O que a neurociência explica sobre este sábado?

Eu não estava numa boa frequência e tudo que via me colocava no modo “problema”. Não é uma boa sintonia e não costuma trazer coisas boas.

Era para ser um sábado tranquilo, destes que você não tem compromisso e pode estar livre para fazer uma corrida ou caminhada na praia, depois ler no sol, desfrutando uma das coisas boas da vida. A previsão da meteorologia era para um dia lindo. A semana tinha sido intensa e o final de semana viria bem a calhar. Minha mulher estaria fora no sábado, mas chegaria no domingo cedo, a tempo de comemorarmos o aniversário de casamento.

Na sexta à noite, quando todas as atividades terminaram, quis entrar no clima. Há uma semana não comia pizza (um esforço grande para mim), buscando melhorar meus índices do último exame de sangue, cujos resultados já foram melhores. Junto com a pizza, suspendi o pão e a massa, o que representa um verdadeiro desafio. Quem me conhece sabe que não estou exagerando. Uma amiga, quando soube, não se conteve: “Ei, o que você está comendo agora? Você só come pizza e massa”. Não na semana anterior. Nunca comi tantas frutas, verduras e ovos cozidos. Na sexta, voltei para a pizza, acompanhada de uma deliciosa cerveja gelada. A pizza era de muçarela. Nada mais leve e seguro do que uma pizza de muçarela, não é mesmo?
Talvez os poucos dias de abstinência tenham provocado algum tipo de reação no meu organismo, fazendo com que eu tivesse uma noite horrível. Acordei mal no sábado, não tão feliz como imaginara. O sol brilhava lá fora, mas estava vendo o mundo cinza. Cansado, sem entusiasmo, sem bom humor. Minha mente começou a prestar atenção em várias coisas negativas, inclusive a pizza da véspera, que antes achava tão maravilhosa. Rapidamente vieram vários problemas e preocupações à mente e subitamente eu estava vivendo uma outra atmosfera. O mundo continuava o mesmo, mas a realidade que eu via agora era cheia de defeitos e problemas.

A neurociência explica que a nossa mente não consegue lidar com todos os estímulos que recebe. De milhões a cada segundo, apenas 40 bits são processados. Ou seja, de uma maneira bem simples, os estímulos que escolhermos nos farão mais felizes ou menos felizes. Construímos a realidade através destas escolhas, conscientes ou não. Naquele momento, eu estava seguindo os negativos, os mais fáceis de prevalecer. Eles vêm lá de longe, quando podíamos ser devorados por animais pré-históricos. Quem comanda é o Sistema Límbico.

Se foram estas conexões que nos trouxeram até aqui, elas não nos ajudam, porém, a perceber outros lados da mesma realidade. Toda a energia é canalizada para a ameaça e deixamos de perceber o lado positivo e as oportunidades. Não estou falando de ilusão ou otimismo irracional, mas de enxergar positivamente e tirar da realidade o melhor proveito. Para isso precisamos do nosso córtex pré-frontal, como nos ensina a mesma neurociência. É também quando fazemos uso de nosso maior potencial criativo.

Mas, voltando ao meu sábado, eu não estava numa boa frequência e tudo que via me colocava no modo “problema”. Não é uma boa sintonia e não costuma trazer coisas boas. Uma mordida em um morango macio quebrou um pino do dente (não sabia que existia um pino nele) e me fez quase engolir um pedaço do dente. O Sistema Límbico mais vez gritou: e agora? Como sair, trabalhar, se apresentar sem o dente? Urgência. Antes de qualquer coisa, foram os Gânglios Neurais (que comandam o piloto automático) que entraram em ação e corri ao banheiro, para lavar a boca. Também automaticamente, liguei para o dentista. Ele estava em Curitiba e eu, em Vitória. O que ele poderia fazer? Não sei, mas, como disse, foram o Gânglios Neurais que agiram, economizando energia do cérebro. A segunda medida foi ligar para a minha mulher, pedindo ajuda. Ela estava em Brasília. Também não poderia fazer nada. Na pressa, esbarrei em umas plantas, que sujaram de terra toda a sala. A torneira do banheiro ficara aberta e a água escorria pelo chão. De repente, um novo pânico: onde está o pedaço de dente? Teria corrido na torneira? O dentista precisaria dele para recompor. Alguns minutos da eternidade se passaram antes que o encontrasse são e salvo.

Foi quando a razão me trouxe de volta e conscientemente aterrissei em meu mundo, que não é perfeito, mas onde sou feliz. Afinal, era um lindo dia de sábado e tudo iria correr bem a partir dali. E, de fato, dali correu tudo bem, como explicam os ensinamentos espiritualistas, a filosofia, a psicologia positiva e, também, a neurociência. 

Sobre o autor

Julio Sampaio (PCC,ICF) é idealizador do MCI – Mentoring Coaching Institute, diretor da Resultado Consultoria, Mentoring e Coaching e autor do livro Felicidade, Pessoas e Empresas (Editora Ponto Vital). Texto publicado no Portal Amazônia e no https://mcinstitute.com.br/blog/.

*O conteúdo é de responsabilidade do colunista

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