Temos ouvido falar muito do Acordo Mercosul e União Europeia, que tem sido divulgado como um grande promovedor de desenvolvimento para o Brasil. É claro que qualquer acordo comercial traz benefícios para o desenvolvimento das regiões e suas produções, serviços e comércios. Apesar disso, temos alguns pontos críticos em relação ao assunto.
Historicamente o Brasil tem um grande viés de buscar desenvolvimento econômico através do capital estrangeiro. E sim, toda e qualquer estratégia de desenvolvimento é bem-vinda. Junto a ela, especificamente neste Acordo, precisamos ter algumas cautelas para não tirarmos a competitividade do mercado local (brasileiro), seus produtores, empresários, comerciantes e prestadores de serviços.
Essa cadeia de negócios nos mostra que muitos produtos importados ficarão mais baratos do que produtos produzidos em nosso solo canarinho. Ao mesmo tempo que os preços baixarão, temos que dar suporte aos empresários brasileiros para que os insumos, peças e outras matérias-primas também baixem de valores. Caso contrário, venderemos um produto por R$ 10,00 e os estrangeiros venderão por R$ 5,00. O resultado disso pode ser uma grande catástrofe.
Vivemos um momento econômico e de geração de emprego que pode ser muito interessante: os pequenos provavelmente vão crescer, pois suas produções rurais ou artesanais terão maiores saídas. Os grandes, por sua vez, terão condições estruturais de comprarem esses produtos para enviarem aos europeus.
Abaixo listarei alguns produtos que terão suas entradas facilitadas no Brasil e na Europa:
EXPORTAÇÕES NOS AGRONEGÓCIOS
Café é um dos bens de consumo que o Acordo prevê reduzir custos de importações para países europeus. Isso significa que, além da prioridade para a compra do que é produzido aqui, eles pagarão mais barato do que pagam hoje para outros países. Provavelmente tomaremos grandes fatias de mercado produtores de outras nações.
Suco de laranja é outro ponto prioritário para os europeus comprarem com menores preços. A consequência disso será a potencialização de produção de laranjas por agricultores pequenos/rurais. Quanto a isso, há várias dúvidas sobre quem enviará esse bem de consumo para o exterior: se os pequenos, após orientações de como ter todas as certificações e todos os trâmites de exportações e negociações, ou se os grandes, que podem comprar dos pequenos para fazerem a distribuição.
Frutas também fazem parte do potencial aumento de exportações. Mais uma vez, os produtores pequenos/rurais poderão ser beneficiados por terem suas plantações compradas ou enviadas diretamente para o exterior. Proporcionalmente, as frutas produzidas nas regiões Norte e Nordeste do país são as que os europeus mais consomem. As outras regiões não ficarão de fora, porém, as quantidades de exportações serão um pouco menores.
Peixes também entram como compras prioritárias dos europeus. A previsão é que empresas que trabalham com tanques de criação tenham um excelente crescimento. Quanto a isso, há um risco que devemos ficar em alerta: estrangeiros gostam muito de peixes brasileiros. Por isso, é provável que comprem sempre em grandes quantidades. A consequência disso pode ser a falta de abastecimento para os nossos Estados. Para equilibrar isso, há a necessidade de haver a regulagem de limites de vendas. Porém, isso vai contra a liberdade comercial que se fala no Acordo.
Óleos vegetais são produtos que o mundo inteiro quer, principalmente da região amazônica. Assim, pode estar nascendo grandes polos de bionegócios, o que ainda é pouco desenvolvido no Brasil de uma forma geral. Para acompanhar esse possível crescimento também precisamos incentivar mais a Pesquisa & Desenvolvimento, pois cada região europeia pode precisar de um tipo de óleo. Dessa forma, teremos que, além de extrair dos meios normais, modificá-los de formas laboratoriais para atender as demandas customizadas que podem surgir.
Açúcar é outro bem de consumo muito desejado. Assim como os peixes, pode ter um efeito inverso: o de faltar abastecimento para os nossos Estados. Por isso, é necessário criar produções reservas que possam suprir as demandas europeias e as brasileiras. A vantagem desse produto alimentício é que a produção de cana-de-açúcar é mais fácil do que a de peixes, que podem entrar em extinção.
Etanol é um grande trunfo que também terá prioridade. Para a Petrobras e outras empresas do mesmo ramo pode ser uma grande explosão de crescimento, sendo uma excelente alternativa para a baixa de consumo de combustíveis no país, que é uma realidade desde quando os preços começaram a subir descontroladamente. Com essa subida de preços, os brasileiros estão vendendo carros e comprando motos ou bicicletas. De uma forma ou de outra, o consumo diminuiu.
Carnes também serão exportadas de maneira mais fácil. Isso inclui carnes de boi, de frango e de porcos. Já somos um dos maiores vendedores de carnes do mundo. Com o Acordo em efetivo funcionamento, aumentaremos essa cadeia produtiva.
Ovos também estão na lista. Com isso, aumenta a criação de galinhas, que aumenta a venda de carne, que aumenta a compra de rações, que aumenta a estrutura como um todo. Quanto a esse tópico em especial, temos um grande déficit no Brasil: a produção de rações. Ela ainda não é suficiente para esse possível crescimento. Se crescermos de um lado sem criarmos a base estrutural para isso, poderemos ter problemas.
Mel é um tipo de produto que atinge em cheio o público rural. Em todas regiões do país, temos fazendas que trabalham com esse tipo de negócio. Porém, a maioria para atender mercados ao redor: consumo próprio, uma comunidade próxima ou a cidade vizinha. Ainda não temos uma cadeia desenvolvida a ponto de conseguirmos exportar em grandes quantidades de forma continuada.
Arroz também terá prioridade. Apesar dos europeus não comerem arroz como nós, o crescimento será significativo, aumentando assim a cadeia de produtores e prestadores de serviços.
IMPORTAÇÕES PARA A INDÚSTRIA E COMÉRCIO
Máquinas estão entre os produtos que conseguiremos comprar por preços menores. Com isso, muitas indústrias conseguirão otimizar os seus processos produtivos. No entanto, o mercado brasileiro também tem produtores de máquinas. Se não criarmos uma condição para mantermos o empresário brasileiro no player, teremos um forte declínio das empresas brasileiras nesse segmento.
Insumos e materiais ainda são uma incógnita. Quais exatamente nós conseguiremos comprar por valores menores? Se forem produtos que já importamos da China, poderemos entrar em rota de colisão com eles. Com a diminuição de importações de lá, eles perdão uma grande fatia de mercado para as empresas europeias. Dessa forma, podem criar retaliações comerciais contra nós. Precisamos estar preparados para isso com estudos de alternativas para que isso que não ocorra.
Produtos químicos e farmacêuticos também ainda são uma incógnita. Podem ser insumos para a indústria química e farmacêutica ou produtos que serão diretamente revendidos para a população?
Vestuário, calçados e tecidos hoje são comprados em larga escala de regiões como Fortaleza, São Paulo, Goiás e outras. Com a condição de importações com valores baixos, teremos muitas marcas novas entrando no mercado e muitos preços baixando para o consumidor final.
Veículos de médio e alto luxo são os principais produtos que têm a tendência de crescimento. Assim que entrar em vigor, o Acordo trará ao Brasil uma grande “febre” de carros de luxo, que hoje são comprados por valores exorbitantes. Com isso, aumentamos a quantidade de empresas comerciais desse ramo, tendo como resultado o aumento direto de contratações de profissionais.
Vinhos/Chocolates/Doces/Queijo também estão entre os produtos que compraremos por valores menores. Se tivermos o cuidado de mantermos a competitividade dos pequenos fazendeiros distribuídos em todas as regiões do país, podemos ter o aumento de variedades, o que vai afetar diretamente na baixa de preços para o consumidor final.
SERVIÇOS
Quanto aos serviços, não há muitas surpresas. Indústria e Comércio andando bem, os serviços também andam. E serviços de todos os tipos: da manutenção de máquinas até os de escritórios de contabilidade.
A pergunta que precisamos nos fazer é: será que temos capacidade produtiva para aguentar todo esse crescimento?
Flávio Guimarães é diretor da Guimarães Consultoria, Administrador de Empresas, Especializado em Negócios, Comportamento e Recursos Humanos, Articulista dos Jornais Bom Dia Amazônia e Jornal do Amazonas 1ª Edição, CBN Amazônia, Portal Amazônia e Consultor em Avaliação e Reelaboração Curricular.