Fusqueiro viajante visita os 217 municípios do Maranhão: “Precisa ter planejamento, gostar de viajar e ser desapegado”

O autônomo Francinaldo Rodrigues conta como foi a viagem que durou pouco mais de sete meses e a repercussão na internet. 

Muitas pessoas gostam de viajar de carro, geralmente preparados e equipados para aguentar os “perrengues” desse tipo de viagem. Mas e que tal o desafio de conhecer várias cidades a bordo de um Fusca azul de 1974? Foi o que fez o autônomo Francinaldo Rodrigues da Silva, de 37 anos. Sinaldo, como é conhecido, largou tudo para viajar pelo Maranhão com seu Fusca e visitou os 217 municípios do Estado em pouco mais de sete meses. Ele registrou toda a aventura pelas redes sociais.

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Natural de Alto Alegre do Maranhão, localizada a 205 km da capital São Luís, Sinaldo conta que realizou um dos seus maiores sonhos com essa viagem. E a viagem começou em 22 de junho de 2021, data em que é celebrado o Dia Mundial do Fusca, simbólica para o fusqueiro viajante.

“Ao longo dos anos, não sei de onde surgiu, mas eu sempre tive vontade de fazer isso, talvez pelo fato de conhecer vários viajantes pela internet. Queria construir um motorhome (casa sobre rodas) bem equipado também. E eu planejava fazer isso [equipar um carro e viajar com ele] lá pelos meus 50, 60 anos, quando estivesse aposentado, com um estabilidade financeira. Mas aconteceram várias coisas que me fizeram antecipar esse projeto”, conta ao Portal Amazônia.

Passagem pelo município de Codó. Foto: Sinaldo Rodrigues/Cedida

Mas após a perda de alguns familiares e a pandemia de Covid-19, Sinaldo decidiu que era hora de antecipar a viagem. “A Covid veio e mudou muito a nossa maneira de pensar e ver o mundo. Certas coisas não valem a pena a pessoa esperar para realizar o sonho ou correr atrás daquilo que a faz feliz”, considera.

Viagem foi realizada a bordo de um Fusca azul de 1974. Foto: Sinaldo Rodrigues/Cedida

Planejamento: imprevistos acontecem 

Sinaldo confessa que nunca se contentou em morar em uma cidade pequena: “Sempre procurei algo mais. Até pelo fato das redes sociais mostrarem muita coisa, então nunca me contentei só com o meu lugar. Isso foi um dos escapes pra eu sair, até porque sempre gostei também de desafios, de enfrentar coisas desconhecidas”.

E o fusqueiro viajante revela que apesar de todo um planejamento realizado previamente, passou por imprevistos e dificuldades. “Eu pensava em montar o motorhome em uma van ou uma kombi, toda equipada, com quarto e tudo, só que teria um gasto bem grande. Como eu já tinha o Fusca, resolvi equipar ele com cama, fogão, guarda-roupa, caixa d’água, mesa, tudo isso tem dentro dele pra poder viajar”, explica Sinaldo. “Mas imagina passar sete meses e dez dias morando dentro do Fusca. Não foi fácil. Primeiro tem que ter muita força de vontade, ter foco, objetivo e entender que não tem muito conforto”, completa.

O viajante adaptou o Fusca com tudo que se informou que precisava para conseguir realizar a viagem. Foto: Sinaldo Rodrigues/Cedida

O problema mais comum de acordo com o viajante é o mais óbvio: as estradas. “Eu passei por locais bem difíceis. Para ir em cidades do interior, o acesso é difícil. Tem cidades que não tem estrada, como Marajá do Sena, na MA-008, que não é asfaltada. Depois de ter enfrentado tudo isso, hoje eu não tenho medo de enfrentar outros Estados, não”, comenta.

Outro problema que muitos podem ter imaginado é a falta de banheiro. “Como fui em todas as cidades do Maranhão percebi que banheiro era difícil, muito precário. Mas o principal é a questão financeira, que todos perguntam e pra falar a verdade chegou um momento que eu até pensei em desistir, mas foi quando pessoas passaram a me ajudar e comecei a vender chaveiros e adesivos. Foi assim que consegui e pretendo continuar”, conta.

A liberdade solitária 

Sinaldo Rodrigues disse que a principal pergunta que ouviu foi: você não se sentiu sozinho? “Não vou mentir. Teve momentos que me senti sozinho, fiquei triste e cheguei a pensar se valia a pena tudo isso. Mas foram momentos e foi uma grande experiência que vou levar pro resto da minha vida. Eu refleti muito, tive bastante tempo para pensar, sobre o meu lugar, minha família, meu Estado e meu país. E cheguei a conclusão que ganhei muito com tudo isso, conhecimento que estou adquirindo e a experiência de vida, em viajar e estar todo dia em um lugar diferente conhecendo pessoas e lugares diferentes”, expõe.

E foram essas conexões com as pessoas que o motivaram a seguir. Ele não ia somente de passagem pelas cidades. Buscava conhecer o que podia: conversava com as pessoas, procurava perguntar como era a vida na cidade, suas peculiaridades, quais eram as pessoas mais conhecidas, os pontos turísticos e até mesmo como era a relação política da cidade. “Eu catalogava informações e hoje conheço um pouquinho de cada cidade”, conta orgulhoso.

Silnaldo foi ajudado por diversas pessoas e fez amigos por onde passou. Foto: Sinaldo Rodrigues/Cedida

“Os melhores momentos foram com as pessoas. O melhor de tudo foi poder conhecer as pessoas, que me acolheram em suas residências, que me deram almoço, janta, ajudando a recuperar o fôlego para continuar”, lembra. E a prova disso é o quanto o perfil do projeto ‘Novo amanhã’ no Instagram cresceu: saiu de 1,2 mil seguidores em junho de 2021 para pouco mais de 40 mil em sete meses; e o canal no Youtube já conta com quase duas mil inscrições.

“E o que também me dava forças para continuar era a vontade de conhecer o Maranhão por completo. Eu tinha muita vontade de conhecer. Sabia que não tinha só o que falavam e pude comprovar que o Maranhão é belíssimo, tem muita riqueza porque as pessoas são maravilhosas”, assegura Sinaldo. 

“Essa é uma filosofia de vida”

“É outra coisa que eu gosto de enfatizar. As pessoas acham que eu fui curtir, aproveitar, mas na realidade isso é um projeto de vida e esse foi apenas o primeiro passo”, explica o autônomo.

E mesmo agora, durante uma pausa para descansar, Sinaldo continua seus planejamentos para os próximos destinos. Ele conta que pretende percorrer todos os Estados brasileiros. E entre os que também compõem a Amazônia Legal, Tocantins pode ser o próximo local que irá explorar. “Ainda não decidi pra onde ir, na verdade. Mas o que tenho em mente e que sei que está próximo de mim é o Jalapão, no Tocantins, que tenho muita vontade de conhecer. Sei que tem vários locais no Pará e no Amazonas, mas ainda não decidi”, confessa.

E enquanto planeja as rotas, Sinaldo também tem planejado a construção ou aquisição de uma casa sobre rodas mais equipada, para que futuramente também possa viajar por outros países sul-americanos.

Além disso, um livro está em seus planos, para contar detalhes da experiência: “Hoje eu não sou o mesmo Sinaldo de antes. Hoje eu sei valorizar coisas que não valorizava. Meu Estado, as pessoas, as amizades. Hoje me sinto mais maduro e sei que esse é só o começo. E eu também já fiz isso com a intenção de escrever um livro, ele faz parte do projeto”.

E para quem também deseja viver uma aventura como esta, Sinaldo Rodrigues aconselha que tenha sempre um planejamento específico do que quer fazer. “Várias pessoas perguntam isso, então sempre falo que precisa ter planejamento, gostar de viajar e ser desapegado. Tem que gostar e tenho certeza que entre tudo que já fiz na vida, isso foi o que mais gostei, de viver cada dia uma experiência diferente, conversar com as pessoas e descobrir os lugares. Tem que fazer o que te faz feliz, esse é o principal”, conclui. 

Confira o que o aventureiro precisou levar dentro do carro:

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