Enquanto estivermos por aqui

A morte nos lembra da importância de cada encontro com nossos pais, com nossos filhos, com nossos amigos e ajuda a sermos mais empáticos com a dor de quem não conhecemos.

Por Julio Sampaio de Andrade – juliosampaio@consultoriaresultado.com.br

De tempos em tempos, somos tocados coletivamente com tragédias que nos lembram a fragilidade da vida, ao mesmo tempo que da sua força. Chuvas, desabamentos, guerras e acidentes de avião, por exemplo, levam vidas de uma só vez. Cada uma delas é uma história, e esta é a parte da força. Cada uma delas tem um enredo interrompido por algo inesperado que, de uma hora para outra, muda a trajetória de quem vai e de quem fica.

O jornalismo traz algumas destas histórias à tona e, enquanto faz isso, nos faz sentir humanos ao emocionar e até fazer correr algumas lágrimas disfarçadas. É um pai, uma mãe ou um filho que saiu de casa naquele dia normalmente, saiu daqui e ia para ali, tinha esse ou aquele jeito, seu sonho era realizar isto ou aquilo. Ouvimos as histórias e sentimos um pedacinho das perdas. Empatia é conexão e, por alguns segundos ou minutos, nos sentimos conectados com pessoas que nem conhecemos, mas que sentimos próximas.

Sabemos pouco sobre a morte. Há quem não queira falar da morte, seja porque dá azar, seja porque não quer pensar nisso. Todos nós, enquanto estamos vivos, lidamos com a morte, até que um dia lidaremos com a nossa. Para alguns, a morte significa o fim absoluto, o que deve tornar tudo ainda mais doloroso quando se perde alguém amado.

Outros, como eu, pensam que é um fim de um ciclo e início de outro, só que, para quem se foi, não mais entre nós. Para muitos é reconfortante pensar que a pessoa continua a existir, principalmente, para os que acreditam que poderão continuar a cuidar delas, por meio de orações e outras práticas, de acordo com as crenças de cada um.

Para uns e para outros, há o fator tempo. O tempo futuro cuidará para tornar a dor menos intensa e poderá trazer até um presente, o que chamo de saudade boa. Pensar em alguém que amamos e as suas lembranças nos traz uma sensação gostosa, serena, sem mais a dor da perda.

É no tempo passado que estão estas lembranças e a quem poderemos recorrer para desfrutar de momentos que ficarão para sempre. Eles não são uma possibilidade. Estão no passado, mas são uma realidade.

Representam conquistas ou desafios que foram superados, de alguma forma. Podemos selecionar as que queremos cultivar e as que deixaremos de lado. Podemos ressignificar e compreender melhor até desentendimentos que, na época, pareciam tão importantes, mas que percebemos agora tão pequenos.

O fator tempo, porém, não vive apenas no futuro ou no passado. É no presente que ele pode ser mais bem usufruído. A morte nos lembra da importância de cada encontro com nossos pais, com nossos filhos, com nossos amigos e ajuda a sermos mais empáticos com a dor de quem não conhecemos. A morte, pela força e pela fragilidade da vida, nos lembra do valor de cada dia, seja de trabalho, seja um dia de domingo. A morte, se bem compreendida, pode nos levar a sermos mais gratos e mais altruístas.

Não queremos a morte, mas ela é inevitável. Podemos tirar o melhor proveito dela, chorando sem disfarces quando quisermos chorar e celebrando a vida e construindo felicidade para todos, enquanto ainda estivemos por aqui.

Sobre o autor

Julio Sampaio (PCC,ICF) é idealizador do MCI – Mentoring Coaching Institute, diretor da Resultado Consultoria, Mentoring e Coaching e autor do livro Felicidade, Pessoas e Empresas (Editora Ponto Vital). Texto publicado no Portal Amazônia e no https://mcinstitute.com.br/blog/.

*O conteúdo é de responsabilidade do colunista

Publicidade
Publicidade

Relacionadas:

Mais acessadas:

Adalberto Val: pesquisador revela origem de seu fascínio pelos peixes da Amazônia

Biólogo paulista desvendou os mecanismos de adaptação das espécies da região às variações de oxigênio e de temperatura dos rios.

Leia também

Publicidade