Descubra por quê Itacoatiara é conhecida por ser a cidade da pedra pintada

O nome Itacoatiara é originário da língua indígena Tupi-Guarani ou nheengatu: itá (pedra) e coatiara (pintado, gravado, escrito, esculpido). Mas por que a cidade amazonense recebeu esse nome?

O município de Itacoatiara, localizado na Região Metropolitana de Manaus, no Amazonas, é considero o terceiro mais populoso do Estado, com 104.046 habitantes, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Fundado em 1683 por padres jesuítas, a cidade antes de receber o nome Itacoatiara, era chamada de Velha Serpa.

Os registros de início de povoamento datam do ano de 1655, quando o Padre Antônio Vieira criou a Missão dos Aroaquis na Ilha de Aiibi, próximo da boca do Lago do Arauató. 

O núcleo urbano da cidade foi fundado em 8 de setembro de 1683, por padres jesuítas, na calha do Rio Madeira, que depois foi transferida para as margens do Rio Amazonas, onde a cidade de Itacoatiara está localizada.

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Anteriormente, o aniversário era comemorado no dia 25 de abril, em alusão à emancipação e reconhecimento como cidade em 1874, entretanto, documentos históricos indicam que a cidade foi fundada no dia 8 de setembro. Em 2020, o então prefeito Antônio Peixoto sancionou a lei n°. 404/2019, reconhecendo como a data da fundação.

Outro fato curioso a cidade ser conhecida como a cidade da Pedra Pintada e o Portal Amazônia buscou a explicação.

Foto: Francisco Jota

Primeiramente, nome Itacoatiara é originário da língua indígena Tupi-Guarani ou nheengatu: itá (pedra) e coatiara (pintado, gravado, escrito, esculpido). Mas, afinal, por que a cidade ganhou esse nome tão peculiar?

O município ganhou este nome, pois na margem da cidade, em período de vazante, foi encontrada uma pedra pintada com uma figura rupestre intrigante. A ponta de pedra possui na face principal desenhos, símbolos religiosos e inscrições em português. Entre elas, contém a palavra ‘TROPA’, além de uma cruz sobre uma escada e as datas 1744 e 1754, que foram gravadas em ferro e fogo para marcar a passagem de Mendonça Furtado pelo lugar, em 1754, e o sargento-mor Francisco Xavier de Moraes (1700-c. 1788) em 1744, que chefiando uma bandeira, passou pelo local e acabou deixando o seu registro.

A pedra foi removida na década de 1970 e está exposta da praça da cidade, como ponto turístico.

De acordo com o Sistema de Gerenciamento do Patrimônio Arqueológico do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), 46 sítios arqueológicos estão registrados no município, divididos nas categorias: Histórico, Pré-colonial e de contato.

Uma tese de mestrado realizado pela pesquisadora e arqueóloga Marta Sara Cavallini, pela Universidade de São Paulo (USP), em 2021, aponta que o sítio Ponta do Jauary mostra não apenas uma, mas várias rochas com figuras gravadas que ficam submersas e aparecem na época de vazante do rio. De acordo com o estudo, a primeira descrição das gravuras de Itacoatiara foi realizada pelo Padre João Daniel, durante a segunda metade do século XVII:

“Nas margens do Amazonas ha ûa paragem, entre Pauxi e a foz do rio Madeira, chamada na língoa dos índios natuares – ita cotiará – que quer dizer pedra pintada ou debuxada [;] venm-lhe o nome de várias figuras e pinturas delineadas naquelas pedras; e pouco mais acima estão estampadas em outras pedras alguas pegadas de gente. O que suposto, discorrem alguns, que tanto uns como outros serãp signaes misteriosos, como as pegadas esculpidas no pavimento do altar, que dissemos no Rio Xingu; porque não parecem feitas por engenho da arte. Outros porém concedendo a causal, dizem, que estas podem ser por causa natural, que pode ser, que passando por ali algum curioso índio, quando ainda aquelas pedras estivessem barro brando. debuxaria por divertimento as taes pinturas e figuras; e pela mesma razão de brandas, passando por cima das outras, deixaria estampadas nelas os pés, e ao depoes fazendo-se pelo decurso dos tempos aqueles barros petrefactos, conservam as mesmas figuras. “

(Daniel, 1976:61-62)

O sítio arqueológico é caracterizado como um sítio de arte rupestre a céu aberto na beira do rio e possui além de símbolos, o registro de rostos humanos “picoteados”. O local fica à beira da cidade, no porto de Itacoatiara, no bairro Jauary.

Foto: Reprodução / Tese de Mestrado da Marta Sara Cavallini

Além deste sítio arqueológico, existem mais outros dois localizados em Itacoatiara que são registrados como concentração de arte rupestre: Sítio Sangáua II e o Sítio São José da Enseada.

De acordo com a tese, no rio que banha a região de Itacoatiara, estudos apontam que essas figuras rupestres tenham sido feitas dentro do milênio depois de Cristo (d.C.), sendo relacionado à ocupação indígena do período pré-colonial tardio.

“No baixo rio Urubu, estudos sugerem a data de 2.000 AP para o surgimento dos primeiros assentamentos sedentários associados à fase Itacoatiara e o começo da parábola de incremento demográfico que teria seu ápice em torno do ano 1.000 d.C. Em tal época, o aumento da interação entre grupos indígenas teria levado à formação de comportamentos territorialistas, possivelmente representados na relação entre a variabilidade formal e a homogeneidade temática do registro rupestre.” 

 (CAVALLINI, Sara Marta. 2014. p.200)

*Matéria baseada nas seguintes referências:

CAVALLINI, Marta Sara. As gravuras rupestres da bacia do baixo rio Urubu: levantamento e análise gráfica do sítio Caretas, Itacoatiara – Estado do Amazonas. Uma proposta de contextualização. 2014. Dissertação (Mestrado em Arqueologia) – Museu de Arqueologia e Etnologia, Universidade de São Paulo, São Paulo, 2014. doi:10.11606/D.71.2014.tde-21102014-161559. Acesso em: 2022-04-25.

SILVA, Francisco Gomes da. Fundação de Itacoatiara (1º volume da Trilogia Itacoatiara 330 anos) – 2ª edição revista e ampliada. Manaus: Governo do Estado do Amazonas – Secretaria de Estado de Cultura, 2017.


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