No mundo do recrutamento e seleção, assim como em todas as áreas do mercado, infelizmente ainda ocorre alguns preconceitos. Digo isso, não em tom crítico, mas como um profissional da área que já presenciou dezenas de situações constrangedoras. Ainda bem que esse tipo de situação é minoria. A grande maioria dos profissionais de RH são pessoas que analisam de forma técnica e imparcial, visando os reais objetivos da empresa com a busca de profissionais capacitados para assumir funções e resolverem os problemas.
Um dos preconceitos existentes em alguns processos seletivos é com as profissionais mamães. Nesse contexto, muitos argumentos são usados, como “Se tem filho(a) pequeno(a), pode ficar doente e vai ter que faltar”, ou “Tem filho(a), pode chegar atrasada”, ou “Pode sair a qualquer momento se acontecer alguma coisa com o(a) filho(a)”, e tantos outros. Como opinião própria, é um grande erro pensar com essas direções, afinal o equilíbrio da vida profissional com a pessoal é crucial para qualquer profissional render bons resultados.
Logo abaixo vou falar sobre uma observação que fiz, durante 03 meses em um laboratório de comportamento, sobre as profissionais mamães:
– A Maternidade estimula a Tolerância: normalmente, quando uma mulher se torna mãe várias habilidades são desenvolvidas, em alguns casos, sem que ela própria perceba. O choro da criança na madrugada, por exemplo, as birras, os enjoos, as “rebeldias” de não obedecer, são fatores que estimulam a Tolerância e Paciência, por Amor. Sem uma percepção direta, essas habilidades são estimuladas no dia-a-dia, tornando assim uma pessoa mais paciente. Para o mercado de trabalho, essa profissional mamãe terá uma alta capacidade de análises complexas, que normalmente requerem um nível maior de sensibilidade.
– A maternidade estimula a Sabedoria: quando a criança ainda não fala, há um desafio enorme descobrir o que está ocorrendo: se é fome, se é cólica, se é outros tipos de dores, se é birra, enfim. Para ser descoberto, existe um processo inteiro de buscas e análises. Assim, a mamãe pode se tornar fera em análises de cenários e identificações de problemas no seu dia-a-dia organizacional.
– A Maternidade estimula multi-atuações: já pensou dar banho no bebê, segurá-lo por ter a cabecinha ainda mole, ter a toalha no ombro sem deixar cair no chão para não sujar, ao mesmo tempo tomar cuidado para não deixar a água afogá-lo? Multi-tarefas, multi-atuações, multi-habilidades também são estimuladas nesse período, podendo tornar a profissional mais aguçada para fazer várias coisas ao mesmo tempo no ambiente de trabalho.
– A Maternidade pode estimular o relacionamento interpessoal: nesse caso, falamos especificamente sobre os casos de mamães que se separaram dos papais. Um casal, quando se separada diante da existência de um(a) filho(a), tem o desafio de manter o relacionamento interpessoal, sem egoísmo de um ou outro, com o equilíbrio da convivência e tantos outros fatores. Com isso, a profissional mamãe treina as suas habilidades de soluções em eventuais conflitos, diplomacia e similares. Para o mundo corporativo, esses fatores são fundamentais para qualquer relação, seja com clientes, fornecedores, parceiros, colegas de trabalho, liderados e lideranças.
– A Maternidade pode estimular o senso de Responsabilidade: um(a) filho(a) sempre é um motivo de responsabilidade, seja financeira, profissional ou pessoal. O entendimento que o trabalho é uma necessidade primária para a manutenção de vida da criança pode desenvolver vários outros fatores como pontualidade, compromisso, iniciativa, inovação e outros. Com isso, as profissionais mamães buscam potencializar suas atividades, para assim, trazerem mais resultados para a empresa. Com isso, muitas delas ganham até promoções.
Com a análise laboratorial de 03 meses percebemos que a flexibilidade também é um fator estimulado. Com isso, as profissionais mamães se tornam mais abertas a aprender novos conceitos, mesmo que sempre tenham feito de outras formas. Um(a) profissional com esse fator estimulado significa menos conflitos, mais soluções e inovações contínuas no ambiente de trabalho e procedimentos operacionais.
Além disso, também constatamos que, em alguns casos, as profissionais mamães eliminaram a passividade, começaram a saber dar nãos. Esse fator se torna interessante quando analisamos situações organizacionais que o(a) profissional, por medo de falar algo e ser demitida(o), deixa que as coisas corram de uma forma não adequada. O grande problema é que, ao final, quando der um resultado negativo, a demissão também ocorrerá.
A Inteligência Emocional também é outro ponto positivo nos casos que a própria mamãe consegue desenvolvê-la. O período da maternidade, principalmente quando a criança está recém-nascida, é muito difícil. Noites sem dormir, choros, fome, chateações, correria das atividades com a criança, são alguns pontos que estimulam o equilíbrio emocional em médio e longo prazo. Com isso, existe uma boa tendência da mamãe profissional não sofrer com depressão, porque saberá lidar com as pressões do mundo organizacional.
Em algumas situações, notamos que o trabalho remoto (home-office), que tem surgido como uma grande tendência em todo o país e mundo, também é interessante para as empresas que contratarem mamães para essa modalidade de trabalho. Trabalhar em casa, tendo uma criança pequena, estimula a capacidade de gestão de tempo. Para as mamães de primeira viagem, o natural é que essa capacidade se estimule depois de alguns dias pelo fato de ainda ser uma situação desconhecida. Com os dias passando, a mamãe pode perceber que todo o seu tempo está direcionado para a criança e não para o trabalho home-office. Dessa forma, começará a perceber que não estará gerando resultados na vida profissional. Isso, de uma forma ou de outra, vai lhe forçar a criar uma administração melhor de tempo.
Flávio Guimarães é diretor da Guimarães Consultoria, Administrador de Empresas, Especializado em Negócios, Comportamento e Recursos Humanos, Articulista dos Jornais Bom Dia Amazônia e Jornal do Amazonas 1ª Edição, CBN Amazônia e Portal Amazônia.