O responsável pela ópera no Amazonas Foto: Diego Andreoletti/Amazon Sat

Criado em 1997, o Festival Amazonas de Ópera (FAO) surgiu para impulsionar a cultura na Amazônia ao promover o teatro e a música clássica na região. Em 2025, na sua 26ª edição, o Festival Amazonas de Ópera mostra que se consolidou como um dos maiores festivais de ópera da América Latina.
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Um dos responsáveis pela projeção do festival para o mundo também é o responsável por conduzir a orquestra: o maestro. De origem italiana, a palavra maestro significa “mestre” ou “professor”.
Com mais de 40 anos de experiência com óperas pelo mundo todo, Luiz Fernando Malheiro é modesto ao se referir a si mesmo como maestro: “aqui a gente usa o termo maestro, mas no resto do mundo, ‘maestro’ quer dizer professor. Não me sinto professor”.

Natural de São Paulo, Malheiro é um dos mais importantes nomes do Festival Amazonas de Ópera. Residente há mais de 20 anos da cidade de Manaus (AM) – o que inclusive lhe concedeu o título de Cidadão Amazonense pela Assembleia Legislativa do Amazonas (ALEAM) – é diretor artístico e regente da Orquestra Amazonas Filarmônica, além de atuar na produção e execução de grandes espetáculos da música clássica.
Contudo, sua história com a música iniciou anos antes de vir parar na “Paris dos Trópicos”.
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A trajetória do maestro
Luiz Malheiro conta que seu primeiro contato com a ópera foi ainda na infância.
“Eu comecei a conhecer ópera quando eu tinha 12 anos, quando um primo do meu pai, que nem gostava de ópera me levou ao teatro para assistir uma ópera e dali pra frente eu fiquei fanático. Depois eu fui para a Europa estudar, consegui uma bolsa de estudos para Polônia, fui estudar na Academia de Música de Cracóvia”, relata.
Depois da Polônia, passou três anos na Itália e retornou ao Brasil. “Tive chances de ficar lá trabalhando, mas não adianta: Brasil é Brasil e eu não tive vontade de ficar morando fora”, acrescentou.
Estreou como Regente no Theatro Municipal de São Paulo em 1983 e, em 1993, quando retornou ao Brasil, continuou lá até 1997.
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O primeiro contato com Manaus
Em 1997, Malheiro regeu uma ópera em Sófia, na capital da Bulgária. A ópera era ‘Fosca’, de Carlos Gomes. Essa produção veio para o Brasil e, mais especificamente para o Teatro Amazonas. O ano de 1998 representou a primeira vez que o maestro regeu na capital amazonense.
“Quando eu entrei aqui [Teatro Amazonas] fiquei completamente maravilhado e pensei “Meu Deus! Que legal seria reger aqui mais frequentemente!”. Mal sabia eu, que viria para cá anos depois e ficaria até hoje. Isso foi em 1998 e o Festival Amazonas de Ópera havia sido fundado em 97. E a Orquestra Amazonas Filarmônica também foi criada em 1997”, comenta de maneira saudosista.
Em 1992, o maestro foi convidado por Robério Braga, então secretário de cultura do estado, para ser diretor artístico do FAO.
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Evolução do Festival
Malheiro pontua que houve uma evolução muito significativa do Festival e até a maneira como se consolidou mundo afora. Segundo ele, o FAO começou com “uma coisa um tanto quanto exótica”, mas se consolidou no calendário de eventos do estado como um dos principais eventos culturais devido a qualidade do que é produzido na região.

“Hoje, na sua 26º edição, ele é o maior festival de ópera da américa latina, é reconhecido no mundo todo como um evento super importante culturalmente pela qualidade do que é feito aqui. Nós temos a melhor orquestra de ópera do país, coral profissional e nós trazemos cantores excelentes, maestros, diretores de cena”, afirma.
O regente separa a história do Festival em dois momentos: antes e depois de 2005. Para ele, nesse ano, ocorreu o que para ele foi o momento mais marcante para a história do festival:
“O momento mais marcante até hoje foi em 2005 quando a gente fez o ciclo completo do Anel do Nibelungo de Richard Wagner, que é um ciclo de quatro óperas com mais de 16 horas de música. Poucos teatros fazem e no Brasil nunca tinha sido feito e nós fizemos aqui em 2005, atraindo público do mundo inteiro. Wagner é um compositor que desperta um certo fanatismo e tem grupos de apaixonados por Wagner no mundo todo, na Alemanha, Estados Unidos, Áustria e vários grupos desses vieram ao Brasil assistir esse ciclo. Nós fomos capa do The New York Times por causa desse ciclo. E esse ciclo do anel pra mim foi o grande divisor de águas”, relembra. A matéria pode ser lida AQUI mediante inscrição no site do jornal internacional.
Capacitação local
Outro ponto ressaltado pelo maestro foi a capacitação, ao longo dos anos, de músicos e profissionais que “fazem o Festival acontecer”. Atualmente, cerca de 85% de quem trabalha no FAO é amazonense, tanto no aspecto artístico – músicos, cantores, diretores – quando do lado da cenotécnica, costureiras, figurino, maquiagem, visagismo e iluminação.
“Quando a Filarmônica foi criada, vieram muitos músicos do exterior, do leste europeu pra formar essa orquestra, porque o governo entendeu que precisava ter essa orquestra de nível internacional. E esse pessoal que veio, começou a dar aula imediatamente. Então, quando a orquestra foi formada, tínhamos apenas dois músicos amazonenses. Hoje temos mais de 20. Jovens que começaram a estudar e que se profissionalizaram, todos fizeram universidade e aprenderam com esses músicos professores que vieram da Europa. Muitos até tocam em outras orquestras pelo Brasil e mundo afora”, pontua.

Segundo ele, em 2025 foi o primeiro ano que não houve a necessidade de trazer cenotécnicos: “Estamos usando a turma do Jander Lobato, que é quem ‘faz’ Parintins, o carnaval, que constrói aqueles maravilhosos carros alegóricos”.
Relação com Parintins
Para ele, o Festival Amazonas de Ópera e o Festival de Parintins são dois eixos culturais de extrema importância para o Brasil, de maneiras diferentes. O Boi-bumbá, para ele, representa a figura do folclore; e a ópera, a música erudita. Malheiro afirma com convicção que esses dois eventos projetaram o Amazonas internacionalmente de maneira positiva.
Ele acrescenta que isso também ocasiona em uma promoção do turismo, pelo fato das pessoas buscarem conhecer o estado também com outros interesses: por passeios, pela culinária, pela natureza. E conclui: “não há outro lugar melhor para reger que o Amazonas”.
“Eu continuo regendo em outros teatros, não só no mundo, mas no Brasil, como Rio e São Paulo. E eu digo com a maior clareza: jamais teríamos feito o que fizemos aqui em qualquer outro teatro brasileiro. Os funcionários do teatro, os técnicos, os maquinistas, os cenógrafos, o pessoal que trabalha na CTP [Central Técnica de Produção], todos vestem a camisa do festival, não tem hora, não tem sindicato, todo mundo se entrega, veste a camisa e trabalha com amor. É fácil você andar pelos bastidores e ver o pessoal cantarolando os temas da ópera e isso é muito diferente do que acontece nos outros teatros brasileiros. Essa energia que vem da natureza, eu acredito, essa energia do amazonense é muito importante e continua sendo um diferencial para o Festival ter se tornado o que se tornou”, finalizou.
Ópera em Rede
O Ópera em Rede é um projeto que tem como objetivos democratizar o acesso à música lírica e a valorização da cultura amazônica, realizado pela Fundação Rede Amazônica (FRAM), com o apoio de: Agência Amazonense de Desenvolvimento Cultural (AADC), Secretaria de Cultura e Economia Criativa do Amazonas (SEC-AM), Governo do Amazonas e Amazônica Net.