MANAUS – O esporte é uma ferramenta imprescindível para afastar as crianças carentes das ruas. Mas um projeto social de jiu-jítsu e luta livre no Conjunto Viver Melhor, em Manaus, faz algo diferente: aproveita a própria rua para ensinar as artes marciais para a comunidade. Isto porque, sem apoio para a construção de um local fechado, os treinos do projeto são realizados em um tatame no meio da rua.
Projeto social de jiu-jítsu e luta livre no Viver Melhor é realizado no final da rua Japury. Foto: Reprodução/Amazon Sat
Projeto social de jiu-jítsu e luta livre no Viver Melhor é realizado no final da rua Japury. Foto: Reprodução/Amazon Sat
O projeto Alessandro Cohen/Sonic atende cerca de 60 crianças no Viver Melhor. Como os garotos treinam a céu aberto, não há condições de fazer treinamento em período de chuva. De quebra, um bueiro embaixo do tatame transborda a cada temporal e ‘interdita’ o espaço. Também há um cuidado para evitar contato físico no trecho do tatame ocupado pelo bueiro para evitar acidentes.
Os coordenadores do projeto, Aureliano Neto e Arlen Vitor, sonham com a construção de um local fechado para melhorar as condições de treinamento. “Seria um lugar mais à vontade para os meninos e, caso chovesse, não atrapalharia nossos treinos. A gente agora está se programando para um campeonato em dezembro e estamos tendo dificuldades devido às chuvas”, disse Neto.
Apesar das limitações estruturais, o projeto acumula conquistas em um ano e meio de atividade. No jiu-jítsu, a academia recentemente ficou em 6º lugar na Copa Arthur Neto. Na luta livre, o projeto já é a segunda força do Estado, atrás apenas do CT Brunocilla, de Totonho Aleixo.
Bueiro atrapalha condições de tatame e ‘colchões’ são colocados para evitar acidentes. Foto: Reprodução/Amazon Sat
Bueiro atrapalha condições de tatame e ‘colchões’ são colocados para evitar acidentes. Foto: Reprodução/Amazon Sat
No entanto, o grande objetivo do projeto é afastar as crianças da criminalidade, fazendo com que os jovens se tornem bons cidadãos e sigam o caminho do esporte. “A gente traz [pro projeto] e tenta dar uma condição melhor pros jovens da 2ª etapa do Viver Melhor”, disse Arlen Vitor.Frutos do projeto
Um dos talentos da equipe é Walter Santos, de apenas 17 anos. Ele treina jiu-jítsu no Viver Melhor e também é destaque na luta olímpica, onde faz parte da equipe de Helton Henrique na Vila Olímpica de Manaus.
Oriundo de família humilde, Walter ‘brinca’ com as condições estruturais do projeto. “A gente até adivinha o tempo e pensa: será que vai chover hoje?”, descontraiu. Apesar disso, ele valoriza o espírito de solidariedade da academia. “Muitas dessas crianças não tem quimono. Com o tempo, cada um vai fazendo uma rifa, os pais vão ajudando. Quando alguém troca de faixa, aproveita e doa pro outro. Eu mesmo não tinha quimono, meu professor me emprestou”, disse.
A jovem promessa também pede a construção de um espaço de lutas no bairro. “Aqui no Viver Melhor tem quadra de futebol, futsal, mas não tem nenhum esporte de lutas. E acho que hoje em dia as crianças querem aprender MMA, jiu-jítsu, luta livre. O país é do futebol, mas Manaus é a cidade da luta”.