Amor restrito e amor universal

Quanto maior o amor restrito, mais perigoso ele pode se tornar, transformando algo que seria bom em algo ruim, o bem em mal.

Por Julio Sampaio de Andrade – juliosampaio@consultoriaresultado.com.br

Mestre, por favor, me responda. Como sei que estou fazendo o bem, ou quando as minhas ações provocam algum tipo de mal?

O mestre Tetsuo Watanabe respira fundo e parece reflexivo, pensando enquanto fala:

“Se for algo bom para você e bom para a sua família, deve ser bem…

Se for bom para a sua família e for bom para a sua localidade, deve ser bem…

Se for bom para a sua localidade e for bom para o seu país, deve ser bem…

Se for bom para o seu país e for bom para a humanidade, então realmente é um bem.

Mokiti Okada nos ensina: há diferenças entre o amor restrito e o amor amplo. No amor restrito, temos a origem de muitos conflitos e até de guerras. Quanto maior o amor restrito, mais perigoso ele pode se tornar, transformando algo que seria bom em algo ruim, o bem em mal. É bom ter amor pela família, pelos amigos, pela empresa, pelo nosso time, pela nossa religião e pelo nosso país, mas este amor não pode ter como custo a ausência de um amor amplo, o amor universal.

Talvez você questione este pensamento, uma vez que a nossa cultura está fortemente baseada no amor restrito. Por amor ao filho, uma mãe pode quase tudo. Um soldado morrer pelo seu país é motivo de honra. Em nome de Deus, guerras religiosas ceifaram, ao longo da história, milhares ou milhões de vidas, cada uma das religiões na defesa de seu Deus. No jogo das empresas, pode ser um objetivo destruir o concorrente. Nossos desportistas viram heróis quando trazem medalhas e troféus, simbolizando a superioridade de uma nação sobre as outras. No caso do Brasil, somos os únicos pentacampeões no futebol. Outras nações têm os seus próprios símbolos de superioridade.

Comemoramos há não muito tempo, o avanço da globalização e da aproximação entre os povos, favorecidos pela tecnologia, pela valorização de ideais democráticos, pela ampliação de blocos econômicos e pelo respeito a instituições internacionais moderadoras.

Hoje parece que caminhamos em um sentido inverso, onde ganham força a polarização e a radicalização. Talvez sejam os tais movimentos de sístoles e diástoles citados pelo general Golbery do Couto e Silva, um dos generais mais poderosos do período da ditadura miliar no Brasil, ao explicar os ciclos da democracia no país.

A tal polarização não é um fenômeno brasileiro e nem localizada em um único setor. A mídia nos mostra o que ocorre no Oriente Médio, nos EUA, na Europa e, se aprofundarmos, em praticamente todos os países e continentes. Também está na ciência, na arte, na religião e em diversos setores. A polarização está nas empresas, nos grupos sociais e até mesmo nas famílias. Em todos os casos, a polarização está revertida por uma causa do bem. A questão é que se trata de um bem fortemente restrito. Já vimos que um bem restrito, facilmente se transforma em mal.

Esta dualidade entre amor restrito e amor amplo é tão sutil, que pode estar presente na defesa de causas indiscutíveis na sua essência. É o caso, por exemplo, das conhecidas minorias, que pela intensidade de sua defesa podem criar outros tipos de discriminações, no primeiro momento, aceitas, como se fossem “em legítima defesa”. Neste caso, o que é esquecido é que toda hegemonia é perigosa, seja ela qual for. O risco é fazer com que um grupo discriminado se transforme em discriminador, a vítima em algoz.

No fundo, há um modelo mental que precisamos transformar se quisermos ser livres e praticantes de um bem legítimo. Pessoalmente, sei que estou longe disso, mas consciente. De um amor egoísta e restrito, precisamos avançar gradualmente para um amor amplo e universal, o verdadeiro bem. Será bom para você, para mim e para todos. O mundo precisa.

Sobre o autor

Julio Sampaio (PCC,ICF) é idealizador do MCI – Mentoring Coaching Institute, diretor da Resultado Consultoria, Mentoring e Coaching e autor do livro Felicidade, Pessoas e Empresas (Editora Ponto Vital). Texto publicado no Portal Amazônia e no https://mcinstitute.com.br/blog/.

*O conteúdo é de responsabilidade do colunista

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