Primeira partida de futebol do Brasil aconteceu na Amazônia; descubra onde

Segundo registro do naturalista francês Charles Marie de La Condamine, indígenas Kambeba na cidade de Tefé participavam de um jogo de bola em 1743 equivalente ao que seria o futebol futuramente.

O futebol é um esporte que começou a ser praticado na Inglaterra, no século XVII, e ainda nem se chamava futebol, recebendo esse nome apenas décadas depois. No entanto, não se sabe ao certo como o futebol surgiu. Segundo historiadores, os ingleses adquiriram o hábito de chutar bolas de couro, como forma de comemorar a expulsão dos dinamarqueses de seu país, no século X

Foi entre o período de 1810 e 1840 que foi registrado o crescimento do jogo entre alunos das escolas públicas da Inglaterra, entretanto, era considerado uma atividade violenta e inapropriada aos jovens de classe alta em colégios da elite inglesa.

As primeiras regras foram escritas em 1830, as “Football Rules“, criadas pelo Colégio Harrow. Desde então, as regras foram modificadas e adaptadas, sendo a mais recente, na validação da temporada 2019/2020 pela International Football Association Board (IFAB) e passaram a valer no 1º dia de junho.

Com a popularidade do esporte, em 1904, dirigentes da Bélgica, Dinamarca, Espanha, França, Holanda, Suécia e Suíça se reuniram em Paris, na França, para fundar a Fèdèration Internationale of Football Association (Federação Internacional das Associações de Futebol), a FIFA, responsável por comandar o esporte nos países praticantes e organizar competições de nível mundial.

Foi assim que a primeira edição da Copa do Mundo de Futebol nasceu, realizada pela FIFA em 1930, no Uruguai. No total, 13 seleções da América e Europa participaram do evento. 

Quem é fã de futebol certamente conhece essa história, então onde a Amazônia se encaixa nela?

Primeiro registros de futebol no Brasil

No Brasil, o futebol chegou no ano de 1894 através de um jovem filho de ingleses, Charles Miller. Ele chegou a São Paulo após realizar seus estudos na Europa e acabou trazendo consigo bolas e regras.

Entretanto, um filme documental intitulado ‘Amazonas, o Jogo da Bola’, produzido por Francisco Filho, conta a cronologia do futebol no Amazonas e aponta que existe um registro de um naturalista francês, em 1743, em que descreve um esporte que seria o equivalente ao futebol.

Segundo o registro, durante uma expedição, o europeu Charles Marie de La Condamine, após se estabelecer na cidade de Tefé, município amazonense, acabou presenciando uma descoberta surpreendente: indígenas Kambeba que habitavam a região estavam realizando uma “partida de futebol” com uma bola feita de cernambi, a borracha, que quicava. A bola deixou o naturalista curioso, pois, segundo ele, “a bola desafiava a lei da gravidade da Terra”.

Participação do Brasil na primeira Copa do Mundo. Foto: Reprodução/Arquivo CBF

A descoberta surpreendeu, pois, na época, na Europa, as bolas eram feitas de trapo e ao entrarem em contato com os campos enlameados, endureciam se transformando em “pedra”.

“O primeiro jogo de bola, registrado e documentado do Brasil, ocorreu no Amazonas. No século XVIII, nos vinte primeiros anos, a região recebeu a expedição do cientista francês Charlie Marie de La Condamine. Então, essa expedição começa no Andes, atravessa Peru, Equador, entra pelo estado do Amazonas e depois de viajar alguns anos pela região, se estabelece alguns meses, algumas semanas, na cidade de Tefé, no rio Solimões. É uma cidade muito antiga, era um forte português, um estabelecimento militar, no século XVIII. Então ali recebeu o cientista, com sua equipe toda e ele vivenciou todas as peculiaridades daquela pequena cidade colonial no vale amazônico”,

afirma Márcio Souza, jornalista, roteirista e romancista brasileiro em trecho do documentário.

Foto: Reprodução / Filme documental, Amazonas, o Jogo da Bola

O documentarista afirma que foram necessárias pesquisas que duraram dez anos para conseguir contar a história do futebol no Amazonas. E o historiador Gaspar Vieira Neto, autor do livro ‘Memórias do esporte bretão caboclo’, confirma a existência de um registro encontrado que fala sobre esse momento. 

Ele relata com detalhes no seu livro:

“Um dia surpreendi os cambebas entregues a uma singular prática, que minha razão pende entre a insanidade e o esporte, no intuito de classificá-la. Alguns homens corriam pelo terreiro da aldeia em busca de uma esfera, procuravam impulsioná-la com os pés, para um objetivo determinado que eram duas varas fincadas no solo, num dos extremos do terreiro. No outro extremo, outro semelhante par de varas parecia ser considerado o objetivo de alguns dos participantes, que para lá procuravam desviar sempre aos coices, a esfera quem porventura se encontrasse nos pés de algum adversário. Mas o principal não é a natureza exótica dessa prática, é a própria esfera que parece constituir o centro de interesse.


Essa esfera salta e torna a saltar, contrariando a lei da gravidade da terra. Tal peculiaridade logo me atraiu, e os gentis cambebas me mostraram que a esfera, elástica e cheia de ar, tinha sido manufatura a partir de uma seiva branca, que uma espécie muito farta de árvores deita generosamente. Esta seiva é solidificada com a fumaça e se torna elástica, impermeável e com outras peculiaridades que poucas matérias podem reivindicar. Vislumbro um grande futuro para essa descoberta que, a princípio, me intrigou por desafiar uma lei tão severa que é a da atração dos corpos”,


Trecho do livro “Viagem pelo Rio Amazonas” (1735-1745).

Confira o trailer do documentário:

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