A Casa Museu Ferreira de Castro localizada em Orssela, Freguesia de Oliveira de Azeméis, Portugal.
Localizada junto a uma estrada de paralelepípedos e de tranquilidade e traçado rural, a casa só se distingui das demais, pelas placas relativas a homenagem de amigos e admiradores. No outro lado da rua, o que me traz boas lembranças, pois, aí estive gravando o programa Literatura em Foco, é de fato uma paisagem campestre, dominada pelo verde dos campos, a mesma a que se refere o autor de “A Selva”, com afeição em alguns de seus textos. Turistas e visitantes são convidados a contemplação do sol quente do final de tarde, amenizado pelo sopro do vento com o acompanhamento de cantos de grilos e de pássaros, raras vezes pelo ruído de um veículo.
José Maria Ferreira de Castro era conhecido pela sua preferência e naturalmente pela comunhão da natureza. Uma casa rústica com antigas portas de madeira, tendo ao seu lado esquerdo um pequeno jardim, onde era cultivado as rosas vermelhas. Ali encontra-se também, uma inscrição indicando a vivência do menino Ferreira de Castro. Continha também um pequeno curral, um pombal e um forno a lenha.
A casa como sempre desde a sua inauguração como museu tinha como curadora a senhora Manoela Rodrigues, que com brilho nos olhos e sempre disposta a receber bem os visitantes. Foi a ela que o próprio escritor entregou as chaves da casa para que cuidassem e dela tomasse conta.
Manoela Rodrigues é extremamente generosa inteligente e meiga. Manoela na sua intimidade com o escritor guarda a data de 05 de junho de 1974, pois, Ferreira de Castro esteve lá percorreu toda casa, como se estivera se despedindo. No primeiro piso têm uma adega e alguns utensílios agrícolas, uma prensa e uma salgadeira. O segundo piso é constituído por quatro compartimentos de pequenas dimensões, o que leva o visitante a perceber a origem humilde de um dos autores mais consagrados da literatura. Na cozinha existem as panelas da época seguida de uma sala cômoda com seu caldeirão e cadeiras palhas, armários e peças de decoração da época. Caminhando um pouco mais temos acesso a dois quartos, um do escritor e o outro de sua mãe Maria Rosa, porém, é nesse espaço que encontramos duas preciosidades, a mala e os sapatos em que o escritor fez uma viagem a volta do mundo era o ano de 1939 e que lhe permitiu escrever a obra “A Volta ao Mundo”. Escrevo com fortes lembranças de quando estive lá e porque não dizer com saudades.
A Guarda do acervo na Biblioteca de Orssela
Mesmo em frente a Casa Museu está a Biblioteca projetada pelo arquiteto Gaspar Domingues, trata-se de um espaço extremamente convidativo a visitas. Foi construído em 1970, pelo próprio escritor com recursos que ganhou com o Prêmio Águia de Ouro Internacional, em Nice, na França e também doado a autarquia. Neste espaço está tombado o espólio do romancista, incluindo os livros da sua biblioteca particular e os manuscritos de “As maravilhas artísticas do mundo”. De acordo com site de Centro de Estudos Ferreira de Castro, como também destaca os escritores acadêmicos Robério Braga e Abrahim Baze, Ferreira de Castro imigrou para a Amazônia entrando pela cidade de Belém do Pará, com quatorze anos de idade, nesta ocasião José Maria Ferreira de Castro tinha apenas o curso primário.
Depois de sua saída do Seringal Paraíso já vivendo em Belém do Pará escreveu o romance “Criminoso por ambição”, que era vendido nos bares e cafés paraenses especialmente a noite, neste período já trabalhava como jornalista para jornal impresso em Belém do Pará.
Regressou a Portugal em 1919, dando continuidade a sua carreira de jornalista que abandonou em 1934, desgastado pela ação da censura, em Portugal. Em 1928, publicou o romance “Emigrantes”. Esta obra mostrou uma nova noção de humanidade do escritor. Em 1930, despontou com notoriedade com a publicação do romance “A Selva”, obra traduzida para vários idiomas. Em 1973, a Unesco, premiou esta obra entre os dez romances mais lido e mais traduzido. Ferreira de Castro ficou também conhecido como opositor ao Estado Novo, tendo denunciado os efeitos da censura, muito especialmente sobre os escritores portugueses.
Após ter sofrido um acidente vascular cerebral, faleceu no dia 29 de junho de 1974. A seu pedido em vida foi sepultado numa encosta da Serra de Sintra, no caminho do Castelo dos Mouros. A Amazônia foi destaque no romance “A Selva” em toda a Europa pelo escritor, que também, teve sua história contada por dois filmes, o primeiro na década de setenta, cujo diretor executivo era Luiz Maximino de Miranda Corrêa Neto e, o segundo na década de noventa, com a participação da Rede Globo e duas produtoras, uma espanhola e uma portuguesa, ambos gravados em Manaus.
* Abrahim Baze é o autor da obra ‘Ferreira de Castro – um imigrantes português na Amazônia’, hoje na 3ª edição.