Atlético Rio Negro Clube: museu mostra o sonho de garotos que se fez realidade

Resultado de 15 anos de pesquisa, o clube preservou seu acervo. Todas as peças e objetos ali encontrados têm uma história ligando personagens que participaram do clube.

Rio Negro, Manaus, 1947. Foto: Abrahim Baze/Acervo pessoal

Por Abrahim Baze – literatura@amazonsat.com.br 

O torcedor Rio Negrino que tiver interesse em conhecer a história de um dos mais importantes clubes sociais e esportivos do Amazonas é só visitar o museu lá instalado. São mais de três mil e oitocentas pecas (3,8 mil), entre manuscritos, documentos, fotografias, livros de atas, troféus, medalhas, móveis, reportagens de jornais, revistas e até objetos pessoais de atletas que ajudaram a construir, com sua participação, os momentos de glória do clube que, desde sua fundação, marcou um período importante da história esportiva no Amazonas. O museu foi inaugurado em 13 de novembro de 1993 e recebeu o nome de um antigo diretor: Rubens Samuel Benzecry, em homenagem póstuma a esse diretor.

Resultado de 15 anos de pesquisa levantando, recuperando e restaurando objetos, o clube preservou seu acervo. Todas as peças e objetos ali encontrados têm uma história ligando personagens que participaram do clube.

O Atlético Rio Negro Clube têm sua história intimamente ligada ao futebol. Foi fundado no dia 13 de novembro de 1913, na casa da família Nascimento, na Rua Henrique Martins, hoje Lauro Cavalcante, sonho de um grupo de jovens adolescentes que gostavam de se reunir para jogar futebol. O idealizador do clube foi Schinda Uchôa, à época com 16 anos. No decorrer dos anos, Schinda Uchôa (na época residindo na cidade do Rio de Janeiro) retornou a Manaus para receber o título de Presidente de Honra do Clube.

Porém, o passo importante para sua fundação foi dado por outro fundador: Manoel Affonso do Nascimento, que cedeu o porão de sua residência para a fundação da agremiação. Edgar Lobão, o mais velho do grupo com 19 anos, foi o primeiro presidente do clube. O pai de Manoel Affonso do Nascimento, Paulo Ferreira do Nascimento, entrega as taças de cristal bacará de propriedade da família, para brindar com vinho do Porto a criação do clube.

Nasce assim, desta forma, a festa mais tradicional do clube, o ‘Porto de Honra’, que tradicionalmente foi executado sempre no dia do aniversário do clube. A família Nascimento é a maior responsável pelo surgimento da agremiação, sendo que, a matriarca Maria Affonso do Nascimento foi sua eterna madrinha. Foi ela que contribuiu com o suporte para que o Clube fosse fundado. Foi nesse mesmo dia que Maria Affonso do Nascimento presenteou na pessoa de seu filho Manoel Affonso do  Nascimento um broche de brilhante que lhe pertencia, o que era vendido um a um dos brilhantes para comprar os primeiros equipamentos que eram importados da Inglaterra.

Esquerda: Edgar Lobão, fundador e primeiro presidente do Rio Negro. Direita: Shinda Uchôa, idealizador. Fotos: Abrahim Baze/Acervo pessoal

Mas é o esporte o principal motivo da existência e manutenção do clube e é, sobretudo, a ele que se refere a maior parte das peças do museu do Rio Negro. Histórias de títulos, pioneirismo, de craques e figuras intimamente ligadas ao clube. Um fantástico acervo, dificilmente encontrado em outro clube de futebol. Memórias registradas com detalhes reveladores uma verdadeira viagem ao passado de uma cidade encravada em plena floresta amazônica.

O voleibol surgiu no Amazonas através do Atlético Rio Negro Clube. Em 1928 os atletas Ésio, Heitor, Lúcio, Edwuino, Euclides e Arhtur formaram o primeiro time de voleibol do clube. Em 30 de dezembro de 1930 o esporte já estava consolidado e conquista o Campeonato Norte/Nordeste em Recife. O Clube foi campeão da taça Luiz Martins, com os seguintes atletas: Augusto Brito, Jacob Melo, Januário Nóbrega, Agnaldo, Renato Sá de Andrade e Humberto Ponzi. Figuras importantes do cenário político do Amazonas foram atletas de voleibol do Rio Negro: Arthur Virgílio Filho, Leopoldo Amorim da Silva Neves (pudico) e Adalberto Ferreira do Vale, este destacou-se no time do Santos em São Paulo.

O clube também teve tradição em regatas, sendo campeão desse esporte em 1922. A competição se deu na baía do Rio Negro, foi em comemoração ao primeiro século de imigração francesa para o Estado do Amazonas, patrocinada pelo Consulado da França em Manaus.

Porém é o futebol que tem o maior número de recordações. A foto do primeiro time campeão amazonense de 1921 têm lugar especial. Antes disso, não havia campeonato estadual, os times se enfrentavam entre si, em torneios de onde saia os campeões.

O primeiro campeonato amazonense de tênis de quadra também foi realizado pelo Atlético Rio Negro Clube sob o patrocínio da Federação Amazonense de Desportos Atléticos (FADA), em 1949, ocasião em que o clube foi campeão.

Waldir Oliveira, Atlas Barbosa, Jaias Reis Filho, Francisco Torquato Ribeiro, Domingos Carvalho Leal, Arthur Virgilio Filho. Foto: Abrahim Baze/Acervo pessoal

O Atlético Rio Negro Clube também foi o único clube amazonense, cujo um diretor seu foi presidente de um clube nacional. Hilton Gonçalves, seu ex-diretor de esporte, foi presidente do Flamengo de 1946 à 1947 e de 1957 à 1960. A carta de renúncia dele para o Rio Negro encontra-se na parede do Museu, junto a uma carta do ex-presidente do Flamengo, Augusto Veloso.

Esportes Olímpicos nasceram no clube

Na área de esporte de competição, o Rio Negro manteve equipes de handebol (infanto-juvenil, juvenil, júnior e adulto) nos naipes masculinos e femininos. Natação (mirim, petiz e sênior). Triathlon, voleibol, (infantil, juvenil, infanto-juvenil e adulto) masculino e feminino. Futebol (infantil, juvenil, júnior e profissional), futebol feminino de campo e de areia, além do basquete. O primeiro título de beisebol foi conquistado em 1920 e de Esgrima em 1923, o basquete em 1931 e o tênis de mesa em 1940.

No futebol profissional começou a conquista em 1921 seguindo-se nos anos 1923, em 1927, 1931, 1932, 1938, 1940, 1941 e 1943. Em 1945 à 1959 o clube ficou afastado do futebol. O próximo título veio em 1962, 1965, 1968, 1971, 1974, 1975, 1977, 1979, 1981, 1982 e 1985. O Rio Negro foi Tetra Campeão Amazonense nos anos de 1977, 1988, 1989 e 1990, data em que encerramos a pesquisa.

Quem não conhece a história da Miss amazonas, Miss Brasil e Vice Miss Universo, Terezinha Morango. Mas não é só Terezinha Morango que merece destaque, tais como: Edna Frazão Ribeiro, a primeira Miss Amazonas pelo clube, em 1929. Com destaque também para Maria Amália, que também conquistou o título estadual pelo clube em 1949, finalmente Ane César, a última Miss Amazonas, candidata pelo clube, em 1987.

Campeão 1938. Em pé, da esquerda para a direita: Babé, Bezerra Waldir, Cláudio, Benjamin, Lê. Ajoelhados: Nilo facdinha, Zuiith, Waldemar, Shildebranda, Zeca Sena, Amandio, João liberal, “técnico”. Sentados: Meireles, Atlas, Yano e Amancio. Foto: Abrahim Baze/Acervo pessoal

O Atlético Rio Negro Clube também têm tradição na vida cultural, uma vez que grandes escritores que foram membros do Instituto Geográfico e Histórico do Amazonas e da Academia Amazonense de Letras foram diretores, tais como: Genesino Braga, Álvaro Maia, Manoel Bastos Lira, Arlindo Porto, Moacir de Andrade, Aristophano Antony, Max Carpenthier, Robério Braga, Jurandir Batista de Sales, Gebes Medeiros e tantos outros nomes.
 
Matéria publicada no Portal Amazônia em 18 de agosto de 1997.

Sobre o autor

Abrahim Baze é jornalista, graduado em História, especialista em ensino à distância pelo Centro Universitário UniSEB Interativo COC em Ribeirão Preto (SP). Cursou Atualização em Introdução à Museologia e Museugrafia pela Escola Brasileira de Administração Pública da Fundação Getúlio Vargas e recebeu o título de Notório Saber em História, conferido pelo Centro Universitário de Ensino Superior do Amazonas (CIESA). É âncora dos programas Literatura em Foco e Documentos da Amazônia, no canal Amazon Sat, e colunista na CBN Amazônia. É membro da Academia Amazonense de Letras e do Instituto Geográfico e Histórico do Amazonas (IGHA), com 40 livros publicados, sendo três na Europa.

*O conteúdo é de responsabilidade do colunista

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