Cidades urbanizadas datadas de mais de 2.500 anos são encontradas na Amazônia Internacional

Embora seja difícil estimar as populações, o local abrigava pelo menos 10 mil habitantes, possivelmente até 15 mil ou 30 mil em seu auge.

O pensamento que se perpetua há séculos de que a Amazônia, antes da chegada dos europeus, não era composta por sociedades complexas e estruturadas, é cada vez mais ultrapassado e revelado o contrário por pesquisas científicas e estudos arqueológicos.

Um estudo publicado pela Science  mostrou que um mapeamento a laser revelou um conjunto de antigas cidades escondidas debaixo da Amazônia, que abrigaram aproximadamente 30 mil habitantes cerca de 2.500 anos atrás.

É uma rede complexa de estradas, canais e assentamentos escondidos sob a floresta no Vale Upano, no Equador

Imagem: Antoine Dorison e Stéphen Rostain/

Descoberta notada há mais de 20 anos 

Há 30 anos, o arqueólogo Stéphen Rostain do CNRS, o Centro Nacional de Pesquisa Científica da França, começou a escavar no Vale Upano. A sua equipe concentrou-se em dois grandes povoados, chamados Sangay e Kilamope.

Nas escavações, Stéphen encontrou montes organizados em torno de praças centrais, cerâmicas decoradas com tinta e linhas incisas e grandes jarros contendo restos da tradicional cerveja de milho chicha. Datações por radiocarbono mostraram que os locais de Upano foram ocupados entre cerca de 500 a.C. e entre 300 d.C. e 600 d.C.

Na época, no entanto, não conseguia ter uma visão completa da região e de como aquilo se encaixava, como contou à Science. 

Levantamento Lidar

Tudo mudou quando o Instituto Nacional do Patrimônio Cultural do Equador financiou um levantamento Lidar do vale em 2015. Aviões especialmente equipados emitiram pulsos de laser para a floresta e mediram o seu caminho de retorno, revelando características topográficas que de outra forma seriam invisíveis sob as árvores.

De acordo com o periódico  Science: 

“Os dados Lidar permitiram que Rostain e seus colaboradores vissem as conexões entre os assentamentos e também descobrissem muito mais. A equipe identificou cinco grandes assentamentos e 10 menores em 300 quilômetros quadrados no Vale Upano, cada um densamente repleto de estruturas residenciais e cerimoniais”,

apontou a descoberta.

Urbanismo denso 

Diferente do que se imaginava, que as civilizações antigas que habitavam a área amazônica viviam um estilo de vida nômade ou em pequenos assentamentos, os pesquisadores detectaram cinco principais assentamentos urbanos e dez menores em uma extensão de 300 quilômetros quadrados.

Cada um desses assentamentos foi intensamente ocupado por prédios residenciais e cerimoniais. Isso é um marco para estudos da ocupação na região. 

“Um vale perdido de cidades” 

Assim afirmou Rostain, que hoje é diretor de pesquisa no Centro Nacional de Pesquisa Científica da França. Pela estimativa, os assentamentos no Vale Upano foram ocupados no período contemporâneo ao Império Romano, na Europa.

As cidades eram interligadas por rede de estradas. A descoberta desses sítios arqueológicos no Equador é um milênio mais antiga que outras sociedades amazônicas complexas, como Machu Picchu, no Peru, construída no século 15. 

Sociedade complexa

Embora seja difícil estimar as populações, o local abrigava pelo menos 10 mil habitantes, possivelmente até 15 mil ou 30 mil em seu auge, segundo o arqueólogo Antoine Dorison, coautor do estudo.

Os habitantes cultivavam diversos alimentos, como milho, mandioca e batata-doce, conforme revelado por escavações prévias na região.

O estudo também destacou que as cidades ficavam à sombra de um vulcão que possibilitou solos ricos para agricultura – mas que também pode ter levado à destruição da sociedade.

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