Cadê o líder?

Ser líder traz em si responsabilidades que vão além de seu estado de ânimo, de sua vontade ou da preocupação consigo mesmo.

Não, não vou escrever sobre o jogo em que a seleção brasileira foi desclassificada da Copa do Mundo. Muito já foi escrito, comentado, debatido. O Brasil tem duzentos milhões de técnicos e cada um tem a explicação da causa da derrota e tem o seu diagnóstico sobre o time, o esquema tático e as soluções que poderiam ter sido empregadas. Não falarei sobre o time, mas de uma única cena transmitida pela TV.

É o momento em que seleções estão se preparando para bater os pênaltis. O time da Croácia está reunido em torno do técnico e parece eufórico. Há pouco, tinha empatado um jogo perdido, no segundo tempo da prorrogação, faltando quinze minutos. Por si só, isto já criava nos jogadores o clima de vitória, somado ainda ao histórico de classificações da Croácia nos pênaltis. O grupo reunido em torno do técnico reforçava o clima do novo favorito.

Do outro lado, o Brasil. Quem orientava era um dos auxiliares, que parecia escalar a ordem dos batedores. Talvez estivesse apenas comunicando algo já combinado com o técnico. O narrador diz que foi ele quem acompanhou mais diretamente os treinos de cobrança de pênaltis. Os jogadores estavam visivelmente abatidos e desnorteados com o gol levado há poucos minutos. Cadê o técnico? Cadê o líder?

Foto: Reprodução/LinkedIn

Neste momento, a imagem mostra o técnico de costas para o time. Estava só. Estava sofrendo. Talvez estivesse se perguntando o que fizera de errado. Talvez estivesse irritado, aborrecido com os jogadores por terem deixado a vitória escapar das mãos. Sim, eles falharam. É a sua última Copa e ele poderia sair consagrado. Poderia se o time não tivesse levado aquele gol. O empate naquela altura já poderia ser considerado uma derrota.

“Time, esta é a hora da verdade. É o momento de cada um mostrar ao que veio. Temos um trabalho de quatro anos que não pode cair por água abaixo. Cada um de vocês é o melhor no que faz. Temos que agarrar esta oportunidade e sair daqui vencedores. É bater e marcar. Só precisamos fazer o nosso melhor. Lembrar o que nos trouxe até aqui. Temos uma nação inteira torcendo por nós. Estamos preparados e vamos vencer. Você está confiante? E você? E cada um? Estamos juntos. Confio em vocês. O Brasil confia em vocês”.

Pelas cenas mostradas, não foram ditas estas ou outras palavras pelo líder. Talvez elas não alterassem o resultado, mas precisavam ser ditas. Este é o papel do líder. Dançar a dança do pombo na comemoração pode ser papel do líder. Mais importante, porém, é levantar a cabeça quando o pescoço aponta para baixo. Cadê o líder?

Ser líder não é apenas ocupar uma posição de destaque no grupo. Em uma empresa, é natural que o líder seja mais bem remunerado e goze de alguns privilégios. Mas ser líder traz em si responsabilidades que vão além de seu estado de ânimo, de sua vontade ou da preocupação consigo mesmo. Reforçar a confiança e fazer com que cada liderado faça uso de seu maior potencial é também o papel de um líder.

Voltando ao nosso jogo, quando as cobranças começaram a ser feitas, de forma alternada, já havia um time vencedor e um time derrotado. Tudo começa a ser criado no invisível, inclusive, vitórias e derrotas.

Sobre o autor

Julio Sampaio (PCC,ICF) é idealizador do MCI – Mentoring Coaching Institute, diretor da Resultado Consultoria, Mentoring e Coaching e autor do livro Felicidade, Pessoas e Empresas (Editora Ponto Vital). Texto publicado no Portal Amazônia e no https://mcinstitute.com.br/blog/.

*O conteúdo é de responsabilidade do colunista 

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