Nunca esqueço de um momento em que, para encerrar um negócio que não tinha sido como eu esperava, precisava de uma quantia em espécie, que não era pequena. Não havia tempo para desfazer-me de algum patrimônio e precisava resolver imediatamente, pois o retardamento equivaleria a aumentar progressivamente este valor. Ir a um banco, não estava nos meus planos, já que os juros, na época, eram imensamente maiores do que hoje, especialmente quando descontada a inflação.Um amigo (na época, nem tão amigo assim), sabendo da situação, tomou a iniciativa: “Eu te empresto, sem problemas. Você me ressarce do rendimento que estou tendo na aplicação, eme paga quando puder“. “Muito obrigado –falei agradecido e satisfeito – o que você gostaria de ter em garantia?“.Ele imediatamente respondeu“A sua palavra é suficiente. “Na verdade, eu me sinto muito honrado de poder fazer este empréstimo para você e não preciso nada além da sua palavra“.
Lembro que senti uma forte emoção quando ele falou isso, e até hoje ainda me emociono quando lembro. Como disse, não era uma quantia pequena, numa ordem de grandeza, talvez o de um imóvel de valor médio.Tinha urgência em resolver o assunto também. No entanto, não era isso o mais importante. Suas palavras de sentir-se honrado em me emprestar o dinheiro, bateram forte em mim e revelaram um patrimônio muito maior que eu podia imaginar, o da Confiança. Lembrei-me imediatamente de um trecho escrito pelo filósofo Mokiti Okada:“A Confiança é realmente um tesouro. Quem a merece jamais passará por dificuldades, pois todos sentirão prazer em lhe fazer empréstimos“. E complementa: “Talvez nem se possa imaginar o quanto influi no destino de uma pessoa, o fato de confiram nela, ou se acautelarem, por ter má reputação“. Já conhecia e concordava com esta ideia, mas percebi naquele instante a força do patrimônio Confiança, talvez imensurável.
Em nosso dia a dia, estamos sempre reforçando ou lapidando este patrimônio. Pequenos ou grandes compromissos, não importa. Eles servirão para uma ou outra coisa, na medida que o cumpramos ou não. Diria até que é nas pequenas coisas que mostramos, por exemplo, o valor que damos a nossa palavra. Há pessoas, por exemplo, que quando contam uma história, tendemos a desconsiderar uma parte dos fatos, pois sabemos que ela exagera. Outras, que ao marcarem um horário, já esperamos que será mais tarde. Há profissionais que ganham fama de nunca entregarem os projetos ou relatórios na data combinada. Tudo isto vai construindo a reputação, que por sua vez, transforma-se no tal patrimônio da Confiança.
Os exemplos podem parecer rigorosos, mas há no aspecto confiança, um rigor maior ainda. Ela não se constrói da noite para o dia. Às vezes é preciso muito tempo para ganhar a confiança de alguém ou ganhar a reputação de confiável. No entanto, a sua perda pode ser automática, num único deslize.Pode-se assim dizer que a Confiança é forte e é frágil. Forte pelo efeito que ela provoca na vida de qualquer pessoa, frágil, porque é fácil destruí–la. Quem disse que a vida não é mesmo rigorosa?
E há ainda um ponto importante a destacar. Pessoas confiáveis confiam nas pessoas. Como confiar em alguém que não confia em ninguém? No princípio universal de causa e efeito, não se colhe Confiança se não se planta Confiança. Ser confiável e confiar, num sentido amplo, parece ser uma via demão dupla. Como numa exibição de dois trapezistas.
Quanto ao empréstimo que recebi do meu amigo, pude lhe pagar em alguns meses, ressarcindo o que ele obteria em aplicações. Na verdade, só paguei o dinheiro. Não poderia pagar o que aprendi e muito menos a gratidão que senti pela sua confiança, um patrimônio que não sabia que possuía e que não teria como mensurar.
Para finalizar, compartilho com você duas perguntas que sempre me faço: estou sendo confiável? Estou confiando?
Julio Sampaio de Andrade Mentor e Fundador do MCI – Mentoring Coaching Institute Diretor da Resultado Consultoria Autor do Livro: O Espírito do Dinheiro (Editora Ponto Vital), dentre outros. Texto publicado no Portal Amazônia e no https://mcinstitute.com.br/blog/