Celebração da vida e da esperança: Avelino Rodrigues Lobo – uma história e um legado

Avelino Rodrigues Lobo forjou novos padrões, valores e atitudes sobre a vida, a sociedade em que viveu e muito especialmente a família.

Ao ser humano foi dado o desfio de navegar as agitadas águas do tempo. Viver é vencer as provações que a existência nos impõe cotidianamente e cumprir com altivez e dignidade a travessia, inclusive ajudando seus irmãos também atravessar. Afinal, o que é a vida se não vencer as distâncias e os limites. E depois? Depois retornar a fonte originaria onde a correnteza da vida brota e onde reinam os mistérios da providência divina. Compreender esse milagre e esse enigma é condição indispensável para uma existência enriquecedora e feliz, especialmente para aqueles que passaram entre nós procurando fazer o bem. 

Foto: Reprodução/Acervo da família

Avelino Lobo atravessou o Atlântico com apenas seis meses de vida, nascido em Ponte de Lima Gerais, em Portugal, aportou em Manaus no dia 30 de junho de 1931, em companhia de seus pais, Alexandre Rodrigues Lobo e Rosa Rodrigues Lobo. O patriarca Alexandre Rodrigues Lobo, em Manaus, passou a trabalhar na Serraria Rodolfo, mais tarde, Companhia do Norte, situada a rua Luiz Antony, esquina da rua Wilkens de Mattos no antigo bairro dos Tocos, hoje Aparecida.

Casamento de Avelino Rodrigues Lobo com Maria do Alivio Neves Lobo. Foto: Reprodução/Acervo da família

Os anos foram passando e em 1950, Avelino Rodrigues Lobo, parte de Manaus para fazer uma especialização em técnicas de laminação, no Estado do Paraná, ao retornar, tornou-se uma espécie de braço direito de seu pai, na serraria. Na década de 50 contraiu matrimônio coma senhora Maria Alívio Neves, desta união nasceram Maria do Perpetuo Socorro Neves Cabral, Rusberval Neves Lobo e Kátia Maria Neves.

Avelino e Maria deram continuidade na construção da família e foram morar na Avenida Eduardo Ribeiro em frente a antiga sede do Jornal do Comércio. Avelino Lobo já muito cedo se destacava em eventos culturais e teve uma participação importante juntamente com o jornalista Bianor Garcia, nos primórdios do Festival Folclórico do Amazonas, um detalhe interessante é que foi no festival folclórico que Avelino conheceu sua esposa Maria Alívio, cujo, casamento ocorreu nove meses após terem se conhecido na residência dos pais da noiva, à época na rua 24 de maio, sob as bênçãos do arcebispo de Manaus à época Dom Alberto Gaudêncio Ramos.

A sua direita, o pai e mãe de Avelino, Alexandre e Rosa Lobo. No lado esquerdo, o pai de Maria, Arnaldo Neves. Foto: Reprodução/Acervo da família

Avelino Rodrigues Lobo pertenceu a velha guarda dos diretores do Luso Sporting Club e se dedicou enquanto permaneceu entre nós. Dos seus inúmeros fazeres na sua atividade profissional dedicava seu precioso tempo para receber seus amigos em seu restaurante.

Sonhar e acreditar, dessas duas qualidades resultam as realizações sociais de um homem e os afazeres do espírito humano, fatores indispensáveis para a perpetuação das aspirações enobrecedoras e a construção de possibilidades efetivas para a existência humana. Na verdade Avelino Rodrigues Lobo forjou novos padrões, valores e atitudes sobre a vida, a sociedade em que viveu e muito especialmente a família. Esses caminhos, que se descortinam resultaram do seu entusiasmo, da fé e da crença do seu trabalho. 

Avelino Rodrigues Lobo desfilando no aniversário do Clube, em 1950. Foto: Reprodução/Acervo da família

No Luso Sporting Club viveu a efervescência cultural de uma época de ouro, cujas lembranças fazia questão de lembrar. Foi nesta agremiação que ele guardou a sua história ao lado de diversos nomes e personalidades destacadas. Ao longo de sua existência participou efetivamente do clube ao lado de presenças constantes e obrigatórias nos bailes e festas promovidas pelo clube, que ainda hoje resiste ao tempo com boas lembranças. Quero crer que Avelino Lobo, enquanto viveu entre nós mostrou sua expressão artística com grandiosidade e talento. Sua trajetória foi reveladora de seus múltiplos compromissos com a vida e a família e naturalmente com a possibilidade da construção de uma sociedade fundada no respeito e nos valores humanos.

Os homens e mulheres que lograram êxito em suas histórias, tiveram como principal atributo a coragem e o espírito empreendedor. Foram, sobretudo, seres que acreditaram em seus sonhos e projetos, movidos pelo entusiasmo e pelos seus ideais, legaram a seus familiares e a sociedade em que viveu uma história de feitos e conquistas.

Rubesval Neves Lobo, Cátia Neves Lobo e a senhora Maria do Alivio Neves Lobo e Socorro Neves Lobo. Foto: Reprodução/Acervo da família

Ah! Manaus, quanta saudade dos bolinhos de bacalhau e o shop gelado da Choperia Lobo. Perdoe-me a pretensão de querer ver-te na sedução de teu passado. Também te vejo e nem por isso menos querida em estamparia de chita, a sacudir a sonolência da cidade velha, com a frivolidade do teu comércio pujante. É de fato a volta de uma Manaus a luz de lamparinas e de lampiões, perdendo seu brilho para o sol que acabara de nascer, reduzindo frenesi de suor na pele morena de tuas meninas moças com forte lembrança da grã-finagem que ali se reunia para jogar conversa fora. Avelino Lobo preservou os retratos, guardou suas ruínas, recolheu os pedaços e a partir deles nos foi possível construir seu passado. Ele partiu, mas deixou fotografado na mente daqueles que os conheceram, retratos múltiplos e variados na beleza dos tempos de antanho.

Faça-se publicar na eternidade de boas lembranças da família Rodrigues Lobo. 

Sobre o autor

Abrahim Baze é jornalista, graduado em História, especialista em ensino à distância pelo Centro Universitário UniSEB Interativo COC em Ribeirão Preto (SP). Cursou Atualização em Introdução à Museologia e Museugrafia pela Escola Brasileira de Administração Pública da Fundação Getúlio Vargas e recebeu o título de Notório Saber em História, conferido pelo Centro Universitário de Ensino Superior do Amazonas (CIESA). É âncora dos programas Literatura em Foco e Documentos da Amazônia, no canal Amazon Sat, e colunista na CBN Amazônia. É membro da Academia Amazonense de Letras e do Instituto Geográfico e Histórico do Amazonas (IGHA), com 40 livros publicados, sendo três na Europa.

*O conteúdo é de responsabilidade do colunista


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