Turismo sustentável é trabalhado em painéis da Glocal Amazônia 2025

Os debates do último dia da Glocal Amazônia 2025 reuniram informações sobre os processos sustentáveis implementados em diversos setores para impulsionar o turismo na região, como acontece em Parintins (AM).

Foto: Diego Oliveira/Portal Amazônia

O último dia da Glocal Amazônia em Manaus (AM), realizado neste sábado (30), trouxe à tona os desafios e oportunidades de impulsionar o turismo na região amazônica. No primeiro painel do dia, o foco foi no planejamento urbano sustentável.

O debate, intitulado ‘Impulsionando o Turismo – Urbanização e Desenvolvimento Aliados à Sustentabilidade’, reuniu representantes de instituições públicas e privadas, além de especialistas engajados na disseminação da cultura local.

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Mediado por Isaque Souza, professor da Universidade Estadual do Amazonas (UEA), o encontro contou com a presença do secretário de Meio Ambiente, Eduardo Taveira; da representante da Embratur, Roselene Medeiros; da superintendente do Iphan, Beatriz Calheiro; e da integrante do Amazonas Cluster de Turismo, Vanessa Mariana.

“O turismo sustentável precisa estar no centro do planejamento urbano da Amazônia, considerando a riqueza socioambiental da região e o bem-estar das comunidades”, destacou Souza na abertura do painel.

glocal amazônia 2025 - turismo
Foto: Diego Oliveira/Portal Amazônia

Eduardo Taveira ressaltou os principais desafios enfrentados para desenvolver o turismo na região. Segundo ele, a infraestrutura, a logística e os custos de acesso às comunidades ainda são barreiras significativas.

“Temos trabalhado nas unidades de conservação para fortalecer o turismo de base comunitária, promovendo capacitação e investimentos. Após dez anos de aprendizados, já conseguimos incluir o turismo como uma cadeia produtiva importante em áreas como o Rio Negro, Mamirauá e São Sebastião do Atumã, onde a atividade hoje representa a principal fonte de renda das comunidades”, afirmou.

Roselene Medeiros, da Embratur, reforçou que a experiência turística na Amazônia precisa estar profundamente ligada à sustentabilidade:

“O viajante moderno busca vivências autênticas, contato real com a floresta e com as comunidades. Temos exemplos exitosos de hotéis de selva e embarcações sustentáveis, muitos apoiados por instituições como a Fundação Amazonas Sustentável [FAS], que hoje são geridos pelos próprios comunitários. Não há como dissociar turismo de sustentabilidade”.

Foto: Diego Oliveira/Portal Amazônia

Patrimônio Cultural e COP 30

A superintendente do Iphan, Beatriz Calheiro, destacou a importância de alinhar preservação e turismo. “É possível integrar patrimônio cultural, geração de renda e sustentabilidade. Sítios arqueológicos, patrimônios edificados e bens materiais podem impulsionar o turismo quando se garante que os benefícios também cheguem a quem vive nesses territórios. Se o turismo respeita o patrimônio, todos ganham — comunidades, visitantes e a própria região”, observou.

Vanessa Mariana, representante do Amazonas Cluster de Turismo, lembrou que eventos globais como a COP 30 serão oportunidades decisivas para fortalecer o turismo sustentável na região.

“É preciso aproximar as instituições da sociedade civil, ouvir diferentes vozes e transformar ideias em projetos. Urbanização, turismo e desenvolvimento precisam caminhar juntos para gerar crescimento econômico sem perder de vista a preservação ambiental”, afirmou.

O painel reforçou a visão de que a Amazônia tem potencial para ser referência em turismo sustentável, combinando valorização cultural, planejamento urbano responsável e geração de renda para as comunidades locais.

Turismo de experiência e sustentabilidade na Amazônia

Ainda no sábado (30), a Glocal Amazônia promoveu o painel ‘O Brasil que o Mundo Quer Visitar: Turismo de Experiência e Sustentabilidade’, que reuniu novos especialistas, representantes do poder público e empreendedores para debater os rumos do turismo na região amazônica e seus impactos no desenvolvimento sustentável.

O painel foi marcado por reflexões sobre como transformar a visita à Amazônia em uma experiência significativa para o turista, sem perder de vista a preservação da natureza e a valorização das comunidades locais.

Cristiane Barroncas, professora da Universidade Federal do Amazonas (UFAM), destacou a importância da integração entre universidade, poder público e iniciativa privada.

“O painel traz reflexões sobre qual é o turismo que estamos construindo na Amazônia. Será que as pesquisas que vêm sendo desenvolvidas estão de fato contribuindo para mudar o cenário? Esse diálogo é essencial”, pontuou.

Diretamente do município de Maués, Ítalo Michiles, da Experiência Mawê, reforçou que a Glocal abre espaço para que realidades do interior do estado sejam conhecidas.

“O turismo é uma alavanca que movimenta toda a economia local. Precisamos mostrar o que cada município tem a oferecer. Muitas vezes recebemos mais visitantes de fora do que de Manaus ou das capitais da região. O interior precisa ser descoberto também por quem está mais perto”, afirmou.

Com duas décadas dedicadas ao tema, Mariana Madureira, do projeto Raízes Desenvolvimento Sustentável, lembrou que o turismo responsável deve valorizar a sociobiodiversidade. “A gente precisa usar os biomas, a ancestralidade e a cultura exuberante do Brasil para construir um diferencial. Mostrar esse Brasil é também uma forma de conservar a natureza e a cultura”, disse.

Foto: Francisco Cabral

A secretária de Turismo de Parintins, Karla Viana, trouxe a experiência do município que se torna mundialmente conhecido durante o Festival Folclórico. “Recebemos o dobro da população da ilha nessa época. É um destino de grande orgulho, mas que precisa ser tratado com cuidado. O turismo de massa exige estratégias de sustentabilidade, e já começamos esse trabalho, embora ainda seja um início que precisa ser ampliado”, declarou.

Representando a Secretaria Estadual do Meio Ambiente (SEMA), Cristiano Gonçalves ressaltou o potencial das unidades de conservação para atividades turísticas. Ele apresentou iniciativas em andamento, como o turismo de pesca esportiva e o turismo de base comunitária na RDS Uatumã.

“Essas práticas são operadas pelos próprios moradores e mostram como é possível unir conservação ambiental, geração de renda e experiência diferenciada para o visitante. Precisamos chamar mais turistas para conhecer as riquezas da Amazônia”, destacou.

‘Uma Parintins mais Sustentável’

E falando em Parintins, o último painel colocou no centro do debate a ilha tupinambarana e seu maior símbolo cultural: o Festival Folclórico dos bois-bumbás Caprichoso e Garantido. Com o tema ‘Uma Parintins mais Sustentável’, a discussão mostrou como turismo, cultura e meio ambiente precisam caminhar lado a lado no presente e no futuro da cidade.

O painel foi mediado por Malu Sevieri, Head da Glocal na Dream Factory, que ressaltou a importância de enxergar o festival como uma vitrine da Amazônia para o mundo. “Parintins é um dos pilares da cultura e turismo da região amazônica, mas não podemos pensar nisso sem sustentabilidade. A cada visita, levamos aprendizados para casa e repensamos nossos hábitos”, destacou.

Quem abriu o debate foi a secretária municipal de Turismo de Parintins, Karla Viana Ferreira, apresentando dados sobre os avanços da cidade. Entre as ações citadas, estão a ampliação do uso do triciclo como transporte sustentável durante o festival, a coleta seletiva implantada desde setembro de 2024 e projetos inovadores como a destinação de resíduos das agremiações Caprichoso e Garantido para a produção de móveis e roupas, em parceria com o Sebrae.

“Trabalhamos para implantar uma Parintins do Futuro, onde o turismo seja consciente e preserve nossa cultura”, afirmou.

Foto: Diego Oliveira/Portal Amazônia

Na sequência, Fabrícia Arruda, secretária executiva adjunta de Gestão Ambiental da Sema, apresentou o projeto ‘Recicla, Galera’, que há quatro anos atua no município em conjunto com a associação local de catadores. O programa promove educação ambiental, logística reversa e descarte adequado dos resíduos gerados durante o festival.

“O Festival Folclórico é um dos maiores a céu aberto do mundo e gera um volume expressivo de resíduos. Nosso trabalho é dar a destinação correta e, principalmente, conscientizar moradores e visitantes”, explicou.

Quem produz o festival também esteve presente no debate. Rivaldo Pereira, diretor de eventos do Garantido, reforçou o compromisso da agremiação com a causa. “Hoje temos no galpão pessoas dedicadas a separar e reciclar resíduos das alegorias e fantasias. É uma honra mostrar que a cultura pode caminhar junto com a sustentabilidade e servir de exemplo para o nosso povo”, disse.

Encerrando a programação da Glocal Amazônia 2025, o painel evidenciou que Parintins é mais que um festival: é uma oportunidade de repensar práticas, inspirar mudanças e colocar a sustentabilidade como protagonista do desenvolvimento cultural e turístico da Amazônia.

Glocal Experience Amazônia 2025

A Glocal Experience Amazônia 2025 é idealizada e operada por DreamFactory, com realização da Fundação Rede Amazônica e tem o apoio de Bono Conta, Clube POP, Amazônica Net, Águas de Manaus, Agência Amazonense de Desenvolvimento Cultural (AADC), Secretaria de Estado do Meio Ambiente (Sema) e Governo do Amazonas.

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