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Quinta, 25 Abril 2024

Devido ao aumento da temperatura, as castanheiras na Amazônia não frutificaram no Amapá

Devido ao aumento da temperatura, as castanheiras na Amazônia não frutificaram no Amapá

Uma pesquisa da Embrapa Amapá revelou a interferência de mudanças climáticas sobre a produção de frutos da castanha-da-amazônia dentro da Reserva Extrativista do Rio Cajari (Resex Cajari), no Sul do estado. O estudo ocorreu de 2007 a 2018 e foi publicado em janeiro na revista científica Acta, do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa).

Foram analisados os frutos de 205 castanheiras na região. A principal interferência climática ocorreu por conta do fenômeno El Niño entre 2015 e 2016, que elevou a temperatura média em aproximadamente 2 graus.

Nesse período, segundo o pesquisador líder do estudo Marcelino Guedes, as castanheiras mais altas tiveram as copas secadas pelo calor e não frutificaram.

Foto: Marcelino Guedes/Embrapa

"A pesquisa ocorreu a partir da 3 projetos aprovados voltados para produtos não-madeireiros. Durante esse monitoramento de mais de 15 anos, a gente pôde observar esse efeito da crise climática que já está afetando toda a nossa biodiversidade aqui na Amazônia e especificamente nesse caso, a castanheira", 

disse o pesquisador.

A escassez diminuiu em até 8 vezes a produção da castanha e impactou o preço do produto que é a principal base econômica dos extrativistas nessa região do Amapá.

A reserva, que é monitorada de forma contínua pela Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), e possui mais de 70 mil castanheiras, segundo um levantamento da instituição. 

 Como se adaptar às mudanças climáticas

Marcelino Guedes explicou que não há como reverter a situação, mas é possível encontrar maneiras de adaptação, como o manejo florestal sustentável e a regeneração com novas espécies em áreas do entorno dos castanhais.

"A gente monitora mais de 500 castanheiras na reserva e fez a pesquisa em mais de 200. Estamos trabalhando com o manejo florestal sustentável com as comunidades da região e também com a regeneração de mudas modificadas mais resistentes às altas temperaturas", explicou o pesquisador.

Guedes informou ainda que a própria natureza auxilia nesse processo. Roedores como as cutias, por exemplo, pegam os frutos e enterram em roças para se alimentarem posteriormente. Como não conseguem encontrar todos os frutos depois, eles germinam e nascem nesses locais.

Foto: Marcelino Guedes/Embrapa

 O El Niño

O El Niño é um fenômeno atmosférico-oceânico que ocorre quando a temperatura das águas do oceano Pacífico Equatorial fica mais quente do que a média normal, influenciando no calor e umidade de várias regiões do mundo.

Em 2015 e 2016, esse fenômeno foi o mais intenso dos últimos 50 anos e afetou toda a região amazônica com uma temperatura máxima mensal de 2,1 graus, maior em relação à média máxima normal de outros anos.

Foto: Marcelino Guedes/Embrapa

 Impacto para produtores e consumidores

Em 2017, houve uma queda na produção de castanha em toda a Amazônia, com um total de 21.651 mil toneladas, 37% abaixo da média de 10 anos (2010-2019), de acordo com dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), publicados em 2021.

De acordo com a Embrapa, em 2017, a baixa produção de frutos da castanheira elevou o preço da lata de 11 quilos (unidade de referência para comercialização) de R$ 50,00 em 2016 para R$ 120,00 em 2017, em diversas áreas de extrativismo da Amazônia. No caso do Amapá a elevação foi ainda maior, ficou em torno de R$ 200,00.

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