O perfil “gato” é voltado para as pessoas, valoriza mais do que tudo os relacionamentos e atua harmonizando os ambientes em que participa.
Nos arquétipos de perfis comportamentais, utilizados por alguns tipos de assessment, o perfil “tubarão” pode ser associado a alguém competitivo, voltado predominantemente para resultados que, em desequilíbrio, pode até atropelar alguém, visando atingir os seus objetivos. O perfil “gato”, ao contrário, é voltado para as pessoas, valoriza mais do que tudo os relacionamentos e atua harmonizando os ambientes em que participa.
Meu amigo oculto é tubarão por carreira profissional. Iniciou como vendedor, passou por diversos cargos até chegar a posições de diretoria. Trabalhou para empresas extremamente exigentes e competitivas, onde somente os mais fortes sobreviviam. Meu amigo oculto, não apenas sobreviveu, como teve sucesso nestes ambientes. Metas, orçamentos desafiantes, disputas internas, brigas selvagens com concorrentes, pressão sobre a equipe e o uso de força nas relações com clientes eram práticas comuns, como que inerentes ao trabalho, ossos de ofício. Eram comuns para o meio, mas não para o meu amigo oculto, que nunca se sentiu confortável. Por detrás do crachá de tubarão existia um gato.
Ele custou a aparecer. No início, talvez miasse baixinho em uma ou em outra situação. Aos poucos, o gato foi sendo percebido pelos mais atentos. Inicialmente, na família, com os amigos e nas práticas desportivas. Depois foi se estendendo ao seu estilo de liderança na empresa, no trato com os colegas e até com as preocupações sociais. Meu amigo oculto gostava de gente e gostava de ser querido por gente.
Quando se sentia agredido, o tubarão tomava à frente e a reação poderia vir de maneira desproporcional. Vem daí a sua conhecida dificuldade de lidar com chefes autoritários. “Precisava ter reagido de maneira tão forte?”, cobrava de si mesmo. Aliás, meu amigo oculto tem por característica cobrar muito de si mesmo. E ele se cobra muito por isto, pois queria ser menos perfeccionista. Treina isso dando cada vez mais força ao “Gato”, que agora, já mais velho, parece ter perdido um pouco a vergonha. O “Tubarão” competitivo tem dado mais espaço ao simpático “Gato”, que gosta de rock, participa de redes de aprendizado alternativas, conta piadas e ousa no uso de tecnologias de integração, que nem sempre dão certo.
Foi o que aconteceu, por exemplo, em um grupo de estudo a distância, com uma rede de amigos, que lhe cabia coordenar, em um determinado dia. O meu amigo oculto pensou na mais sofisticada e divertida ferramenta, que facilitaria a integração e a construção coletiva. Só não combinou com os russos. Na hora, as pessoas tiveram dificuldade de entender como funcionava, em cada tamanho de tela as imagens apareciam de uma forma diferente e ninguém conseguiu se entender. Fora o caos ocorrido, ficou o reconhecimento do grupo pela tentativa de inovação. Imagino que deve ter sido difícil para o meu amigo oculto dominar o “Tubarão” neste dia. Mas ele não desistiu e, já na oportunidade seguinte, trouxe uma nova ferramenta inovadora. Um susto com alguns participantes, mas, ao final, ufa, deu tudo certo.
Esta aliás é uma outra característica forte do meu amigo oculto, o da resiliência. Não sei se vem do gato ou do tubarão, ou se, neste sentido, eles até que combinam. Meu amigo oculto não se abate. De vez em quando ele sofre um golpe, se decepciona com projetos, pessoas ou empresas, mas segue em frente. Nunca vi o meu amigo oculto reclamar de nada ou de ninguém. Ele constrói felicidade, especialmente pela resiliência e gratidão. Seu padrão mental é forte nestes dois componentes da felicidade. O gato também constrói, plantando felicidade com pequenas gentilezas e cultivando o belo e a arte, especialmente a música. O tubarão não fica atrás, cabendo a ele desapegar e fazer o próprio destino, ou seja, fazer acontecer. Meu amigo oculto tem consciência de sua missão, tem um forte propósito e, por tudo isso, é uma pessoa feliz. É um verdadeiro tubarão-gato ou será um gato-tubarão? Quem será o meu amigo oculto?
Sobre o autor
Julio Sampaio (PCC, ICF) é idealizador do MCI – Mentoring Coaching Institute, diretor da Resultado Consultoria, Mentoring e Coaching e autor do livroFelicidade, Pessoas e Empresas (Editora Ponto Vital). Texto publicado no Portal Amazônia e no https://mcinstitute.com.br/blog/.
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