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Sexta, 26 Abril 2024

Lideranças indígenas do Vale do Javari denunciam ameaças de pescadores ilegais

Após mais de cinco meses do assassinato do indigenista Bruno Pereira e do jornalista inglês Dom Phillips, lideranças indígenas que atuam no Vale do Javari, no interior do Amazonas, continuam vivendo sob constantes ameaças de pescadores ilegais.

Até mesmo um aviso de "extermínio" dos protetores da região foi feito pelos criminosos. É o que aponta uma carta aberta da Associação dos Kanamari, divulgada nesta sexta-feira (18), após um grupo de 30 indígenas da etnia ter sido atacado.

Conforme o documento, os pescadores chegaram a apontar uma arma para o peito de uma indígena, que é uma das líderes dos Kanamari, e disseram que "as mortes no Vale do Javari não vão acabar até que as principais lideranças do local sejam assassinadas". Os homens disseram ainda que a mulher está na lista dos alvos dos criminosos.

Povos indígenas vivem no Vale do Javari, no Amazonas. Foto: Reprodução/Univaja

"Vou tirar a máscara para você ver meu rosto e te avisar que por conta de atitudes assim que Bruno e Dom foram mortos pela nossa equipe e você será a próxima. Só não te matarei agora porque estamos na presença de muitas crianças", disse um dos pescadores à mulher, segundo os indígenas.

Após ameaçar a liderança, os pescadores teriam cortado a fiação de uma das canoas dos indígenas. Os pescadores, então, saíram pelo rio empunhando armas e atirando em direção às embarcações. De acordo com a Associação, os tiros perfuraram os tambores de gasolina que estavam em uma das embarcações.

Segundo a Associação, o caso aconteceu após uma atividade de preparação para o Encontro de Lideranças da União dos Povos Indígenas do Vale do Javari (Univaja) na comunidade Massapê, no rio Itacoaí - onde Bruno e Dom foram mortos.

Ao retornar para cidade, o grupo de indígenas foi surpreendido pelos pescadores ilegais, que estavam realizando pesca predatória dentro do território, o que é proibido.

Ainda de acordo com a Associação, embarcações dos pescadores ilegais estavam lotadas de quelônios e peixes e os suspeitos tentaram convencer um indígena a não denunciar o caso, oferecendo tracajás como pagamento pelo silêncio. Ao ver a situação, a líder questionou os pescadores e foi ameaçada.

Na carta, os indígenas contam que viver sob a mira de armas virou rotina na terra indígena: "A vida nunca mais foi a mesma. Não há segurança alguma para viver dentro do nosso território, temos medo por nós e pelos nossos parentes isolados. Essa situação foi mais uma que aconteceu aqui, mesmo após os terríveis assassinatos de nossos irmãos e parceiros, Bruno e Dom, nada mudou e nos perguntamos: 'Quantos dos nossos iremos perder nesta guerra?'".

A Associação termina a carta pedindo ajuda: "Queremos ajuda, pois queremos viver. Toda a vida que habita a floresta é importante e defenderemos nossos irmãos e irmãs sempre. Seguiremos fortes até o fim", finalizou o grupo.

Bruno e Dom

Bruno Pereira e Dom Phillips foram mortos a tiros e tiveram os corpos queimados e enterrados durante uma expedição em uma região da Amazônia, o Vale do Javari, que é palco de conflitos que têm se alastrado pela floresta: tráfico de drogas, roubo de madeira e avanço do garimpo. Os dois foram vistos pela última vez no dia 5 de junho, quando passavam em uma embarcação pela comunidade de São Rafael. De lá, seguiam para a cidade de Atalaia do Norte. A viagem de 72 quilômetros deveria durar apenas duas horas, mas eles nunca chegaram ao destino.

Os restos mortais deles foram achados em 15 de junho. As vítimas teriam sido mortas a tiros e os corpos, esquartejados, queimados e enterrados. Segundo laudo de peritos da PF, Bruno foi atingido por três disparos, dois no tórax e um na cabeça. Já Dom foi baleado uma vez, no tórax. A polícia achou os restos mortais dos dois após Amarildo da Costa Oliveira confessar envolvimento nos assassinatos e indicar onde os corpos estavam.

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