O ano de 2016 tem sido especial para o Atlético Acreano. O clube quebrou um jejum de 25 anos sem título estadual e agora está a três jogos de tentar o acesso na Série D do Campeonato Brasileiro. Mas como um time de pouco orçamento e expressão conseguiu chegar tão longe? O segredo está em três pilares: juventude, continuidade e superação.
Ainda invicto, Atlético Acreano é a sensação da Amazônia na Série D. Foto: Divulgação/Nacional FC
A base do Galo Carijó é jovem, mas tem futebol de gente grande. Entre os talentos está o meiaPolaco, de apenas 22 anos, canhoto e eleito o craque do Campeonato Acreano 2016. Além dele, meninos como Leandro Jucá, Tragodara e Fellypinho fazem parte de uma base que joga junta desde a categoria infantil com Álvaro Miguéis, hoje treinador do time principal.
A história de Miguéis e seus comandados iniciou ainda na base do Rio Branco, depois rumando para o Atlético. Foram vários títulos na base e participações de destaque na Copa São Paulo, mesmo sem passar da primeira fase. Uma delas, em 2012, culminou na ida do atacante Matheus Pato para a base do Fluminense.
No profissional, os meninos começaram a ter destaque também em 2012, quando foram vice-campeões estaduais. “Eles tinham entre 16 e 18 anos. Perdemos a final contra o Rio Branco num jogo que vencíamos por 3 a 0. Fomos pra Série D e liderávamos quando eu saí [do clube]. Foi quando eu saí do futebol e quase todos [os jovens] também saíram”, recorda Miguéis em entrevista ao canalAmazon Sat.
É aí que entra a superação. Além de buscar o caminho do estudo, os meninos que continuaram no futebol também precisavam conciliar a atividade com outro emprego – como fazem até hoje, mesmo com o sucesso na Série D.
A vida da promissora geração mudou de vez em 2016, quando Miguéis voltou ao futebol e ao seu clube do coração. E ele não teve dúvidas a quem recorrer. “Uns 20% deles conseguiram arrumar os horários e vieram jogar comigo novamente”, disse o treinador. “Se não fosse isso, não haveria condições. Nossa folha é muito reduzida, o Atlético nem ia participar do Campeonato Acreano”, completou.
Pois o Atlético foi na cara e na coragem. E o resultado saiu melhor que a encomenda: campeão estadual após 25 anos e vaga garantida na Série D. O Galo foi para a competição nacional com uma folha salarial inferior a R$ 30 mil. Um dos adversários na primeira fase, o Nacional, do Amazonas, tinha uma folha pelo menos dez vezes maior.
Mas o pilar do entrosamento fez a diferença. O Atlético manteve a base e atropelou os adversários na fase inicial. Em meio ao sucesso, o elenco ainda sofreu um triste abalo: um dos destaques do time, o meia Josy, sofreu uma tentativa de homicídio ao ser baleado na perna nas dependências do clube. “Nós ficamos muito tristes. Eles consideram o Josy como um irmão. Mas eu disse que eles foram criados pra jogar futebol sob qualquer situação”, disse Miguéis.
E os seus comandados responderam à altura. No primeiro jogo do mata-mata, uma vitória arrasadora por 13 a 1 no agregado contra o Náutico de Roraima. Nas oitavas, o time arrancou um empate em 1 a 1 com o Princesa do Solimões em Manacapuru, no Amazonas, no último domingo (14). Um empate sem gols ou vitória por qualquer placar jogando em casa, em Rio Branco, garante a passagem para as quartas de final. É a última fase a ser superada para comemorar o acesso à Série C.
Jogar em casa é a arma do Atlético para avançar às quartas de final. Foto: Divulgação/Atlético Acreano
Com o sucesso nacional, Miguéis espera que este seja o primeiro passo para atrair mais investimentos ao futebol acreano. “Como não existe apoio, esses meninos vão buscar outra vida, o caminho do estudo. Não dá pra depender só do futebol”, pontua o técnico. Mas apesar das dificuldades, é o futebol que pode proporcionar o capítulo mais importante da vida dos jovens acreanos. A decisão contra o Princesa é neste domingo (21), no estádio Florestão.