Arquitetura alemã, ladeiras, farinha e belos balneários: conheça Cruzeiro do Sul

Segunda maior cidade do Acre foi fundada pelo militar Thaumaturgo de Azevedo e possui diversos atrativos turísticos curiosos.

A imponente Catedral de Nossa Senhora da Glória, bem no Centro de Cruzeiro do Sul, revela como a arquitetura da cidade tem fortes características alemãs. Com mais de 100 anos, Cruzeiro do Sul é a segunda maior cidade do Acre e foi fundada pelo militar Gregório Thaumaturgo de Azevedo, conhecido por Marechal Thaumaturgo.

A cidade com mais de 80 mil habitantes conta sua história nas curvas. Conhecida pelas ladeiras, resultado do choque entre placas tectônicas, é em Cruzeiro do Sul que concentram pontos turísticos, como o Croa, Igarapé Preto e a Catedral Nossa Senhora da Glória, que também é palco de um dos maiores novenários da região Norte.

Leia também: Choque entre placas tectônicas deu origem a ladeiras em Cruzeiro do Sul no Acre

Ela também está entre as cidades dentro do Parque Nacional da Serra do Divisor. Atualmente, o ecoturismo, principalmente no Croa, tem chamado atenção até de quem é do Estado, mas ainda não conhecia a cidade. Confira algumas curiosidades:

Croa é um dos pontos turísticos em Cruzeiro do Sul. Foto: Pedro Devani/Secom-AC

Arquitetura alemã 

O município se desenvolveu pela influência direta de missionários alemães da Igreja Católica. Os religiosos chegaram a partir de 1935 e superaram o isolamento da região do Alto Juruá para construir dezenas de prédios com arquitetura alemã que integram a estrutura da igreja.

Com uma cidade pouco habitada na década de 30, os alemães tiveram espaço e oportunidade para erguer as construções da igreja em terrenos planos, mas além da visão religiosa tinham ideias turísticas para o futuro. Aproveitaram o relevo ‘acidentado’ de Cruzeiro do Sul para construir no alto dos morros. 

Nem a urbanização da cidade, em mais de sete décadas, conseguiu tirar a visão das edificações dos padres, como é o caso do Instituto de Ensino Santa Teresinha e da Escola São José, anexa a um convento e a um prédio residencial para líderes religiosos.

Se no alto, os edifícios alemães chamam a atenção, em uma parte mais baixa bem no centro da cidade, está a imponente Catedral Nossa Senhora da Glória. Segundo o coordenador de celebrações da Igreja, Alberto Rodrigues de Brito, que já tem 80 anos de idade e conhece toda a história da igreja, o monumento histórico tem em sua estrutura, um milhão de tijolos maciços, madeira especial como marfim e o teto de bronze trazido da Alemanha.

Catedral Nossa Senhora da Glória construída por padres alemães. Foto: Vanísia Nery/g1 Acre

 ‘Cidade das ladeiras’

Ladeira do Bode, Ladeira da Remela, Morro dos Quibes e estrada Tiro ao Alvo. Não é à toa que Cruzeiro do Sul é conhecida como a cidade das ladeiras. Com um revelo que difere do restante dos municípios acreanos, a cidade foi se desenvolvendo em meio aos altos e baixos e chama a atenção com ladeiras que ultrapassam os 10 metros de altura.

Algumas de suas ladeiras foram batizadas com nomes inusitados pelos próprios moradores. Um dos morros mais altos de Cruzeiro do Sul é o Morro da Glória, localizado na região central. O nome é uma homenagem à padroeira Nossa Senhora da Glória, que teve a primeira igreja construída no alto do morro por arquitetos alemães, na década de 1930. 

Tanto sobe e desce tem explicação. E, segundo o engenheiro agrônomo e doutor em ciência do solo Edson Alves de Araújo, da Universidade Federal do Acre (Ufac), a terra cruzeirense sofreu modificações até tomar como forma as enormes curvas.

O professor explica que a resposta para a formação do relevo ondulado pode ser encontrada no Peru, país que faz fronteira com o Acre. Isso porque, de acordo com Araújo, a formação geológica seria resultado do choque entre duas placas tectônicas: a de Nazca e a Sul-Americana, fenômeno que deu origem ainda à Cordilheira dos Andes, cerca de 4 milhões de anos atrás.

Segunda maior cidade é conhecida por suas ladeiras e morros íngremes. Foto: Anny Barbosa/g1 Acre

Farinha: patrimônio cultural 

Impossível ir até Cruzeiro do Sul e não voltar com um saco de farinha na bagagem. Um dos produtos mais famosos do Acre e que dá o nome de um dos festivais mais movimentados da Região do Juruá, a farinha de Cruzeiro do Sul se tornou patrimônio cultural do Estado por meio de um decreto assinado pelo governador Gladson Cameli no ano passado.

Em 2017, a tradicional farinha de Cruzeiro do Sul, base da economia da cidade, conseguiu adquirir o selo de indicação geográfica pelo Instituto Nacional de Propriedade Industrial (Inpi). 

O biscoito hoje é um dos principais produtos da cidade também. Figurinha presente em todos os mercados municipais, ele agrada o gosto dos turistas e de quem mora na cidade. As cooperativas, por um tempo, ganharam força, mas também sofreram dificuldades. A matéria-prima utilizada para a fabricação dos biscoitos é a goma extraída da mandioca.

Farinha de Cruzeiro do Sul é famosa pela qualidade. Foto: Francisco Rocha/g1 Acre

Balneários 

Quem chega em Cruzeiro do Sul já se depara com o famoso igarapé de águas pretas. “Figurinha carimbada”, você pode nunca ter ido na cidade, mas vai ouvir falar dele. Os mais antigos ainda lembram do ‘Seu Madruga’, dono de um bar que ficava logo acima. O espaço começou a ser revitalizado, animando os cruzeirenses e turistas que se refrescam nas água geladas do balneário. 

A área do balneário pertence a Infraero, mas foi cedida em dezembro de 2015 por 20 anos para a prefeitura de Cruzeiro do Sul. A administração municipal, que deve fazer investimentos e revitalizar o local, assinou um convênio de R$ 1,4 milhão com a Superintendência do Desenvolvimento da Amazônia (Sudam) para isso.

Igarapé Preto, em Cruzeiro do Sul, é convite para acabar com o calor. Foto: Adelcimar Carvalho/g1 Acre

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