Cuidado, você não é o seu JISHOI

Metaforicamente, podemos pensar em uma espécie de “incorporação”. Uma mulher pode ser frágil. No JISHOI de mãe, vira uma fera na defesa de um filho.

Talvez você nunca tenha ouvido a palavra JISHOI e para entendê-la em sua essência, é preciso mais do que uma tradução direta. Ela não tem o equivalente em português, precisando ser explicada. JISHOI é uma palavra japonesa formada por três partes: JI significa tempo, SHO é lugar e I indica posição, ou seja, tempo, lugar e posição. Cada um de nós ocupa um lugar no tempo e no espaço, em uma posição. O JISHOI está diretamente ligado à missão que exercemos em um determinado momento e não deve ser confundido com a nossa pessoa. Parece confuso, não é? Vamos a um exemplo prático.

Quando um presidente de um país faz um pronunciamento sobre uma outra nação, suas consequências podem ser gigantescas. Ele não fala em seu próprio nome, mas do JISHOI que ocupa. Pode ser A ou B, não importa. Naquele momento, naquele lugar, é quem ocupa aquela posição. Suas palavras terão um peso nesta proporção, enquanto seriam irrelevantes se fossem pessoais. Até aí, é algo evidente.

Imagem: Reprodução/LinkedIn

 A questão é que o efeito JISHOI não se limita às consequências de sua fala, mas ocorre antes dela se manifestar. Há uma força própria gerada para aquele determinado JISHOI que interfere nos pensamentos e ações de quem o ocupa. É como se fossem duas personas: a própria pessoa e o JISHOI. Alguém no dia a dia pensaria e agiria de uma forma; e quando embutido de um determinado JISHOI, de outra diferente.

Metaforicamente, podemos pensar em uma espécie de “incorporação”. Uma mulher pode ser frágil. No JISHOI de mãe, vira uma fera na defesa de um filho. Um maestro se transforma na regência de uma orquestra. Um ator empresta o seu corpo ao personagem, que ganha vida própria em emoções, ainda que dentro de um script. Um pai é capaz de sacrifícios inimagináveis para um homem comum, sem o JISHOI de pai. Um avô torna-se sábio e visionário diante dos sonhos e inseguranças de um neto. Um lutador, em um ringue, pode se transformar em alguém irreconhecível. Para cada uma destas situações, há a pessoa e há o JISHOI. Olhando é uma coisa só, mas se fosse possível separá-los, veríamos que, sem o JISHOI, a pessoa não seria a mesma. Mokiti Okada afirma “quanto maior o JISHOI maior será o poder de influência e maior a responsabilidade”.

Tomei conhecimento deste tema há muitos anos lendo este filósofo, mas custei a compreendê-lo. Talvez como você agora, achei estranho e subjetivo demais. Com o tempo, fui identificando o JISHOI em diversas situações. Há realmente algo de abstrato e misterioso, difícil de entendimento para alguém com um pensamento mais concreto. O JISHOI produz meios e força para cumprirmos uma determinada missão. Missão que pode ter sido atribuída por Deus, pelo universo, pela vida ou por alguma pessoa, mas é como se recebêssemos recursos extras para cumpri-la. Não é o que acontece quando contratamos um colaborador para um determinada função? Talvez precisemos lhe fornecer um computador, uma mesa ou delegar alguma autoridade.

Entender que existe o JISHOI nos traz esta consciência e permite algo muito importante: não confundir a nós mesmos com o nosso JISHOI. Vi diversos executivos caírem em depressão ao saírem de cargos de empresas que lhe davam um forte sobrenome, como fulano de tal empresa, e descobrirem depois que, fora do cargo e da empresa, não tinham o mesmo acesso e nem eram recebidos da mesma forma. Voltavam a ser simplesmente o fulano. Em um outro JISHOI, nem todos eram respeitados.

Saber sobre o JISHOI nos traz ainda uma possibilidade magnífica. A de nos colocarmos mais facilmente na condição de instrumentos no cumprimento de uma determinada missão. Estamos a serviço de algo maior do que nós e para isso ocupamos um JISHOI que nos traz recursos materiais, emocionais e espirituais. Estamos enriquecidos para isso.

A compreensão sobre o JISHOI, por fim, nos fortalece com a humildade e nos alerta, principalmente, alerta aqueles que ocupam uma posição de destaque na sociedade e nas empresas: “cuidado, você não é o seu JISHOI”.

Sobre o autor

Julio Sampaio (PCC,ICF) é idealizador do MCI – Mentoring Coaching Institute, diretor da Resultado Consultoria, Mentoring e Coaching e autor do livro Felicidade, Pessoas e Empresas (Editora Ponto Vital). Texto publicado no Portal Amazônia e no https://mcinstitute.com.br/blog/.

*O conteúdo é de responsabilidade do colunista

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