Ribeirinhos da RDS do Uatumã celebram primeira edição da Olimpíada na Floresta

O fogo olímpico brilhou novamente, mas dessa vez foi na Reserva de Desenvolvimento Sustentável (RDS) do Uatumã (localizado a 330 quilômetros de Manaus). Neste sábado (23), cerca de 200 crianças e adolescentes de comunidades ribeirinhas participaram da primeira edição da Olimpíada na Floresta. O evento, promovido pelo Programa de Desenvolvimento Integral da Criança e do Adolescente Ribeirinho da Amazônia (Dicara), reuniu 20 comunidades divididas em três equipes que disputaram a competição por um troféu de ouro.

A abertura oficial do evento aconteceu na sexta-feira (22), com a participação de todos os competidores. Cada time chegou na base da reserva fazendo a festa, com direito a fogos e grito de guerra. Os comunitários foram divididos em quatro equipes, mas apenas três participam dos jogos: Jacarequara, Núcleo e Maracarana. Na ocasião, os atletas foram apresentados para o público, cantaram o Hino Nacional do Brasil e participaram do acendimento da pira Olímpica. Em seguida, os grupos realizaram performances culturais, todas destacando a conversação e preservação do meio ambiente. 

Abertura concentrou todas os alunos na base da RDS do Uatumã. Foto: Diego Oliveira/Portal Amazônia

O projeto Dicara foi desenvolvido em 2014 com o objetivo de levar oportunidade para as crianças ribeirinhas do Amazonas, além do esporte, os comunitários têm acesso à cultura, educação e conscientização ambiental. A ideia da Olimpíada na Floresta surgiu a partir das oficinas que eram realizadas pelas comunidades da RDS do Uatumã. Alunos, pais e professores se reuniram com a equipe do projeto para criar um evento que celebrasse a atividade física e integrasse todos os comunitários. 

Segundo o coordenador do Dicara, Ademar Cruz, a integração das crianças e jovens das comunidades é o principal foco do projeto. Ele acompanhou os jogos e falou da importância de criar uma programação diferenciada para as comunidades. “Queríamos desenvolver um evento que servisse para a integração das comunidades do Uatumã, afinal apesar de pertencerem a mesma reserva alguns moram longe e não tem uma interação saudável. Outro ponto importante é desenvolver uma potencialidade esportiva nos jovens ribeirinhos”, afirmou. 

Equipes posam para as lentes do Portal Amazônia. Foto: Diego Oliveira/Portal Amazônia 

A união faz a forçaToda a infraestrutura do evento foi feita pelos comunitários e organizadores do programa Dicara. Três representantes do projeto auxiliaram as comunidades durante três semanas. “Foram dias bastante intensos, contamos muito com a ajuda deles. A gente organizou os lugares que aconteceriam os jogos, marcamos os campos, penduramos a rede de vôlei, montamos o palco principal e a pira olímpica, então o trabalhou foi árduo, mas todos se mobilizaram e realizamos um serviço colaborativo”, explicou a organizadora do evento, Laura Candelaria.Todos participaram para a demarcação dos lugares que receberiam os jogos. Foto: Diego Oliveira/Portal AmazôniaHá três anos o comunitário Cristiano Gonçalves é gerente da RDS do Uatumã. Ao Portal Amazônia ele falou sobre a importância de incentivar a juventude riberinha por meio do esporte. “Os estudantes dos quatro núcleos estão se conhecendo melhor nesse evento, e a faixa etária infantil e jovem é a maioria na nossa RDS, então para nós é importante para nós ver a juventude participar dessa competição que traz essa questão da competitividade saudável”, contou.

Competição acirrada

Futebol, vôlei, queimada, canoagem, salto a distância, corrida com saco e atletismo foram algumas das modalidades que integraram a primeira edição da Olimpíada na Floresta. Os jovens se preparam por quase um mês para os jogos. Os professores atuaram como técnicos e acompanharam de perto os atletas. “Acho que a escola tem um papel fundamental na educação dos alunos, principalmente quando envolve atividades esportivas. O bacana é observar a animação dos estudantes que estão participando dos jogos, porque eles são as peças principais dessa ação”, comentou o gestor da Escola Estadual Yamamay, Vanilson da Silva. 

Equipes celebraram final do evento com troféus e medalhas. Foto: Diego Oliveira/Portal Amazônia

Na concentração, os competidores estavam tranquilos, mas analisavam todos os concorrentes. A partida de futebol foi a que mais reuniu a torcida, as equipes masculinas e femininas deram um show no campo de areia. Outro destaque ficou para a competição do atletismo que gerou uma competitividade entre as equipes. Para o estudante Alexandre Batista, da Comunidade Nossa Senhora do Livramento, o evento serviu para a conquista de novas amizades. “É muito bom ter contato com pessoas novas, a gente sai pouco da comunidade, então a gente aproveita para conversar e trocar dicas”, disse.

Sonhos

Entre os comunitários, a reportagem conheceu os jovens Janildo Rodrigues e Glória Maria, eles participavam dos jogos, mas ficaram curiosos mesmo para conhecer a rotina de um jornalista. “A gente faz parte de um projeto que desenvolve novos repórteres na comunidade”, contou Glória Maria. A experiência deles com a comunicação rendeu ainda mais vontade de trabalhar na área. “Apresentamos um jornal de rádio uma vez, mas foi apenas para as comunidades”, revelou Jonildo.

Jogadores celebram gol marcado durante partida de futebol. Foto: Diego Oliveira/Portal Amazônia

O adolescente Gesiel Santos, da comunidade da Cesaréia, participou de várias categorias e garantiu que o importante é competir e aproveitar a experiência. Ele ficou animado com a oportunidade de integrar um time com colegas de outras comunidades. “A minha equipe, o Núcleo, é a junção das comunidades do Caribi, Monte das Oliveiras, Livramento e das Pedras. Eu nunca imaginei que jogaria com eles, infelizmente a gente não conseguiu treinar muito, mas o pouco que conseguimos foi muito proveitoso. Agora queremos a mesma formação para o ano que vem”, garantiu.

A equipe que organizou a Olimpíada na Floresta já esteve presente na RDS do Uatumã para realizar a Oficina dos Sonhos, a ideia era desenvolver a juventude da comunidade através de seus desejos individuais. “Nesse tempo conhecemos muitos comunitários e criamos algo grande para envolver todos os polos”, disse o assessor do projeto Dicara, Luiz Maudonnet. Já para o produtor Arthur Goerck, o evento mostra o potencial das comunidades. “A mão está toda calejada, mas fizemos com carinho. A gente serviu como facilitador do processo, mas o trabalho é todo dos comunitários”, contou.

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