O cantor de ópera Josenor Rocha. Foto: Layana Coelho/Amazon Sat

Quando o Festival Amazonas de Ópera (FAO) estreou, no ano de 1997, grande parte dos músicos e dos profissionais responsáveis pela realização do evento eram de fora do Amazonas.
Com o decorrer das edições, projeção do festival para o resto do mundo e um intenso processo de capacitação profissional, através, por exemplo, do Liceu de Artes e Ofícios Cláudio Santoro – uma das primeiras escolas públicas da região Norte do país – em 2025, cerca de 85% da mão de obra do Festival é local.
Uma das áreas mais essenciais na realização da ópera é, claro, a musical. E um dos pioneiros na ópera do Amazonas é o cantor de ópera e decano Josenor Rocha, que há 40 anos faz parte do Coral do Amazonas.
Hoje, além de ser um dos membros mais antigos do Coral – por isso o termo decano – Rocha é o fundador e atual presidente da Academia Amazonense de Música.
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Paixão pelo canto lírico
Tudo começou a 523 quilômetros de distância da capital amazonense, pois Josenor é natural de Tefé. Ele conta que teve seu primeiro contato com o canto lírico na igreja da cidade, mais especificamente na Paróquia Santa Teresa.
“Quando eu ia à missa, tinha um padre, Antônio Maria Jansen, hoje já falecido, ele era holandês e cantava bastante, tinha uma voz muito bonita, era um cantor lírico. Ele foi para Tefé ainda jovem e eu tinha 6 anos de idade. Ia para a missa com minha família e ficava ouvindo as missas dele e os cânticos. Na minha mente, ainda com 6 anos, pensava, um dia vou cantar que nem esse padre. E ali surgiu minha paixão”, relembra.

Em 1978, Josenor se mudou para Manaus, estudou na então Escola Técnica Federal do Amazonas (ETFAM) e foi descoberto pelo Maestro Nelson Eddy de Menezes no início dos anos 80. “Foi ele quem me convidou para cantar no Teatro Amazonas, depois fui para São Sebastião [São Paulo] e conheci o Frei Fulgêncio, que me mandou para Bolonha, na Itália, estudar canto lírico”, complementa.
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Estreia na ópera
Depois dos estudos de canto lírico na Europa, Josenor teve sua estreia em uma ópera na segunda edição do Festival Amazonas de Ópera.
“Minha estreia mundial no Festival de Ópera foi em 1998, já no segundo festival. Minha primeira ópera foi ‘Alma’, uma ópera extremamente difícil e que depois eu repeti, no ano de 2019 cantei novamente”, conta.
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Conexão com o Festival
Outro elo com o FAO é que, em 2025, Josenor interpreta o mesmo personagem que fez há 20 anos: Antônio, o jardineiro, em ‘As bodas de Fígaro’. Ele ressalta a importância da junção do teatro com a música para dar vida a um personagem.

“É personagem que tem que ter uma expressividade e tem que ter também uma parte teatral que exige muito. E, como eu sou ator também, minha carteira é registrada como ator, isso facilita muito quando você é um cantor de ópera, porque ser cantor de ópera não é só cantar, é representar. Todo mundo aqui [de ‘As bodas de Fígaro’] fez curso de Teatro. Isso conta muito”, acrescenta.
Dificuldades no caminho
Com emoção, ele também lembra dos momentos de dificuldade e confessa: no início da carreira, pagou diversas vezes para poder cantar.
“A ópera faz parte da minha vida. A música está em mim. Eu tenho 58 anos e são mais de 40 anos que eu faço isso. Sou do coro do teatro e falar disso é difícil porque eu tive que largar muita coisa na minha vida, passei por muitas dificuldades e eu digo: hoje eu sou um cantor de ópera, sou um artista. Mas para chegar a isso eu paguei para cantar. Muitas vezes eu vinha pra cá pro teatro, minha mãe não tinha dinheiro, eu vinha caminhando lá do São Lázaro [bairro de Manaus] a pé para cantar no Teatro Amazonas”, revela.
Ele ressalta a importância da educação no processo de formação artística, com cursos nas universidades estadual e federal do Amazonas, o Liceu Cláudio Santoro e diversas outras ‘portas’ que foram abertas com o decorrer do tempo.
“O Amazonas hoje é o celeiro da ópera no Brasil, ouso dizia na América do Sul, porque o festival de ópera é conhecido mundialmente. E nós estamos, inclusive, fazendo um fórum também, eu gostaria que fosse um fórum de ópera que estamos programando, porque a gente não quer só ficar no festival de ópera, os cantores de ópera precisam também ter, não só o festival, mas criar outros meios onde eles possam também aparecer, porque você tem que aparecer, o artista tem que aparecer, tem que ser visto. Como diz aquele ditado: “quem não é visto não é lembrado””, finalizou.
Ópera em Rede
O Ópera em Rede é um projeto que tem como objetivos democratizar o acesso à música lírica e a valorização da cultura amazônica, realizado pela Fundação Rede Amazônica (FRAM), com o apoio de: Agência Amazonense de Desenvolvimento Cultural (AADC), Secretaria de Cultura e Economia Criativa do Amazonas (SEC-AM), Governo do Amazonas e Amazônica Net.