Foto: Diego Andreoletti/Amazon Sat
Considerada um gênero artístico teatral que consiste em um drama acompanhado de música clássica, a ópera foi criada no final do século XVI e combina vários elementos como: teatro, canto e artes visuais.
E, nas artes visuais, encontra-se um aspecto essencial para a montagem de uma ópera: a cenografia. No Festival Amazonas de Ópera (FAO), considerado um dos maiores da América Latina, cerca de 60 pessoas são responsáveis pela construção cenográfica do espetáculo.
E quem assina a cenografia deste imponente evento, que já faz parte do calendário de programação cultural do Amazonas, é a cenógrafa ítalo-brasileira Giorgia Massetani. Apesar de não ser natural da região amazônica, Giorgia possui relação com a arte local há mais de uma década.
Trajetória: do universo infantil ao lírico
Formada em Cenografia pela Accademia di Belle Arti di Firenze, na Itália, Massetani se especializou em técnicas plásticas para cenografia teatral.
O início de sua carreira como cenógrafa foi no teatro infantil, com a companhia Vieni Tela Racconto. Ainda na Itália, trabalhou no ABC Festival.
Seus primeiros contatos com a ópera de fato ocorrem no Musicale Fiorentino, um evento musical que ocorre anualmente em Florença, na Itália; e no Festival Pucciniano de Torre del Lago, dedicado exclusivamente à obra de Giacomo Puccini.
Referências “físicas”
Para a produção de cenários para grandes festivais, como o FAO, Giorgia conta que gosta de mesclar referências de cunho acadêmico, literário e de imagens.
“Eu gosto tanto de procurar e pesquisar no digital, quanto poder ter uma proximidade com uma pesquisa mais bibliográfica, com livros físicos. Para mim, é muito importante ter a possibilidade de fazer pesquisa através de um acervo físico, não somente o digital, que é, sim, interessante, mas também poder ir numa biblioteca, pesquisar na minha própria biblioteca pessoal e poder encontrar as imagens que vão formando os cenários, faz parte do meu processo de pesquisa”, pontua Massetani.
Chegada à Amazônia
Mas como ela chegou à Amazônia? A vinda de Giorgia para Manaus, como cenógrafa, aconteceu no ano de 2012, quando participou pela primeira vez do Festival Amazonas de Ópera. Na época, ela atuava como assistente de cenografia para o Atelier La Tintona, na Ópera ‘Lulu’.
Desde então, segue contribuindo para a realização do festival e, em 2025, assina como cenógrafa principal. Além disso, também é coordenadora da Central Técnica do Theatro São Pedro, em São Paulo (SP).

Trabalho em conjunto
A cenografia da ópera tem o objetivo de criar um ambiente visual e simbólico da narrativa, situar o público que assiste ao espetáculo o tempo e espaço da história, aspectos como a época, localidade e cultura.
Tudo isso é montado por meio de iluminação, elementos móveis, painéis e estruturas cênicas de modo geral que conectam a música com a dramaturgia do FAO.
Giorgia ressalta a importância do trabalho em equipe e como todas as áreas responsáveis pela cenografia precisam estar em harmonia:
“São muitas [pessoas] e importantíssimas. Cada um dos profissionais tem uma função essencial no nosso processo de confecção. Ao todo, são cerca de 60 profissionais. Isso porque temos diferentes áreas que são fundamentais para a confecção do cenário e também que depois elas irão estar num processo da montagem nos dias em que haverá o espetáculo”, explica.

E acrescenta, pontuando quais são os profissionais que fazem parte dessa construção.
“São profissionais que estão desde a confecção até a ópera em si. Temos pintores, escultores, aderecistas, tapeceiros, costureiros, que não são somente costureiros da parte da área de figurino, mas na confecção de cortinas, tapeçaria dos objetos cênicos. Temos também pintores, serralheiros e marceneiros. Todos eles são pessoas que, ao longo desses 26 anos, foram sendo capacitados e geraram um profissionalismo muito potente ao Festival”, afirmou.
Os desafios de criação, técnicos e logísticos também existem. Giorgia relata que frequentemente auxilia a equipe na busca de soluções ou para desenvolver alternativas para problemas encontrados em alguma parte do processo.
“Desenvolver, criar e relacionar todos os processos é um trabalho complexo porque somos pessoas todas muito diferentes. Cada uma tem seu processo, então temos que ter muita delicadeza, paciência, para conseguir trabalhar em harmonia. Isso é um desafio muito grande, às vezes não é fácil, porque também tem o cansaço, para que esse espetáculo surja e fique bonito e funcional. Mas a magia do teatro é muito potente, então na maioria das vezes dá muito certo e o Festival acontece da melhor forma possível”, finaliza.
Ópera em Rede
O Ópera em Rede é um projeto que tem como objetivos democratizar o acesso à música lírica e a valorização da cultura amazônica, realizado pela Fundação Rede Amazônica (FRAM), com o apoio de: Agência Amazonense de Desenvolvimento Cultural (AADC), Secretaria de Cultura e Economia Criativa do Amazonas (SEC-AM), Governo do Amazonas e Amazônica Net.