As quebradeiras de coco babaçu são mulheres quilombolas e indígenas que praticam a atividade agroextrativista que atravessa gerações no Estado.
A árvore babaçu (Attalea ssp.), na língua tupi, também conhecida como coco-de-macaco, é uma palmeira nativa da Floresta Amazônica e Cerrado. Essas árvores podem ser encontradas no Estado do Maranhão, Tocantins e Piauí. Essa região, entre três biomas, é conhecida como Mata dos Cocais ou Babaçuais, que é o encontro entre a Caatinga, Cerrado e Amazônia.
Com sua folha arqueada, a árvore pode atingir de 10 a 30 metros de altura. O babaçu pode apresentar cachos de flores amarelas, que florescem entre janeiro e abril, e cada cacho pode produzir de 300 a 500 cocos. Essa palmeira movimenta a economia maranhense, levando em consideração as atividades de extrativismo realizadas com a árvore. Suas folhas são utilizadas para produzir cestos, peneiras e outros produtos artesanais.
A árvore possui infinitas possibilidades. Seu estipe, por exemplo, é utilizado como adubo natural. As amêndoas verdes fornecem um leite com propriedades nutritivas. Do mesocarpo é extraída uma farinha, o “pó de babaçu”, usada como complemento alimentar e para fazer bolos e mingau.
Porém, sua principal finalidade está nas amêndoas utilizadas para a produção de óleo de coco do babaçu, atividade praticada manualmente pelas ‘quebradeiras de coco babaçu‘, reconhecidas como guardiãs da natureza.
Quebradeiras de coco
As quebradeiras de coco são mulheres, adultas, idosas e jovens que praticam atividade agroextrativista. Essa atividade atravessa gerações, sejam mães, avós ou filhas, essa prática é uma tradição maranhense, realizada por quilombolas e indígenas, consideradas ‘populações tradicionais’.
Essas mulheres possuem papel na história, economia e cultura. Um estudo realizado pelo Movimento Interestadual das Quebradeiras de Coco Babaçu, aponta que mais de 300 mil mulheres exercem essa atividade agroextrativista.
“Esta atividade é constantemente ameaçada, seja pelos fazendeiros que tentam impedir o acesso dessas mulheres aos babaçuais, pela expansão do agronegócio na região de predominância dos babaçuais, pela dificuldade da comercialização dos produtos oriundos do babaçu, ou pela dificuldade de acesso à terra e aos babaçuais, que garantem às quebradeiras a continuidade do seu modo de vida”.
Trado do artigo ‘Acesso à terra, território e recursos naturais: a luta das quebradeiras de coco babaçu’
De acordo com o artigo, como um complemento de renda dessas famílias, principalmente durante o período de entressafra da produção de alimentos, essa atividade garante a liberdade de autonomia financeira dessas mulheres do campo. Como as crianças costumam acompanhar suas mães na coleta do coco, crescem entendendo a importância do fruto, sendo uma tradição cultural e tradicional.
Assim, a palmeira de babaçu é conhecida como ‘árvore-mãe’ entre as quebradeiras, porque, para elas, da árvore vem o essencial para a sobrevivência da sua família. Por isso, realizam a atividade extrativa de forma sustentável, priorizando a preservação da natureza.
“Ele [babaçu] é uma grande importância, porque dele a gente tira a sustentabilidade. Eu lembro que a minha mãe, nós morávamos numa casa que era de palha, de babaçu, e tanto era em cima como embaixo, tudo fechado e as portas era uma esteira de babaçu. Então pra mim ela [palmeira] tem uma utilidade tão grande que ela serve pra gente em tudo, ela dá a vida pra quem não tem, sabe, ela deu a vida pra nóis porque do babaçu vem a amêndoa pra gente fazer azeite, para temperar a comida, o leite, a casa, você fazer o carvão para cozinhar, a palha faz o ‘pacará’ pra gente cortar arroz, panhar feijão, botar dentro, sabe, é tudo. E a palmeira quando dá raio que cai na palmeira e ela morre e bate no chão, num demora tempo ela dá o adubo, a gente bota numa cebola, é vida, a palmeira dá é a vida. E uma palmeira pra mim, eu comparo ela como uma mãe de família”.
Relato de Diocina Lopes, dona Dió, do Lago do Junco, para o artigo ‘Acesso à terra, território e recursos naturais: a luta das quebradeiras de coco babaçu’
Por ser considerada uma atividade dos povos tradicionais, essa prática é respaldada pela Convenção 169 da Organização Internacional do Trabalho (OIT), de 1989, que estabelece a autodefinição como critério fundamental de identificação dos povos e comunidades tradicionais.
Além disso, elas são reconhecidas como tal pela Política Nacional de Desenvolvimento Sustentável dos Povos e Comunidades Tradicionais (PNPCT), instituída no Brasil pelo Decreto nº 6.040, de 7 de fevereiro de 2007.
O Instituto Sociedade, População e Natureza (ISPN) retratou a vida de agricultores familiares e quebradeiras de coco Babaçu entre Maranhão, Mato Grosso e Tocantins. O filme foi financiado com recursos do Fundo Amazônia e GEF/PNUD. A equipe do cineasta Neto Borges e o ISPN visitaram três regiões onde o Babaçu é vida:
*O texto do artigo contou com a colaboração do Movimento Interestadual das Quebradeiras de Coco Babaçu e do consultor Joaquim Shiraishi a partir do estudo ‘A Luta das Quebradeiras de Coco Babaçu pela Garantia do Livre Acesso e Uso Comum dos Recursos Naturais: experiências com as leis do “Babaçu Livre” e as Reservas Extrativistas’, realizado para a ActionAid Brasil em junho de 2015. Leia o artigo completo AQUI.