MANAUS – Nos últimos anos, jogadores como Giovanni Augusto, Yago Pikachu e Cicinho (ex-Santos) despontaram como talentos da cidade de Belém no futebol brasileiro. Entretanto, nenhum belenense brilha mais em nível internacional do que Charles, atacante do Málaga. Ele ainda não é devidamente conhecido no Brasil, mas faz carreira na Espanha há mais de uma década e hoje se destaca na liga em que atuam os melhores jogadores do mundo: Messi, Neymar e Cristiano Ronaldo.
Revelado na Tuna Luso, Charles joga na Espanha há onze anos. Foto: Reprodução/Málaga CF
Revelado na Tuna Luso, Charles joga na Espanha há onze anos. Foto: Reprodução/Málaga CF
O jogador revelado pela Tuna Luso é o segundo brasileiro com mais gols no Campeonato Espanhol: são 7 em 17 partidas – só fica atrás de Neymar, com 15. Às vésperas do aniversário de Belém, que completa 400 anos nesta terça-feira (12), o Portal Amazônia entrou em contato com o artilheiro na Espanha.
O impacto ao conversar com Charles é imediato. O sotaque paraense se perdeu em meio a um tom castelhano familiar para quem mora na Espanha há mais de uma década. “O sotaque já é mais espanhol que paraense. São 11 anos aqui, já tenho dupla nacionalidade”, justifica Charles.
Apesar disso, o atacante não esquece da infância em sua terra natal. “Minhas lembranças de Belém são muito boas. Tenho toda minha família aí, menos o meu filho e a minha esposa, que é portuguesa. Em junho eu levei meu filho [a Belém] para minha família conhecer e volto sempre que posso”, relatou. Charles saiu de Belém aos 16 anos para jogar no Feirense, de Portugal.
Mas a carreira de Charles na Europa decolou mesmo na Espanha. Ele saiu do Feirense para jogar no Pontevedra, onde atuou por seis anos. De lá rumou para o Córdoba, onde rapidamente se destacou e foi contratado pelo Almería. Em 2013, o paraense deu o maior salto da carreira: foi contratado pelo Celta de Vigo, clube da primeira divisão espanhola, após fazer 32 gols pelo Almería que levaram o time de Andaluzia à elite. Na atual temporada, Charles assinou com o Málaga e já é o artilheiro isolado do time.No sangue
A família de Charles respira futebol. Ele possui dois primos que jogam profissionalmente e o pai foi jogador de Remo e Paysandu. Aliás, no início da carreira, o ainda garoto Charles também sonhava em jogar por um time grande do Pará. “Eu tinha vontade de jogar em um dos dois, mas nunca tive amor por um ou outro. Tenho amigos dos dois times e são clubes com grandes torcidas”.
Apesar da carreira consolidada, Charles admite que enfrentou dificuldade de adaptação na Europa. “Meu primeiro ano em Pontevedra foi muito complicado. A língua é outra e eu não sabia falar castelhano, mas hoje falo perfeitamente. É difícil um jogador do Norte viver na Europa, sobretudo pelo idioma. Mas qualquer um que tenha força de vontade pode conseguir”, opinou.
Charles marcou sete dos 13 gols do Málaga no Campeonato Espanhol. Foto: Reprodução/Málaga CF
Charles marcou sete dos 13 gols do Málaga no Campeonato Espanhol. Foto: Reprodução/Málaga CF
O atacante crê que faltam oportunidades para mais atletas de Belém jogarem no futebol europeu. “Na minha época eu joguei com ótimos jogadores na base em Belém. Os jogadores paraenses podem jogar em qualquer liga, não só na Espanha. O problema é que as oportunidades são poucas para quem é do Norte e não dão visibilidade pra gente”, lamentou.Artilharia e seleção brasileira
‘Xodó’ da torcida, Charles comemora a boa fase no Málaga. “Essa é minha terceira temporada na primeira divisão. Joguei em quase todos os jogos e minha adaptação ao clube foi muito boa. A torcida teve um carinho especial comigo desde que cheguei. Espero ajudar minha equipe a subir ainda mais na tabela”. O Málaga atualmente é o 11º colocado na liga espanhola.
Aos 31 anos, Charles sabe que pensar em seleção brasileira é quase uma utopia, mas não perde as esperanças. “É um sonho. Eu saí [do Brasil] muito novo, as pessoas não me conhecem. Meu nome tá aqui na Europa e por isso acho complicado. Já tenho 31 anos, sou realista. Mas quem sabe alguém da seleção venha ver um jogo do Málaga e eu arrebente”.
Por fim, o artilheiro belenense também parabenizou a capital paraense pelos 400 anos. “Quero parabenizar nossa cidade maravilhosa e agradecer meus amigos e minha família. Logo estarei aí pra matar a saudade deles e do nosso açaí”.