Você tem algum inimigo?

Quando penso nesta pergunta, a primeira resposta que me vem à cabeça é que não, não creio que tenha algum inimigo. Talvez tenha tido, ao longo da vida, alguns adversários circunstanciais. Certamente, com algumas pessoas, tive discordâncias fortes. Como gestor, muitas vezes, tive que tomar medidas duras, que desagradaram, dentre elas, demissões, que costumam gerar algum tipo de ressentimento. Mas não creio que tenha formado inimigos, pelo menos, eu não me sinto inimigo de ninguém. Mas existe um inimigo poderoso que pode passar despercebido. Ele está dentro de mim. Ele pode estar dentro de você também, caro leitor.

Steven Pressfield, escritor e roteirista de filmes norte-americanos, dentre eles, Lendas da Vida, refere-se a este inimigo, no livro Limites Internos, como a Resistência. Nas minhas próprias palavras, a Resistência é a força que nos impede de fazer uso de nosso maior potencial e de fazer o que viemos fazer por aqui. A Resistência se opõe ao que o autor denomina como o Genius especial que Deus atribuiu a cada um de nós. Nas suas palavras: "Genius é uma palavra latina que os romanos usavam para designar um espírito interior, sagrado e inviolável que vela por nós e nos estimula em nossa vocação. O artista pinta com o Genius, o escritor escreve com o Genius...", e diria eu, todos nós exercemos os nossos maiores talentos com os nossos Genius.

A ideia de que existem duas forças interiores, onde uma delas dificulta o nosso maior desempenho, não é nova. Ela está presente também na teoria de Timothy Gallwey, considerado o pai do coaching moderno, no clássico O Jogo Interior do Tênis, onde aparecem os chamados Self 1 e Self 2, dois seres que habitam as nossas mentes.

Em nosso dia a dia, podemos perceber em nós e ao nosso redor, situações crônicas em que a tal Resistência nos impede de sermos os melhores que podemos ser e a de fazer o que viemos fazer.

A Resistência está presente, por exemplo, na procrastinação. Ela não nos diz que não vamos fazer nunca, mas que faremos depois e depois... No excesso de autocobrança, em que exigimos de nós a perfeição e desvalorizamos o nosso Genius. Na situação contrária também, da autoindulgência, quando somos indisciplinados conosco mesmos. Quando adquirimos o padrão mental de não agradecer e de valorizar o que somos e o que temos, dando importância em excesso ao que não somos e ao que não temos. A Resistência está presente quando simplesmente deixamos de fazer o que temos que fazer. Nestas e em outras circunstâncias, podemos considerar que a Resistência é o nosso verdadeiro inimigo. Ninguém derruba ninguém, mas nós mesmos podemos nos derrubar.

Pressfield, referindo-se à prática da escrita, diz: "difícil não é escrever, difícil é sentar para escrever". É o que declara fazer. Ele não espera ter a inspiração. Na sua rotina de trabalho, senta e escreve. Não se preocupa, no momento, em analisar se está como gostaria. Simplesmente escreve. Diz ele que, quando começam a vir as palavras, sente que, naquele dia, venceu a Resistência, liberando o seu Genius. Tenho esta mesma experiência. Este é artigo de número 147, escrito semana a semana, por 147 semanas seguidas, sem nenhuma interrupção.

Nem sempre tinha o tema, mas o sentar para escrever, permitiu que o meu Genius atuasse. Se saiu um bom texto, ou não, é um outro assunto. Aliás, já escrevi que não me sinto escritor, mas que acredito que o meu Anjo da Guarda o é. Creio que o Genius, o Anjo da Guarda e o Self 2 sejam a mesma pessoa. Porém, tenho consciência de que, na briga entre ele e a Resistência, o meu único inimigo, só uma pessoa pode decidir quem vencerá, a cada situação, eu mesmo. E você, caro leitor, o que pensa sobre isso? Você tem algum inimigo? 

Sobre o autor

Julio Sampaio (PCC,ICF) é idealizador do MCI – Mentoring Coaching Institute, diretor da Resultado Consultoria, Mentoring e Coaching e autor do livro Felicidade, Pessoas e Empresas (Editora Ponto Vital). Texto publicado no Portal Amazônia e no https://mcinstitute.com.br/blog/.

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