Edna Frazão Ribeiro em trajes de banho. Foto: Abrahim Baze/Acervo pessoal
Por Abrahim Baze – literatura@amazonsat.com.br
Segundo o autor Leandro Tocantins, Manaus era uma cidade de suaves colinas e que desdobrava-se em vistas múltiplas para quem a cruze nas avenidas e ruas de seu lúcido urbanismo.
“E não deixa de impressionar a obra urbanizadora da capital, creditada ao Governador Eduardo Ribeiro, O Pensador (assim os amazonenses costumavam chamá-lo). A topografia da cidade antes de Eduardo Ribeiro vislumbrava-se em cortes hidrográficos com os seguintes igarapés: Salgado, Castelhana, Bica, Espírito Santo, Manaus, Cachoeirinha, São Raimundo e Educandos. As fachadas residenciais, embora com predomínio neoclássico, apresentava muito sinais de art nouveau. Notável é o foyer de honra, em puro estilo veneziano, com mármores, espelhos e candelabros importados”. Pág. 230¹
Primeiro Concurso de Miss Brasil
Edna Frazão Ribeiro, diferente de outras misses eleitas neste período, teve sua escolha através dos diários associados na época do Jornal do Comércio e Rádio Baré que, enquanto a rádio divulgava o concurso em si o Jornal do Comércio fazia publicar um folheto para que a população recortasse e coloca-se seu voto, que era recebido através de urna na porta do Jornal. Desta forma ela foi a primeira e única a ser escolhida através do voto popular.
A sociedade manauara, através dos dois principais clubes sociais da época, Ideal Clube e principalmente o Atlético Rio Negro Clube, também estavam engajados no processo da escolha da candidata. A viagem ao Rio de Janeiro, cidade onde ocorreria o evento, foi longa. Edna se fez acompanhar pelo seu irmão.
Mulher morena de estatura moderada, rosto iluminado e se faz apresentar naquele momento usando um belo vestido azul-ferrete, partido de branco, com motivos bordados multicoloridos. Em plena elegância moderna para época trazia em seu pescoço um colar gracioso de contas triangulares.
Ela era filha de Adrião Ribeiro Nepomuceno e de Rosa Frazão Ribeiro. Uma de suas principais características era o sorriso que mostrava graça e encantamento.
Embora seu encantamento pela cidade maravilhosa, a nossa miss amazonas destacou-se aos jornais da época no Rio de Janeiro que trazia consigo as lembranças e impressões de nossa região sem nenhum momento perderam o encantamento da cidade que ora visitava. Normalista, dedicada aos estudos, tinha como maior passatempo o conhecimento através de leituras. Seus autores preferidos eram Gonçalves Dias e Castro Alves. Destacava também que papel da mulher na sociedade era o lar.
Declarava também à época que não era desportista, mas admirava a natação. Sua cor predileta era rosa, gostava de pintura e música, amava o sol e quando caminhava pela rua sequer procurava o lado da sombra, afinal vinha de uma cidade de exuberante natureza e rios caudalosos. Apreciava também os passeios de bonde.
Esses pormenores foram dados como entrevista para a revista Flores do Brasil – O livro das Misses, com texto de Raimundo Lopes e desenhos de Porciúncula Moraes, publicado no Rio de Janeiro em maio de 1929. No seu retorno a Manaus ela foi efusivamente recebida pelo povo e homenageada na então sede do Atlético Rio Negro Club, na rua Barroso nº 15.

A formação da família
Transcorria o ano de 1930, o jovem magistrado João Pereira Machado homem probo e fiel defensor dos ensinamentos da magistratura que transformara sua vida em sonhos e muito trabalho, apaixonou-se pela beleza e pelo caráter da então jovem Edna Frazão Ribeiro e, assim, casaram-se dando início suas histórias de vida, deixando a cidade de Manaus para trabalhar nos confins do Amazonas na cidade de Humaitá.
Enfrentaram o mundo desconhecido de rios, florestas e muita dificuldade para adaptar-se a nova realidade que com muita coragem desnudaram silenciosamente a tão almejada felicidade. Esse é um aspecto peculiar guardado na memória de um de seus filhos, o médico e humanista Gil Machado, que busca da memória para viajar no tempo como se houvesse falas de um período não muito distante a contar passo a passo esse tempo vivido.
O médico Gil Machado voltou no tempo e com voz pausada sem esmorecer dá lugar ao olhar vazio que vem de dentro de si mesmo para rememorar este tempo sustentado por esteios de forte lembrança. O tempo passa e a família cresce com o nascimento de sua primeira filha, Cláudia Rosa. Era o ano de 1932. Em 1933, celebra-se a chegada do segundo filho João Lúcio e, em 1936, o terceiro filho Gil Machado.

Estava a porta o ano de 1940 e, por força de sua profissão, a família transfere-se para a cidade de Parintins, os tempos eram difíceis e havia na família uma preocupação relacionada aos estudos dos filhos e dessa forma Cláudia Rosa passou a ser aluna interna do Colégio Nossa Senhora Auxiliadora e, em seguida, João e Gil também seguem o mesmo caminho: passaram a ser alunos internos do Colégio Dom Bosco.
Em 1943 João Pereira Machado perde sua companheira, naquele período a situação das cidades do interior era muito difícil sem água tratada. Edna contrai o Tifo, doença implacável e sem grandes recursos, e ela vem a falecer, somente em 1950 foi descoberto o antibiótico que combateria este mal, chamado (Cloromicetina). O jovem magistrado tinha que continuar a criação dos filhos e a proposta de uma educação condizente. E assim, o jovem magistrado em 1945 contrai núpcias com Maria Arminda Botelho Mourão de família tradicional e filha do Desembargador Hamilton Mourão. Deste casamento nasceu sua filha Edna Maria Mourão Pereira Machado.
Os filhos Gil e João Lúcio foram estudar no Colégio Pedro II, (hoje Colégio Estadual do Amazonas) e, mais tarde João Lúcio e Gil concluíram o curso de Medicina na Faculdade Federal Fluminense do Rio de Janeiro. O magistrado João Pereira Machado transfere-se para Manaus ainda como Juiz e tempo depois assume o cargo de Desembargador do Tribunal de Justiça do Estado do Amazonas.
Seu filho e médico João Lúcio Machado deu uma importante contribuição na área da medicina para o Estado do Amazonas e empresta seu nome ao grande hospital na zona leste de Manaus.
Quando foi prefeito de Parintins Gláucio Gonçalves juntamente com a Câmara Municipal de Parintins presta em memória de Edna Frazão Ribeiro uma significativa homenagem, além de eloquentes discursos permitiram o translado dos restos mortais de Edna para Manaus e aqui foi enterrada na sepultura perpétua no Cemitério de São João Batista onde já encontrava-se seu esposo João Pereira Machado.

Fontes
Revista Café e Cultura – Jornalista Giuliana Vallone
¹TOCANTINS, Leandro. O Rio Comanda a Vida – Uma interpretação da Amazônia. 9ª edição. Manaus: Editora
Valer/Edições do Governo do Estado, 2000. Página 230
*Informações dadas pelo seu filho o médico e humanista Gil Machado
Sobre o autor
Abrahim Baze é jornalista, graduado em História, especialista em ensino à distância pelo Centro Universitário UniSEB Interativo COC em Ribeirão Preto (SP). Cursou Atualização em Introdução à Museologia e Museugrafia pela Escola Brasileira de Administração Pública da Fundação Getúlio Vargas e recebeu o título de Notório Saber em História, conferido pelo Centro Universitário de Ensino Superior do Amazonas (CIESA). É âncora dos programas Literatura em Foco e Documentos da Amazônia, no canal Amazon Sat, e colunista na CBN Amazônia. É membro da Academia Amazonense de Letras e do Instituto Geográfico e Histórico do Amazonas (IGHA), com 40 livros publicados, sendo três na Europa.
*O conteúdo é de responsabilidade do colunista
