Indígenas Wai Wai contam com a castanha-do-brasil como principal fonte de renda em Roraima

Sem derrubar uma árvore, indígenas coletam castanhas que caem no chão e vendem para mercados fora de Roraima.

No meio da floresta Amazônica, imponentes castanheiras dão frutos que sustentam dezenas de famílias do povo Wai Wai. São indígenas que trabalham com o extrativismo da castanha-do-pará de forma sustentável nas Terras Indígenas Wai Wai e Trombetas Mapuera, localizadas em São João da Baliza, região Sul de Roraima, distante cerca de 350 Km da capital Boa Vista.

O trabalho da colheita dos ouriços de castanha, uma espécie de cápsula onde ficam as sementes, é feito por homens, mulheres e até crianças. Na comunidade Xaary, famílias inteiras encaram cerca de uma hora de caminhada na mata até chegar aos pés das castanheiras. A castanha também é chamada de castanha do Brasil e castanha da Amazônia.

O trabalho de extração do fruto ocorre sempre entre os meses de abril e agosto, período de chuvas em Roraima. Depois da colheita, ali mesmo, no meio da floresta, os indígenas quebram os ouriços, retiram as castanhas e as embalam em sacos de fibra para o transporte de volta à comunidade. Cada ouriço tem entre 15 e 20 castanhas. Espécie nativa da Amazônia, a castanheiro pode atingir os 50 metros de altura.

Indígenas Wai Wai durante a coleta da castanha em Roraima. Foto: Robson Moreira/Rede Amazônica RR

Atualmente, a venda das castanha é feita pelos próprios indígenas, por meio de três associações: Associação dos Povos Indígenas Wai Wai (APIW), Associação do Povo Indígena Wai Wai Xaary (APIWX) e Associação Indígena Wai Wai da Amazônia (AIWA).

Mas, até pouco tempo, as castanhas eram vendidas por meio de atravessadores, que compravam o fruto a um preço menor e repassavam para empresas interessadas. Agora, a venda direta feita pelos Wai Wai garante a eles lucro maior e autonomia do trabalho que eles fazem dentro do próprio território.

“Avançou mais a venda, avançou mais o que nos temos. Agora temos motos, temos outras coisas. Melhorou”, diz o líder indígena da comunidade Xaary e presidente da APIW, Valdeci Wai Wai.

Em Xaary, são 140 indígenas associados. Na comunidade Anauá, na mesma região, a venda da castanha envolve 318 pessoas. De volta à extração, depois de tudo pronto, os sacos com as castanhas são fechados com tiras do próprio tronco da castanheira e todo o percurso é feito de volta. Os sacos com os frutos são levados nas costas. Na comunidade, os frutos são armazenados em galpões para depois serem lavados e embalados.

Com a criação das associações, o processo de venda das castanhas ficou mais rápido e seguro. Agora, os indígenas podem firmar contratos direto com as empresas e até emitir nota fiscal.

Varanda na aldeia Jatapuzinho, Terra Indígena Trombetas-Mapuera, forrada de castanhas para secagem antes da comercialização. Foto: Rogério Assis/ISA

O produto sai de Roraima em caminhões até chegar a Manaus, no Amazonas. De lá, segue de barco até Belém, no Pará. Da capital paraense chega à industrias alimentícias no próprio Pará e outros estados, como São Paulo.

Inicialmente, para que os indígenas começassem a comercializar o próprio trabalho, houve orientação da Fundação Nacional do Índio (Funai) e, atualmente, esse trabalho é feito pelo Instituto Socioambiental, que busca orientá-los acerca do mercado comercial.

“Se iniciou, no primeiro momento, com a Funai, acompanhando os Wai Wai nessa região de Caroebe e Baliza, nas suas iniciativas, nas suas relações de comercialização locais, uma parceria estruturada posteriormente com o Sebrae, e, mais recentemente, uma parceria com o Isa, de conseguir promover essa castanha, de levar o nome dos Wai Wai para frente no território e nacionalmente, buscando preço mais justo, buscando uma relação comercial na cadeia da castanha mais interessante para os Wai Wai, que leve de fato nome dos Wai Wai, a sua qualidade, o seu produto para frente”, explica Jeferson Straaatmann, especialista em cadeias de valor do ISA.

De acordo com o instituto, em 2020, 65 toneladas de castanhas foram comercializadas pelos Wai Wai, por meio de contratos que chegaram a R$ 300 mil. No ano passado, houve uma baixa na produção motivada pelo clima atípico e o fenômeno La Ñina. Mas, em 2022, previsão é que 200 toneladas de castanhas sejam vendidas.

Para os indígenas Wai Wai, a castanha representa não apenas a cultura preservada ao longo dos anos, mas também simboliza sustento, recomeço diário e esperança de dias melhores.

*Por Robson Moreira, da Rede Amazônica RR

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