uma ciência que nos fatos, gestos e pensamentos dá-nos o facies da alma.

Sempre formei o conceito, referente ao Dr. Jorge de Moraes de se tratar de um homem neurastênico, parecendo conter dentro de si uma fornalha extravasante. Por motivos ou sem eles, explodia de quando em quando. Que se recordem as enfermeiras do hospital da Sociedade Beneficente Portuguesa e de outros.

Acontece, porém, que estas linhas já ultrapassam os seus limites.

Ninguém pode negar o tamanho de um gigante.

O Dr. Jorge de Moraes foi um dos vultos mais insignes de nosso passado.

Há quem construa na trajetória da vida sua própria história, o médico e professor Eduardo Manarte Gonçalo pôde apresenta-se, já a partir de sua inserção no mundo do saber e ao futuro, tendo como referência a busca do conhecimento e o trabalho.

Dr. Eduardo Manarte Gonçalo. Médico – Atual diretor clínico. Foto: Abrahim Baze/Acervo pessoal

O diretor clínico do Hospital Português Eduardo Manarte Gonçalo tem outra identidade presente em sua vida é a afirmação de que a cada instante da vida ele se encontra com a dinâmica de fazer algo, algo inovador, diferente construtivo em benefício do Hospital Português e com tal magnitude que outras pessoas pudessem compartilhar essa grandeza. Ele afirma a sua convicção de que o homem é mestre de seu próprio destino, o grande homem olha o mundo e percebe que há nele a presença de algo que o desafia ao uma nova missão.

Tem sido brilhante a atuação do diretor clínico, médico e professor Eduardo Manarte Gonçalo, que nasceu em Manaus, no dia 20 de outubro de 1952. Filho de José dos Santos Gonçalo, natural de Moimenta da Beira-Portugal e, de Emiliana Manarte Gonçalo, natural de Manaus.

Recebeu os primeiros ensinamentos frequentando o Grupo Escolar Nilo Peçanha, no qual cursou o primário de 1960 à 1963. No Colégio Estadual do Amazonas cursou o Ginásio no período de 1964 à 1967, o colegial de 1968 à 1970. Estudou o curso de Medicina na Faculdade de Ciências e Saúde da Universidade do Amazonas de 1971 a 1977.

Após a conclusão do Curso de Medicina ingressou no Exército Brasileiro, a fim de cumprir serviço militar obrigatório, sendo destacado para trabalhar no 5° Batalhão de Engenharia de Construção, sediado em Porto Velho/RO, atuando com a patente de Tenente R-2, no período de 1978 a janeiro de 1979. Na ocasião, desempenhou sua profissão no Ambulatório Médico da própria Corporação e na Policlínica de Porto Velho.

Desejando desempenhar suas atividades profissionais na sua terra natal, voltou à Manaus em Janeiro de 1979. Aprovado em concurso público para docência na Faculdade de Ciências da Saúde da Universidade do Amazonas em 1979, permanecendo na função até se aposentar.

Participou de Curso de Pós-Graduação (PICD) promovido pela Universidade do Amazonas em 1974. Foi responsável pela disciplina de Ginecologia, do Departamento de Materno-Infantil da FCS/UA, no ano 1991. Plantonista da Maternidade do Hospital Beneficente Portuguesa desde 1980.

O Luso-Brasileiro Médico e Professor Eduardo Manarte Gonçalo faz parte de plêiade de jovens médicos raro e fecundo, cuja, humildade o faz ser retraído, porém, no exercício da profissão faz transbordar inteligência e responsabilidade, podemos dizer que é um apóstolo da Medicina especialmente como professor.

O Doutor e Professor Eduardo Manarte Gonçalo é um vitorioso, pois sua vida é alicerçada na crença de que o maior patrimônio que os pais podem legar aos filhos é o conhecimento e, isso ele o fez, pois tem um filho advogado, uma filha dentista e uma filha médica.

Sobre o autor

Abrahim Baze é jornalista, graduado em História, especialista em ensino à distância pelo Centro Universitário UniSEB Interativo COC em Ribeirão Preto (SP). Cursou Atualização em Introdução à Museologia e Museugrafia pela Escola Brasileira de Administração Pública da Fundação Getúlio Vargas e recebeu o título de Notório Saber em História, conferido pelo Centro Universitário de Ensino Superior do Amazonas (CIESA). É âncora dos programas Literatura em Foco e Documentos da Amazônia, no canal Amazon Sat, e colunista na CBN Amazônia. É membro da Academia Amazonense de Letras e do Instituto Geográfico e Histórico do Amazonas (IGHA), com 40 livros publicados, sendo três na Europa.

*O conteúdo é de responsabilidade do colunista

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