A abertura oficial do evento aconteceu na sexta-feira (22), com a participação de todos os competidores. Cada time chegou na base da reserva fazendo a festa, com direito a fogos e grito de guerra. Os comunitários foram divididos em quatro equipes, mas apenas três participam dos jogos: Jacarequara, Núcleo e Maracarana. Na ocasião, os atletas foram apresentados para o público, cantaram o Hino Nacional do Brasil e participaram do acendimento da pira Olímpica. Em seguida, os grupos realizaram performances culturais, todas destacando a conversação e preservação do meio ambiente.
O projeto Dicara foi desenvolvido em 2014 com o objetivo de levar oportunidade para as crianças ribeirinhas do Amazonas, além do esporte, os comunitários têm acesso à cultura, educação e conscientização ambiental. A ideia da Olimpíada na Floresta surgiu a partir das oficinas que eram realizadas pelas comunidades da RDS do Uatumã. Alunos, pais e professores se reuniram com a equipe do projeto para criar um evento que celebrasse a atividade física e integrasse todos os comunitários.
Segundo o coordenador do Dicara, Ademar Cruz, a integração das crianças e jovens das comunidades é o principal foco do projeto. Ele acompanhou os jogos e falou da importância de criar uma programação diferenciada para as comunidades. “Queríamos desenvolver um evento que servisse para a integração das comunidades do Uatumã, afinal apesar de pertencerem a mesma reserva alguns moram longe e não tem uma interação saudável. Outro ponto importante é desenvolver uma potencialidade esportiva nos jovens ribeirinhos”, afirmou.
A união faz a forçaToda a infraestrutura do evento foi feita pelos comunitários e organizadores do programa Dicara. Três representantes do projeto auxiliaram as comunidades durante três semanas. “Foram dias bastante intensos, contamos muito com a ajuda deles. A gente organizou os lugares que aconteceriam os jogos, marcamos os campos, penduramos a rede de vôlei, montamos o palco principal e a pira olímpica, então o trabalhou foi árduo, mas todos se mobilizaram e realizamos um serviço colaborativo”, explicou a organizadora do evento, Laura Candelaria.Todos participaram para a demarcação dos lugares que receberiam os jogos. Foto: Diego Oliveira/Portal AmazôniaHá três anos o comunitário Cristiano Gonçalves é gerente da RDS do Uatumã. Ao Portal Amazônia ele falou sobre a importância de incentivar a juventude riberinha por meio do esporte. “Os estudantes dos quatro núcleos estão se conhecendo melhor nesse evento, e a faixa etária infantil e jovem é a maioria na nossa RDS, então para nós é importante para nós ver a juventude participar dessa competição que traz essa questão da competitividade saudável”, contou.
Competição acirrada
Futebol, vôlei, queimada, canoagem, salto a distância, corrida com saco e atletismo foram algumas das modalidades que integraram a primeira edição da Olimpíada na Floresta. Os jovens se preparam por quase um mês para os jogos. Os professores atuaram como técnicos e acompanharam de perto os atletas. “Acho que a escola tem um papel fundamental na educação dos alunos, principalmente quando envolve atividades esportivas. O bacana é observar a animação dos estudantes que estão participando dos jogos, porque eles são as peças principais dessa ação”, comentou o gestor da Escola Estadual Yamamay, Vanilson da Silva.
Na concentração, os competidores estavam tranquilos, mas analisavam todos os concorrentes. A partida de futebol foi a que mais reuniu a torcida, as equipes masculinas e femininas deram um show no campo de areia. Outro destaque ficou para a competição do atletismo que gerou uma competitividade entre as equipes. Para o estudante Alexandre Batista, da Comunidade Nossa Senhora do Livramento, o evento serviu para a conquista de novas amizades. “É muito bom ter contato com pessoas novas, a gente sai pouco da comunidade, então a gente aproveita para conversar e trocar dicas”, disse.
Sonhos
Entre os comunitários, a reportagem conheceu os jovens Janildo Rodrigues e Glória Maria, eles participavam dos jogos, mas ficaram curiosos mesmo para conhecer a rotina de um jornalista. “A gente faz parte de um projeto que desenvolve novos repórteres na comunidade”, contou Glória Maria. A experiência deles com a comunicação rendeu ainda mais vontade de trabalhar na área. “Apresentamos um jornal de rádio uma vez, mas foi apenas para as comunidades”, revelou Jonildo.
O adolescente Gesiel Santos, da comunidade da Cesaréia, participou de várias categorias e garantiu que o importante é competir e aproveitar a experiência. Ele ficou animado com a oportunidade de integrar um time com colegas de outras comunidades. “A minha equipe, o Núcleo, é a junção das comunidades do Caribi, Monte das Oliveiras, Livramento e das Pedras. Eu nunca imaginei que jogaria com eles, infelizmente a gente não conseguiu treinar muito, mas o pouco que conseguimos foi muito proveitoso. Agora queremos a mesma formação para o ano que vem”, garantiu.
A equipe que organizou a Olimpíada na Floresta já esteve presente na RDS do Uatumã para realizar a Oficina dos Sonhos, a ideia era desenvolver a juventude da comunidade através de seus desejos individuais. “Nesse tempo conhecemos muitos comunitários e criamos algo grande para envolver todos os polos”, disse o assessor do projeto Dicara, Luiz Maudonnet. Já para o produtor Arthur Goerck, o evento mostra o potencial das comunidades. “A mão está toda calejada, mas fizemos com carinho. A gente serviu como facilitador do processo, mas o trabalho é todo dos comunitários”, contou.