Por Julio Sampaio de Andrade – juliosampaio@consultoriaresultado.com.br
Mariana e Itamar são dois empreendedores que têm muito em comum. Ambos nutriram, desde cedo, o desejo de tocar os próprios negócios e abdicaram de bons empregos por conta deste objetivo. Os dois superaram dificuldades iniciais e chegaram a desfrutar de boas condições.
Durante a pandemia, precisaram se reinventar e reduzir a estrutura que haviam montado. Tiveram que se envolver mais com a operação e se dedicar a atividades que, antes, eram delegadas para a equipe. Eles ainda enfrentam dificuldades para lidar com dívidas geradas nesta época.
Mariana e Itamar são pessoas idealistas. Uma parte de seu tempo e de sua energia é dedicada a causas sociais ou religiosas. Cada um deles assumiu posições voluntárias de liderança e sente que é importante o que faz. Há, no entanto, uma fonte de estresse, em função do tempo dedicado para estas atividades voluntárias. Incialmente, elas eram previstas como noturnas e de finais de semana, mas atualmente, as demandas invadem o dia a dia, misturando-se com as atividades profissionais. Os dois declaram sentir-se pressionados e com a sensação de estar sempre devendo. Tentam cumprir compromissos de um lado e de outro e a sensação é de que nunca conseguem fazer bem-feito, nem uma coisa e nem outra.
Diferente é a situação de Joana. Ela também tem interesses variados. É gerente em uma empresa de arquitetura, tem as suas atividades voluntárias e, à noite, presta alguns atendimentos de coaching profissional, que é uma espécie de plano B para o futuro. Joana se sente gratificada com o conjunto de funções: trabalho profissional, dedicação voluntária e plano B, e vive um excelente momento, com a percepção de estar fazendo o que quer e o que precisa fazer. O que diferencia Joana de Mariana e Itamar?
Numa visão geral, Joana, por ter um emprego, tem boa parte do seu tempo definido, tendo que dedicar-se, exclusivamente, ao trabalho neste período. Mariana e Itamar levam a vantagem de ser livres para decidir quando e o que fazer, mas esta vantagem só será vantagem se eles planejarem bem o seu tempo, tiverem disciplina e conseguirem defender este tempo. As pessoas, no entorno, tendem a achar que eles, não tendo patrões, podem dispor do tempo como quiserem. Se tiverem dificuldade de dizer não, fatalmente, vão se enrolar, falhar em compromissos e sentir-se permanentemente em falta. Além disso, dedicarão menos tempo do que o necessário para os negócios, especialmente, em momentos difíceis. Ao final, a vantagem se transforma em desvantagem. Você conhece alguém com uma situação semelhante à de Mariana e do Itamar?
Na minha trajetória, sempre trabalhei, estudei e mantive responsabilidades em atividades voluntárias, além de outras pessoais e do tempo com a família, como qualquer pessoa. Era muito mais fácil fazer isto quando tinha um emprego, como é o caso da Joana. As pessoas sabiam que durante o dia não podiam contar comigo e respeitavam isso. Mais difícil foi quando montei a minha empresa de consultoria e comecei a atuar como um profissional liberal. Em um primeiro momento, abri brechas e logo me vi envolvido em diversas atividades em qualquer horário. Não demorei a ver que eu precisava estabelecer ordem no meu tempo, o que envolvia os tais: planejamento, disciplina e defesa do tempo, com a prática de alguns necessários “nãos”.
Acredito que existam muitos empreendedores como Itamar e Mariana que querem dedicar tempo a causas em que acreditam, o que é muito positivo. O alerta é que existe tempo para uma coisa e para outra e, nas duas situações, é preciso estar pleno, presente cem por cento e oferecendo o nosso máximo. A liberdade traz a responsabilidade das escolhas. Uma segunda conquista é ser livre para fazer o que precisa ser feito.
Sobre o autor
Julio Sampaio (PCC,ICF) é idealizador do MCI – Mentoring Coaching Institute, diretor da Resultado Consultoria, Mentoring e Coaching e autor do livro Felicidade, Pessoas e Empresas (Editora Ponto Vital). Texto publicado no Portal Amazônia e no https://mcinstitute.com.br/blog/.
*O conteúdo é de responsabilidade do colunista